Um banho de bola. Literalmente. Numa tarde de chuva copiosa, a maior torrente não foi de água ¿ foi da equipa da casa. O Paços de Ferreira deu esta tarde uma grande lição de bem jogar: um exemplo de motivação e arreganho, à atenção de treinadores, jogadores e adeptos do futebol em geral. A atitude já tinha sido elogiada noutras jornadas, mas hoje a coisa saiu particularmente bem. O relvado estava quase impraticável, mas a vontade pacense foi mais forte. O 4-2 final foi um resultado escasso para a diferença de qualidade que se verificou dentro do terreno. 

Cedo se percebeu que o Paços se ia dar melhor com as péssimas condições do terreno. Com o passar dos minutos, o temporal ia ficando cada vez mais impiedoso. As jogadas eram cortadas por lençóis de água, a lama atrapalhava os rasgos técnicos dos mais dotados. Mais do que o virtuosismo, pedia-se força e capacidade de sacrifício. E ambas estiveram do lado pacense. Mais uma vez, a equipa de José Mota provou ter características que, em conjunto, lhe conferem uma grande solidez: um meio-campo musculado e com um excelente andamento; algumas unidades que fazem a diferença (Rafael, sobretudo); e uma coerência global do seu jogo, que lhe permite um grande equilíbrio entre os sectores.  

O Braga foi apanhado de surpresa. Não contava, primeiro, com um campo tão impraticável, e não contava, sobretudo, com um Paços assim tão forte. Num deserto de ideias bracarenses, só Fehér - pela capacidade concretizadora uma vez mais revelada - e Luís Filipe - pelos pozinhos de arte num terreno tão pouco propício a magia - merecem elogios. É certo que os bracarenses tentaram, no segundo tempo, dar um ar da sua graça, mas o 3-0 ao intervalo já tinha decidido o vencedor da partida. 

Alguém falou em... temporal?  

A primeira parte do Paços foi impressionante. O ritmo imprimido pelos pacenses foi de tal modo intenso que nem parecia que a equipa da casa estava a actuar num terreno tão mal tratado pela chuva intensa que insistia em cair. Indiferentes ao temporal, os pacenses exibiam os seus dotes. Quatro jogadores destacaram-se nesse desfile de bem jogar: Rafael, Everaldo, Beto e Paulo Vida. O primeiro abriu as hostilidades quando, numa jogada individual, aproveitou uma brecha na defesa bracarense e inaugurou o marcador.  

Ainda à procura da estratégia adequada às condições do terreno, os bracarenses quase nem tiveram tempo para pensar. O ascendente atacante dos pacenses voltou a fazer efeito pouco depois. Rafael e Paulo Vida começaram a jogada, Beto concretizou-a: 2-0. 

Algo estava mal no Braga - isso era óbvio. Mas o drama de Cajuda foi não ter como resolver o problema. Pura e simplesmente, os andamentos eram diferentes. A ausência de Tiago ao lado de Barroso teve as suas consequências: Castanheira, um jogador virtuoso e lutador mas pouco possante, teve muitas dificuldades com o terreno. Resultado: as bolas não chegavam a Edmilson e a Riva, que hoje foram duas unidades-fantasma. Só Luís Filipe marcou alguns pontos, mas sozinho não poderia inverter tão forte tendência.  

Esta lacuna no meio-campo bracarense foi fatal para os arsenalistas. Nitidamente mais equilibrado, o Paços assentava o seu jogo nas quatro unidades acima referidas e completava-se numa defesa segura, ainda que com pouco fazer.  

Sinais tardios de recuperação  

Ao intervalo, o jogo estava decidido. 3-0 era desequilíbrio a mais para um Braga ainda tonto com tamanho banho (de água e de... bola) que levou na primeira parte. Mas os bracarenses não quiseram fazer o papel da vítima e merecem uma nota de destaque pela forma como encararam a segunda parte.  

As alterações de Cajuda acabaram por surtir os seus efeitos. A necessidade de reforçar o seu meio-campo teve a sua resposta. Luís Miguel e Tiago deram mais connsistência ao jogo bracarense. Mas foram sinais tardios de recuperação. Fehér ainda assustou os pacenses, ao fazer o 3-1, mas o Paços nunca perdeu, verdadeiramente, o controlo da situação. 

Os dois golos nos últimos minutos (um para cada equipa) deram ainda mais sal a um jogo que valeu pela forma como foi vivido e disputado pelos dois conjuntos. Perante condições atmosféricas terríveis, um 4-2 entre duas boas equipas, como são o Paços e o Braga, fica bem a este campeonato.