O dérbi foi uma noite de desilusão benfiquista e alegria sportinguista. O Sporting foi melhor e venceu com justiça. Foi seguro, compacto, revelou uma eficácia tremenda e acabou cedo com o jogo.

O resultado ao intervalo surpreendia, mas era reflexo dos erros adversários e da capacidade e qualidade dos jogadores do Sporting em aproveitar e marcar. Os onze jogadores foram uma equipa e tiveram o mérito de demonstrá-lo ao longo de 90 minutos.

Do lado do Benfica a boa entrada durou pouco: o primeiro golo do Sporting deixou marcas. Apesar de a equipa de Rui Vitória revelar confiança e estabilidade nos primeiros minutos, os golos sofridos foram acabando com a capacidade de se transcenderem e de se baterem pelo resultado. Desinspirada, sem a capacidade de criarem rupturas e desequilíbrios, a equipa foi lutando mas, no fundo, esperando que o jogo chegasse ao fim. O golo não surgia, o ânimo e a confiança foram baixando e só faltava Carlos Xistra apitar para o final.

Mas o Benfica cometeu vários erros. Os principais acabaram por ser os que resultaram em golo e tiveram origem em erros individuais. A equipa não conseguiu superá-los colectivamente. No primeiro golo, a perda de bola de André Almeida ditou um bom passe de Adrien, possível graças ao posicionamento errado de Silvio, atrás da sua linha defensiva. A saída de Júlio Cesar ao lance não foi totalmente eficaz e Teo foi feliz.

O segundo golo surgiu da cabeça de Slimani, que não tirou os pés do chão, dentro da área, para cabecear para golo. O cruzamento de Jefferson não foi evitado e onde andavam os centrais do Benfica? Luisão e Jardel marcavam o espaço, não o adversário. Slimani, no meio dos dois, não desperdiçou a oportunidade.

Por último, o terceiro golo parte, mais uma vez, de uma perda de bola.
O passe vertical não entrou e apanhou a equipa do Benfica desorganizada – não conseguiu reagir e ser forte na transição defensiva. A bola recuperada no meio-campo defensivo do Sporting foi colocada em Slimani que rematou para defesa de Júlio Cesar. O resto foi a corrida de Bryan Ruiz desde o seu meio-campo, acompanhando a recuperação de bola da sua equipa e aparecendo na área para aproveitar a defesa incompleta de Júlio Cesar e rematar para golo. Sílvio, posicionado num primeiro momento adiantado na frente, na linha de Ruiz, não foi capaz de recuperar a posição e de evitar o terceiro golo.

No duelo entre treinadores Jorge Jesus venceu mais uma vez Rui Vitoria. O treinador verde e branco preparou bem a equipa e fez dez mudanças, do jogo de quinta-feira para o dérbi. Procurou e conseguiu superioridade na zona central do terreno e foi esse, quanto a mim, o garante do controle e domínio do jogo.

João Mário e Bryan Ruiz, quase sempre na ajuda por dentro, foram determinantes para que isso acontecesse. A eles ainda se juntava Téo Gutierrez - e era ver sempre mais camisolas verdes numa zona crucial do campo. As substituições foram apenas de circunstância e a terceira nem chegou a ser feita. O jogo ficou ganho desde cedo.

O Benfica de Rui Vitoria está diferente, para melhor, daquele do primeiro jogo de 9 de Agosto, e ao seu trabalho isso se deve. Mas não está a conseguir superar os duelos com os rivais, o que se viu principalmente neste segundo jogo com o Sporting. Apostou no mesmo onze de quarta-feira, mas não foi capaz de resolver a constante superioridade do Sporting na zona central do meio campo.

O Sporting levou o jogo para onde queria e o Benfica não conseguiu desdobrar-se e ser eficaz no confronto. No duelo a meio campo, Rui Vitória acreditava que André Almeida e Samaris eram suficiente. Não foram e não tiveram o apoio que era obrigatório - os golos, cedo e com erros à mistura, apenas acentuaram isso
As mudanças não trouxeram nada de novo.

Em relação a jogadores, os melhores de cada lado foram, quanto a mim, Samaris e João Mário. O grego esteve confiante, procurou sempre a bola e tentou ser o primeiro elemento na saída para o ataque. Foi o mais esclarecido da equipa e lutou muito no duelo desigual na zona central. Acabou esgotado. Nota ainda para a boa flash interview no final do jogo. Em bom português, fez boa análise, assumindo o momento decisivo do primeiro golo e a grande dificuldade após o segundo.

Do lado verde e branco, o Sporting valeu pelo seu todo, enquanto equipa mas João Mário, ainda assim, destacou-se dos demais. Com dupla missão, foi determinante na conquista de superioridade na luta a meio-campo e o primeiro a comandar as operações ofensivas.

Uma palavra para os guarda-redes. Júlio Cesar não foi sujeito a grande trabalho e sofreu três golos: noite inglória e ainda evitou um. Rui Patricio viu a sua equipa trabalhar bem desde trás, apenas sendo chamado a intervir aos 69 minutos. Concentrado, opôs-se bem a Jimenez, evitou o golo e, com isso, a possibilidade de o jogo mudar.

No Benfica Jonas e Gaitán têm sido fundamentais. Neste jogo o avançado desiludiu e o médio não foi decisivo, como até aqui. Espera-se sempre mais daqueles que têm qualidade acima da média e tanto o brasileiro como o argentino são bons. O posicionamento de Jonas nunca foi claro. Era preciso ajuda no meio campo e não foi capaz de o fazer, como também não conseguiu ser o elemento desequilibrador no passe, nem finalizar como é seu hábito - passou ao lado do jogo.

Gaitán apenas a espaços usou a sua velocidade e não foi o jogador de rutura e desequilíbrio de que Rui Vitória precisava. O Benfica sentiu isso e as oportunidades escassearam.

Uma nota final para os adeptos: são fundamentais para o jogo e aquilo a que assistimos neste dérbi revela a paixão que cada um tem pelo seu clube. Os adeptos do Benfica apoiaram a sua equipa e aqueles minutos em que a perder por 3 a 0 em casa frente ao rival de sempre se manifestaram foram impressionantes.

Assisti pela TV e deu para perceber, imagino como terá sido lá. O Sporting, por seu lado, contou também com cerca de 3500 adeptos num apoio constante - e acabaram por ser eles a fazer a festa.