O que leva os jogadores portugueses para o estrangeiro?

À imagem do que se passou, e actualmente se passa, em Portugal a emigração aumentou. No caso do futebol, não tendo valores tão expressivos, também isso acontece.

Os números são bem evidentes. Segundo dados do Sindicato dos Jogadores temos 390 portugueses a jogar por esse mundo fora. Na nossa primeira Liga o número de portugueses não chega aos 170, segundo as minhas contas.

O maior contingente está em Chipre com 70, seguido da Suíça com 35, Espanha 34, Luxemburgo 32, China e Reino Unido com 30, Angola 28 e Roménia com 22. Ainda temos jogadores pelos EUA, França, Chile, Brasil, Ucrânia, Moldávia, Itália, Andorra, Alemanha, Suécia, Noruega, Bélgica, Finlândia, Austrália, Turquia, Rússia, Liechtenstein, Holanda, Bulgária, Cazaquistão, Irão, Sérvia, Eslováquia, Hungria e Croácia. É muita gente por muitos países (33)!!!

Razões para isso?

Contratos mais vantajosos. Opção desportiva. Falta de oportunidades nos clubes portugueses. Aposta em jogadores estrangeiros dos clubes portugueses. Experimentar novas ligas.

Esta profissão é curta, dura cerca de 15 anos, o que faz com que muitos jogadores portugueses vejam com bons olhos o aceno de clubes de países em alguns casos bem diferentes do nosso. A força do dinheiro e a procura de sucesso fá-los correr mundo. A grande maioria vai na procura de melhores condições financeiras, esperando que estas possam proporcionar um presente e futuro mais risonhos.

Por outro lado nem sempre é fácil, mesmo quando as coisas correm bem, deixar família e amigos para trás. Quando as coisas correm mal, por salários em atraso, porque não jogam ou por outra situação qualquer, imagino as dificuldades e o que lhes passa pela cabeça, distantes de tudo.

Ao contrário do que muita gente pensa, em Portugal esta profissão não é medida pela bitola de Messis e Ronaldos, que estão num plano estratosférico. Nem sequer por alguns jogadores dos grandes. Apenas uma minoria pode aspirar a uma vida confortável no futuro.

Na sequência disto, os meus parabéns ao Maisfutebol que criou a rubrica «Crónicas Made in Portugal» e deu voz a muitos jogadores portugueses espalhados pelo mundo que contam as suas histórias e aventuras e no fundo são o exemplo daquilo que escrevo acima. Um abraço para todos eles e que nunca desistam dos seus sonhos.

Em Portugal o que temos, ou não temos, que não conseguimos oferecer aos nossos jogadores a possibilidade de continuarem por cá?

A FPF e a Liga têm assobiado para o lado durante anos, as respostas têm sido ténues e sem força.

Como entidades responsáveis é sua obrigação zelar pelo bem-estar das competições e ter em atenção o jogador português. As diversas selecções lusas estão a sofrer com esta situação.

Os clubes e os seus dirigentes não podem fugir da responsabilidade e da incapacidade demonstradas. Muitos terão dificuldade em encontrar saída para a espiral em que entraram.

O caminho vai ter de ser alterado.

Os títulos mundiais de sub-20 conquistados em 1989 e 1991 fizeram com que os clubes dessem mais oportunidades. Foi possível ver mais jovens nas equipas.

Essa situação manteve-se durante talvez mais de uma década, mas a aposta em jovens foi baixando e assistimos à presença de mais estrangeiros do que portugueses na nossa liga.

Agora sem títulos, mas com enormes dificuldades e problemas para resolver, os clubes vão ser obrigados a mudar de atitude, de gestão e de forma de lidar com os jogadores portugueses.

A falta de dinheiro vai acabar por ser a porta de entrada de jovens portugueses, esperando os clubes pelo retorno desportivo e financeiro.

O que fomos lendo e ouvindo na semana passada não augura nada de bom.

Entre salários por liquidar em equipas profissionais, pagamentos atrasados da Taça da Liga aos clubes da segunda Liga e acusações entre a Liga e a Olivedesportos sobre dinheiros e contratos, o futebol português não acerta o passo.

Este não é o caminho.