*com Berta Rodrigues

Paulo Bento deixa a seleção ao fim de quatro anos, marcados pela presença nas duas fases finais que o seu consulado abrangeu e que terminaram com a presença na meia-final do Euro 2012 e a eliminação na primeira fase do Mundial 2014. Sai depois da derrota caseira com a Albânia, no arranque da corrida ao Euro 2016, um dos piores resultados de sempre da Seleção Nacional. Um olhar para os pontos altos, os pontos baixos e os casos que marcaram a era Paulo Bento no banco de Portugal.

Pontos altos

A carreira de Paulo Bento ao comando da Seleção Nacional começou em alta quando pegou na equipa com um ponto em seis possíveis à 3ª jornada da fase de qualificação para o euro 2012. Em outubro de 2010, Bento estreou-se no jogo com a Dinamarca – o mais forte adversário na luta pelo apuramento – e entrou a ganhar ( Portugal venceu 3-1).

O arranque feliz foi continuado com mais um triunfo na fase de apuramento (novos 3-1 na Islândia) e a goleada por 4-0 imposta num «particular» à campeã do mundo em título Espanha (ao seu terceiro jogo). Em 2011, ainda durante a fase de apuramento, Paulo Bento consegue a sua melhor série de vitórias: cinco, entre um jogo particular e os quatro seguintes na fase de apuramento.

Aquela série foi quebrada pela derrota na Dinamarca que não permitiu o apuramento direto, mas, a entrada a meio do percurso, com o triunfo no play-off sobre a Bósnia, colocou com sucesso a Seleção no Euro 2012.

O Europeu na Polónia e Ucrânia durou até às meias-finais, onde depois do empate 0-0 com a Espanha, Portugal foi eliminado na marcação de pontapés da marca de grande penalidade. 

A boa prestação no Europeu prolongou-se já pela fase de qualificação para o Mundial 2014, conseguindo a equipa de Bento sete jogos seguidos sem ser batida: os últimos quatro jogos no Euro 2012, um particular e dois do novo apuramento. 

Pontos baixos  

A derrota na Rússia à 3ª jornada do apuramento para o Mundial travou a caminhada. E, no que se seguiu, a tendência passou a estar invertida. Os dois empates na fase de qualificação (com Irlanda do Norte em Portugal e Israel fora) – intercalados com um empate com o Gabão e uma derrota com o Equador em amigáveis – marcaram a viragem para o fim do estado de graça da equipa nacional.

O empate caseiro com Israel deixou como inevitável a presença no play-off de apuramento para o Mundial – conseguido, mas sem evitar que esta fase de qualificação já não tenha sido olhada como a anterior. O Mundial seguiu-se como o campo para decidir se alguma dúvida tinha tido razão para ficar instalada. A equipa comandada por Paulo Bento  falhou no Brasil ao não ter passado a primeira fase – objetivo primeiro (e, então, único) assumido pelo selecionador ainda em Portugal.

Paulo Bento deixa a Seleção dois meses e meio depois da vitória agridoce com o Gana no Brasil, cinco dias depois de Portugal entrar a perder em casa com a Albânia na fase de apuramento para o Euro 2016.

Casos

A passagem de quase quatro anos de Paulo Bento pela Seleção ficou de resto marcada por vários desentendimento mais ou menos públicos com alguns jogadores. O caso mais notório foi o de Ricardo Carvalho, que abandonou a concentração da Seleção em setembro de 2011, antes do jogo com o Chipre, na recta final da corrida ao Euro 2012. De caminho, emitiu um comunicado a renunciar à Seleção, antes de uma entrevista a recuar, dizendo que foi uma reação a quente. Paulo Bento chamou-lhe desertor e disse que, com ele, Carvalho não voltaria à Seleção. Não voltou.

Menos claras foram outras situações de jogadores excluídos, a começar por Bosingwa. Paulo Bento deixou de convocar o lateral, na campanha para o Euro 2012, sem deixar claros os motivos. Acabou por falar sobre o assunto em novembro de 2011, já depois de o jogador ter dito que não voltaria a jogar pela Seleção com Paulo Bento, acusando-o de ser um treinador conflituoso. Na resposta, Paulo Bento acusou Bosingwa de ter simulado uma lesão antes do particular com a Argentina, em fevereiro desse ano. A falta de explicações em relação às suas opções não ficou por aqui: o caso mais recente é Danny, que também tem ficado fora das escolhas do selecionador, sem que os motivos tenham sido claros.

Se a relação de Paulo Bento com os clubes foi de modo geral tranquila, houve alguns momentos de tensão, nomeadamente com o presidente do FC Porto, Pinto da Costa. Foi em março de 2013, quando o dirigente criticou a utilização de João Moutinho nos 90 minutos frente a Israel, quando o jogador vinha de uma paragem. «Quem quiser entender isto entende, quem não quiser entender pode continuar a debitar as suas postas de pescada como tem feito ao longo do tempo», atirou Paulo Bento na resposta.

Para o fim do seu consulado na Seleção, Paulo Bento teve outro caso complicado em mãos, a situação física de Cristiano Ronaldo. O capitão de Portugal terminou a época limitado, mas a sua real condição física nunca foi explicada publicamente de forma clara. Bento teve de gerir uma situação delicada, que incluiu a presença no Brasil de um fisioterapeuta indicado pelo Real Madrid. O até agora selecionador tomou uma posição firme sobre o assunto quando deixou Cristiano de fora da convocatória para a Albânia dizendo ter a informação do seu departamento médico de que o jogador não estava apto para competir, numa altura em que isso não tinha sido assumido pelo Real Madrid. Nem o foi nunca, de forma explícita.

Junto com a lesão de Ronaldo, os problemas físicos de vários jogadores no Brasil, no rescaldo da má prestação portuguesa no Mundial, foram outro momento delicado do consulado de Paulo Bento. Foi aliás no departamento médico que a Federação introduziu alterações mais relevantes, quando apresentou, há apenas duas semanas, as conclusões da avaliação à presença de Portugal no Mundial.