Cristiano Ronaldo, Nani, João Moutinho, Pepe ou Heung-Min Son.

A lista de jogadores talentosos que Paulo Bento já treinou na carreira é longa. Mas afinal, o que é isso do talento para o antigo treinador do Sporting e ex-selecionador nacional?

«Quando falamos de talento, muita gente associa à parte técnica. É mais do que isso. É, como o Paulo [Jorge Pereira, selecionador nacional de andebol] referiu, a questão da tomada de decisão. E a tomada de decisão está também conectada com a parte defensiva do jogo, não só com a parte ofensiva», começou por dizer Paulo Bento, na 2.ª Conferência Bola Branca.

«Tomam-se muitas decisões durante um jogo, mas se pensarmos um bocadinho no tempo em que o jogador tem a bola, é muito menos do que o tempo sem bola. Todas as decisões que têm de tomar são reflexo do seu talento, como ele se mostra para poder receber a bola, o momento em que a recebe, etc. Tudo isso é talento, e temos exemplos de muitos jogadores que tecnicamente são bons, mas não olhamos para eles porque não são os mais virtuosos. Mas são extremamente talentosos», continuou.

O técnico de 53 anos reforçou depois essa ideia com o exemplo de João Moutinho: «Eu gosto mais de alcançar objetivos do que falar só de ganhar, ou conquistar títulos. Há momentos das nossas carreiras em que alcançar os nossos objetivos não significa ganhar títulos. Mas esse pode ser um pequeno título. E para alcançar objetivos é importante ter talento. E é importante ter talento entre uma mescla da vertente técnica, mas também ter vários jogadores com talento na tomada de decisão, ofensiva e defensiva, no trabalho tático. Dou um exemplo de uma das debilidades da minha carreira, que é o caso do Moutinho. Tem o talento que lhe quisermos dar: técnico, tático e emocional.»

«Não pensem que vem aí o novo Ronaldo ou o novo Messi»

Além do talento, Paulo Bento defende que é também preciso o trabalho para se ganhar no desporto de hoje em dia. Nessa vertente, o treinador português elogia a mentalidade sul-coreana, em que orientou a seleção desse país no último Mundial.

«Na Coreia do Sul encontrei um contexto que não é fácil de encontrar. Uma ética de trabalho extremamente elevada, pessoas que respeitam muito as hierarquias. Nunca é demais respeitar as hierarquias, para isso é que elas existem. Mas creio que em alguns momentos era até demasiado. Em determinados aspetos deveremos ter a capacidade de ouvir a outra parte. A verdade é que foi um contexto completamente diferente, onde foi fácil para nós, equipa técnica, adaptar-nos, porque do outro lado havia a questão de comprar uma ideia.»

Paulo Bento deixa ainda um conselho para os mais novos, assim como as respetivas famílias: «Eu creio que o principal princípio nessas idades [jovens] é as pessoas que os rodeiam não pensarem que vem aí o novo Ronaldo ou o novo Messi. Acontece muito, começando logo pelas famílias. E depois vemos os problemas que existem no futebol de formação. Eles devem ir crescendo sem cortar nada do que é talento, mas ao mesmo tempo fazê-los perceber o que é o jogo, para que eles possam chegar ao futebol de alta competição e que não vivam só da capacidade técnica.»