A Premier League ainda tem um problema com a bebida. Na realidade, é mais a cultura futebolística inglesa que, mesmo não sendo como antes, continua ter resquícios de algo que vem desde há muito tempo. Nem mesmo a glamourosa mudança da 1st Division para a Premier League acabou com um problema antigo e demasiado enraizado entre futebolistas.

George Best nos anos 60 ou Robin Friday – o homem que era sexta-feira à noite – nos anos 70 foram grandes exemplos de talento caído em desgraça pela bebida. A cultura de pub prevaleceu pelos anos 90 e passou para o século XXI. Jack Grealish foi, agora, filmado numa saída à noite. Apesar de o jogador do Manchester City parecer ser apenas culpado de excesso de diversão – como Guardiola apontou -, trouxe à recordação de que outros jogadores já protagonizaram cenas lamentáveis e envergonharam clubes e liga.

Muitos dos mais famosos jogadores da Premier League já passaram por programas de reabilitação, o último a admitir o problema foi Wayne RooneyTony Adams até sensibiliza os mais jovens para a questão, porque, como se pode ver de seguida, já houve demasiados episódios, hilariantes para quem lê ou ouve, mas verdadeiramente identificativos do problema.

A ironia de se chamar Drinkwater

Danny, “Danny boy”… Não se podia começar de forma mais irónica. O apelido que diz beber água fez precisamente o contrário. Em mais do que uma ocasião. Produto da formação do Manchester United, Drinkwater passou por vários empréstimos até que se estabeleceu no Leicester, mas foi já como jogador do Chelsea, em 2019, que enfiou o carro contra uma parede. Estava embriagado, foi a tribunal e ficou sem carta.

O estado em que ficou a cara de Drinkwater

Esse nem é o pior episódio. Nesse mesmo ano, saiu à noite em Manchester. Alegadamente, tentou “flirtar” a namorada de um colega e acabou com a cara desfeita e um tornozelo lesionado depois de ter sido agredido com violência por um grupo de seis indivíduos.

Duncan Ferguson: polícias do Liverpool e polícias do Everton

Duncan Ferguson é um desses ex-jogadores que entrou para reabilitação, depois de assumir o alcoolismo. O impressionante avançado do Everton já tinha várias entradas no registo criminal e, numa altura em que os toffees eram últimos na tabela e mudavam de treinador, o gigante escocês decidiu dar mais uma volta por Liverpool. À noite, isto é.

Era sábado e, na segunda-feira, a estreia de Joe Royle ao comando do clube trazia pela frente nada mais nada menos do que…o Liverpool FC. Nada disso incomodou Ferguson, que, palavras dele, passou o dia a beber para à noite entrar por uma estação de autocarros a dentro. Um polícia, adepto do Liverpool e ciente da personalidade que ali estava a conduzir uma bela rapariga ao hotel onde vivia, parou-o, prendeu-o e levou-o para a esquadra.

Duncan Ferguson faz agora parte da estrutura do Everton

Diz-se que alguns agentes da autoridade afetos ao Everton se aperceberam e foram-lhe dando copos de água, ao mesmo tempo que Ferguson esperava por um médico para uma análise ao sangue: tinha acusado álcool num teste preliminar. Eram já seis da manhã de domingo quando a polícia o libertou e era bem mais tarde quando o avançado escocês chegou ao hotel e tinha, ainda, a rapariga à espera.

Incrivelmente, depois de cinco jogos pelo Everton sem qualquer golo, Ferguson chegou à noite de segunda-feira e faturou: primeiro golo pelo Everton, uma assistência e vitória sobre o Liverpool.

Tornou-se um herói para os Evertonians, mas não fugiu à mão da justiça inglesa.

John Terry: a estupidez total

Não foi o único envolvido, mas isso não lhe tira culpa. Dono de uma lista de episódios polémicos, a bebida levou àquele que é, provavelmente, o incidente mais condenável de John Terry.

Logo após os ataques do 11 de setembro nos EUA, o central, juntamente com Frank Lampard, Eidur Gudjohnsen e Jody Morris decidiu ir para os copos num hotel perto do aeroporto de Heathrow. Muitos americanos ficaram retidos no Reino Unido devido aos eventos e restrições desse dia, que levou ao adiamento do jogo do Chelsea com o Levsky Sofia.

John Terry quando era capitão do Chelsea

De acordo com testemunhas, houve strip, houve vómitos e houve abuso para com os americanos no local. A estupidez total, portanto. O Chelsea negou que qualquer um dos jogadores quisesse insultar pessoas, mas o clube pegou no dinheiro das multas que impôs e doou-as a um fundo de apoio às vítimas do ataque.

Tony Adams: prisão e “xixi” na cama

Há muitos, muitos anos Tony Adams assumiu que era alcoólico. Fê-lo ainda na condição de capitão do Arsenal, no meio da década de 90. Muitos anos depois, é uma das figuras que mais luta contra o problema, através da fundação que criou, a Sporting Charity Chance. Mas foram necessários vários episódios e alertas para Adams reconhecer o problema.

«Nem quando me meteram na prisão de Chelmsford me fez deixar de beber», disse o antigo central de Arsenal e Inglaterra. Adams foi preso por quatro meses devido a um acidente em que ia a conduzir bêbedo. Nos livros que publicou, Addicted e Sober, conta também muitas das histórias de atos pouco dignos que realizou.

Tony Adams nos tempos em que treinou o Granada

«Agora posso olhar para trás e falar sobre borrar-me todo, mijar a cama, ter sexo com strippers», disse numa entrevista. Numa dessas vezes em que deixou a cama molhada, uma das empregadas do hotel terá comentado o caso e assim que Adams se juntou à equipa, o coro foi claro: «Mijão, mijão, mijão.»

Vinnie Jones à “porrada” dentro de um avião

“Bullet-Tooth Tony” era um durão na obra de Guy Ritchie, “Snatch, Porcos e Diamantes”. É uma das personagens mais famosas interpretadas por Vinnie Jones e que é o fiel espelho do que o antigo jogador do Wimbledon costuma fazer no cinema: o papel de vilão. Algo que não deve ter sido difícil para o antigo jogador do Wimbledon, um dos futebolistas mais problemáticos em Inglaterra.

Vinnie Jones: ator ou futebolista, quase sempre vilão

Entre inúmeros episódios, o galês chegou a ser condenado por agredir um vizinho de forma brutal e, embora a história que se segue tenha já sido após o final da carreira futebolística, ela é elucidativa. Num voo de Londres para Tóquio, Vinnie Jones agrediu à chapada um passageiro e, bêbedo, afirmou que podia mandar matar toda a tripulação por três mil libras. Não foi num filme, foi na vida real.

Joey Barton: a cara do colega não é um cinzeiro

Joseph Anthony Barton é, ele próprio, um problema ambulante. Quem leu a biografia do antigo jogador de Manchester City, Newcastle ou Marselha percebe a última afirmação. Nascido e criado nos subúrbios de Liverpool, e com tudo o que isso implicou, a personalidade de Barton foi ainda demonizada pela bebida.

Dos muitos episódios, um dos mais famosos é o que sucedeu numa festa de Natal do Manchester City. Com muito álcool à mistura, Jamie Tandy incendiou uma t-shirt de Barton que respondeu…apagando um charuto na cara do colega.

Joey Barton no Newcastle em nova cena menos própria

Em 2007, Barton estava lesionado e falhou o Boxing Day pelo Newcastle. Decidiu sair em Liverpool e foi detido no dia 27 de dezembro, de manhã. Uma ida ao McDonald’s terminou numa briga com Barton, embriagado, a agredir outra pessoa, e esmurrando-a repetidamente na cara. Passou o Ano Novo na cadeia.

Roy Keane vs Schmeichel

Duas figuras fortes do Manchester United a jogarem para Alex Ferguson. Keane e Schmeichel nunca foram muito à bola um com o outro, apesar de se respeitarem, mas numa noite em particular a coisa aqueceu mesmo.

O irlandês tinha um problema com o álcool e, numa digressão asiática com o ManUtd decidiu levar Nicky Butt para os copos, na véspera de embarcar rumo a novo destino. Eram duas da manhã quando a dupla chegou ao hotel. À espera estava o gigante Peter Schmeichel.

Keane foi um dos míticos capitães do Manchester United

«Estou farto de ti, vamos lá resolver isto», terá dito o dinamarquês a Keane. Os dois envolveram-se num combate de titãs, do qual Roy nem se lembrava no dia seguinte. «Disse ao Denis Irwin [colega de quarto], “acho que andei à porrada ontem à noite”, porque tinha um dedo torcido, para trás.» Foi Nicky Butt quem explicou a Keane, então, o que se passara na noite anterior.

Paul Merson na ‘Murderland’ em Washington DC

Um dos mais talentosos médios ingleses da altura, Paul Merson era uma das maiores estrelas de um Arsenal ainda na era pré-Wenger. Os problemas do internacional inglês foram assumidos numa autobiografia tão hilariante como demonstrativa do efeito do álcool, das drogas e das apostas nos futebolistas.

Numa digressão da seleção inglesa aos EUA, Merson decidiu sair do hotel em Washington DC para ir beber uns copos. Viu dois tipos prestes a andar à pancada no regresso e interpelou-os. Teve de fugir a sete pés. No dia seguinte, o FBI apareceu no hotel da equipa para avisar os ingleses dos perigos da zona, uma das mais problemáticas da capital norte-americana, ou como lhe chamou Merson a «murderland» [terra dos homicídios].

Paul Merson é hoje comentador da Sky Sports

Esse episódio precedeu o empate com o Brasil [1-1], uma igualdade que encheu de alegria a seleção britânica e Merson de sede. Nas celebrações, o médio ficou tão bêbedo que mesmo em frente ao selecionador saltou para cima de uma limusina e pôs-se a dançar para espanto de quem passava. Pelo que escreve no livro, incrivelmente Merson ficou mais envergonhado por, na paragem seguinte, em Detroit, ele, Paul Ince e John Barnes terem ido parar a um bar gay. Ignoraram o facto de o puxador da porta ser na forma de bigode, pois acharam que era uma moda americana. Diz Merson que só se aperceberam quando, dentro do clube noturno, um homem se ajoelhou perante outro.

Paul Gascoigne, Gazza, na cadeira do dentista

Se Paul Merson era talentoso e alcoólico, Paul Gascoigne era tudo isso a dobrar. Incrivelmente, também houve alguém que achou que os dois podiam não só jogar no mesmo clube como partilhar a mesma casa!

Longe do olhar público, o passatempo preferido da dupla era beber garrafas de vinho e, a cada copo que bebiam, tomavam um comprimido para dormir. Quem ficasse acordado até mais tarde era declarado vencedor e ganhava milhares de libras em apostas entre ambos.

Genial, polémico, alcoólico: Gazza

Gazza era uma figura por si só e é difícil perceber quando havia álcool à mistura ou não. Uma das cenas em que se sabe que sim é quando a seleção inglesa fez uma digressão antes do Euro96, que Inglaterra organizou. Gazza e colegas deixavam os quartos de hotel à noite e entravam em sessões de bebida. Numa delas, encontraram num compartimento uma cadeira de dentista. Gazza, claro, deitou-se nela enquanto os colegas lhe serviam o álcool diretamente da garrafa. Outros jogadores fizeram o mesmo, mas foi Gascoigne que ainda gozou com o facto, quando fez o 2-0 à Escócia num golo magnífico. Cansado da imprensa falar no mau comportamento inglês, fez a famosa celebração «cadeira de dentista».