Estive a ver o jogo o Sporting-V. Guimarães no passado sábado, com o objectivo de estar atento a todos os momentos e acções que o William Carvalho iria ter no jogo.

A importância que tem vindo a assumir na equipa do Sporting é por demais evidente: foi titular em todos os jogos em que participou. Nesta altura são 28, com 2398 minutos e três golos marcados.

Nas selecções também tem tido boa utilização e, face à qualidade e rendimento que tem vindo a apresentar, é opção para os selecionadores nacionais. Nos sub-21, Rui Jorge utilizou-o em 3 jogos de qualificação. Cumpriu todos os minutos e marcou 2 golos.

A estreia na selecção principal não se fez esperar e surgiu a 19 de Novembro, num jogo decisivo de apuramento para o Mundial. Na Suécia, entrou sem medo, e disposto a dar tudo naqueles 17 minutos. Por ele e, naturalmente, pela presença da selecção portuguesa no Mundial. A aposta foi ganha e, já este ano, dispôs de 75 minutos num amigável contra os Camarões.

Em resumo, a afirmação está a ser progressiva e sustentada. Estes números provam o seu crescimento, a sua evolução e a demonstração das qualidades que possui para o desempenho das funções, numa posição vital de uma equipa.

O ponto de equilíbrio

Olhando para o que se passou no jogo contra o Vitória de Guimarães, verificamos que a sua ação se desenrolou sempre na zona central. Tem um posicionamento excelente. A sua movimentação pouco se altera, sendo sempre o vértice do triângulo do meio campo mas, ao mesmo tempo, o ponto de equilíbrio em frente aos centrais.

Os seus movimentos são sempre verticais, deslocando-se poucas vezes para as laterais e preocupando-se com a segurança da zona central. O foco das suas ações incide na cobertura sobre o espaço e os companheiros. Pressiona quando tem de o fazer, dá soluções para receber a bola e é esta forma simples mas eficaz de estar no jogo que o valoriza.

A primeira vez que tocou na bola neste jogo foi ao minuto 2,55. William não é um jogador que dê muitos toques na bola nas suas ações. Neste jogo, apenas por duas vezes teve intervenções com mais de quatro toques na bola. O normal é jogar de primeira ou a dois toques, tirando partido da sua aptidão para boa recepção e passe. Simples e eficaz.

Nas ações com o V. Guimarães, jogou de primeira oito vezes e recorreu a dois toques em nove ocasiões. Apenas por três vezes deu três toques na bola antes de soltá-la, e em quatro situações prolongou a sua ação em quatro toques.

Como referi acima, apenas por duas vezes estendeu o movimento além dos quatro toques, em situações em que arrancou de trás e, não tendo a melhor solução de passe, demorou, guardando a bola. Esta não é regra. Para ele, o usual é o passe de primeira ou a boa recepção orientada seguida de passe. Elementos essenciais para fazer uma boa e rápida circulação, fundamental naquela zona de terreno.

Se analisarmos as opções que tomou nos passes, veremos que alternou entre curtos e longos, quase no mesmo número. William Carvalho fez oito passes longos correctos - e aqui recordo o excelente passe que isolou Slimani ao minuto 6 - e falhou o alvo em duas ocasiões. Quanto aos passes curtos, fez nove, e apenas um errado.

Muitas recuperações, poucas faltas

Não sendo um jogador de se agarrar à bola, William ainda a perdeu três vezes, duas no seu meio campo defensivo, o que pode por vezes criar situações complicadas. Mas foi importante, como tem sido hábito, nas recuperações de bola: fez quatro no seu meio campo defensivo e três no meio campo adversário, além de mais dois cortes enviando a bola para longe. O seu posicionamento e a boa leitura do jogo permitem-lhe estar próximo da ação para a conquista da bola.

Sendo um jogador alto e com boa envergadura não é faltoso: se bem vi, apenas fez uma falta. Em contraponto, foi alvo de cinco intervenções faltosas, todas elas no meio campo defensivo. A técnica de William faz com que segure e proteja bem a bola, por isso os adversários sentem muitas dificuldades quando a querem recuperar.

A posição em que joga e a forma como está talhado para a função dão pouco espaço no seu jogo para remates. Por isso não é de estranhar que tenha feito só um, cruzado, já dentro da área e na sequência de uma bola parada. Excepção feita aos lances de bola parada, as situações de finalização poucas vezes acontecem, porque a sua posição privilegia o equilíbrio e a cobertura dos companheiros. Mas William é um elemento presente nas bolas paradas, posicionando-se na zona central quando defende a sua baliza e à procura do segundo poste quando está a atacar.

Os traços mais característicos de William Carvalho podem resumir-se assim: boas recuperações, bom posicionamento e, normalmente, boas decisões quer nos passes quer nos aspetos de pressão sobre o adversário. Nestes jogos todos o médio do Sporting tem dez amarelos. Não sendo um jogador faltoso, como se comprovou neste jogo, este registo deixa perceber que muitas vezes uma falta é necessária para parar o adversário, em momento de desequilíbrio da equipa. Estas situações também vão surgindo com a sequência de jogos e com a capacidade para perceber melhor o que deve ser feito em cada momento.

Leonardo Jardim foi com certeza importante na definição da abordagem que William tem aos jogos. Depois, o rendimento é fruto não só do seu potencial e qualidade mas também da resposta colectiva da equipa. O Sporting está a fazer o seu caminho e os jogadores vão crescendo também. William Carvalho é um dos exemplos e, seguramente, um dos pilares da equipa: ainda tem muito para crescer e melhorar mas os indicadores são para já muito positivos.

O final da época está a chegar e, no meu entender, a presença no Mundial também. Veremos se, em breve, haverá registo para mais uma saída do futebol português.