Zinedine Zidane considerou-o «o melhor médio da sua geração». Alex Ferguson disse que é «uma inspiração para todos os jovens futebolistas». Elogios eloquentes na despedida de um dos melhores médios das últimas duas décadas. Paul Scholes decidiu dar descanso às chuteiras aos 36 anos. O Manchester United perde um dos principais artífices de grande parte dos títulos recentes, o futebol mundial fica sem um executante cristalino.

O menino de Salford primou sempre pela discrição. Homem de poucas palavras e raras explosões emocionais, Scholes entregou-se ao Manchester United e não trocou os red devils por nada. Essa foi a única camisola de clubes que o ruivo envergou ao longo de uma carreira profícua e extremamente consistente.

Tornou-se profissional em Julho de 1993 [aos 17 anos], mas teve de esperar mais de um ano até se estrear na principal equipa do United. A partir daí não mais deixou de ser influente e, tantas vezes, decisivo. Logo no primeiro ano fez cinco golos em 17 jogos. A seriedade colocada em campo e o profissionalismo demonstrado fora dele conquistaram em definitivo o exigente Ferguson.

Henrik Larsson foi colega de Scholes no United em 2006/07. O ex-internacional sueco, de origem cabo-verdiana, falou com emoção ao Maisfutebol sobre «um jogador tremendo». «Para mim, enquanto avançado, tudo ficava mais fácil em campo com o Scholes a jogar. Tinha uma precisão de passe soberba», diz um dos melhores atacantes do virar de século.

«O Paul adorava acertar com a bola em alvos vivos»

«Não tomei esta decisão levianamente. Sinto que é a altura de parar de jogar. Não sou um homem de muitas palavras, mas posso dizer honestamente que jogar futebol foi o que eu sempre fiz fazer. Foi uma honra jogar no Manchester United e um privilégio ter ajudado o clube a chegar ao 19º título da sua história.»

Paul Scholes manteve o low profile na hora do adeus. Sem espavento, sem estardalhaço, apenas uma mensagem singela e fluente. Um espelho, no fundo, daquilo que foi também o seu tipo de futebol. Atleta de baixa estatura [1,71 metros], Scholes afastou-se do protótipo britânico, mais virado para a raça e entrega do que para a excelência.

Médio omnipresente, possuidor de uma técnica refinada e de um pontapé temível. Sempre em movimento, sempre de cabeça erguida e campo de visão alargado. Foi dez vezes campeão nacional de Inglaterra, ganhou três Taças de Inglaterra, duas Taças da Liga, duas Ligas dos Campeões, uma Taça Intercontinental e um Campeonato Mundial de Clubes.

Apesar de silencioso, também gostava de brincar. Henrik Larsson fala ao nosso jornal do passatempo favorito de Scholes. «Acertar com a bola em alvos vivos nos treinos. Isso mesmo. Sempre que havia alguma paragem estávamos sujeitos a levar com uma bolada do Paul. Fiquei com muitas pisaduras por culpa dele.»

Paul Scholes é o espelho do crescimento do United nos últimos 20 anos. Scholes é uma parcela maioritária do United nos últimos 20 anos.

«Estamos todos a ficar velhos»

Também na selecção de Inglaterra Scholes foi figura primordial. 14 golos em 66 internacionalizações, um deles contra Portugal num jogo soberbo durante o Euro-2000. Participou em algumas das maiores competições de selecções, sempre com um capital de confiança inesgotável por parte dos diferentes selecionadores dos Três Leões.

«Estamos todos a ficar velhos», resume Henrik Larsson. «Temos de olhar para trás e perceber se valeu a pena. No caso do Paul Scholes acho que isso é inquestionável.» No total foram 17 temporadas em Old Trafford. 466 jogos e 102 golos. «Uma inspiração», disse Ferguson. Um exemplo, acrescentamos nós.

Grandes momentos de Paul Scholes: