Estamos em 1998. Roberto Benigni emociona o mundo. O italiano escreve, dirige e representa A Vida é Bela, uma fábula enternecedora sobre as preocupações paternais de um judeu por alturas da II Grande Guerra Mundial. Guido, o nome da personagem principal, faz da trama fascista uma simples brincadeira de crianças. Giosué, o seu filho, atravessa o conflito sem nunca perceber que está num campo de concentração.
O filme acaba com um grito de liberdade. 'Abbiamo vinto!' (Vencemos), exclama Giosué, saciado perante a recompensa prometida pelo falecido pai durante o jogo: um tanque militar! Hollywood rende-se à sensibilidade do argumento e entrega três Oscars a Benigni.
«A Roménia não é um bom sítio para criar um filho»
Grande parte da fita é filmada em Arezzo. Cidade toscana, profundamente medieval, símbolo do antigo poder etrusco. Berço de Petrarca, cuidadosamente desenhada pelo génio de Piero della Francesca, ponto de passagem obrigatório para qualquer turista que se preze.
À semelhança de outros milhões de espectadores, Pedro Oliveira vibra com a narrativa de Benigni. O jogador português, internacional sub-21, só não sabia que 11 anos depois subiria ao palco de A Vida é Bela. Pedro joga no AC Arezzo desde o início da temporada 2009/2010.
«É curioso porque esse foi o único filme não-inglês que vi até hoje no cinema. Por toda a cidade estão assinalados os locais onde foram filmadas as cenas da película. É um privilégio viver e trabalhar em Arezzo», confessa ao Maisfutebol.
Em Arezzo, a aproveitar «a boa imagem de Mourinho»
Pedro Oliveira habita muito perto do centro histórico de Arezzo e do principal símbolo da cidade: a Piazza Grande. Calcorreia diariamente as ruas onde Benigni nos deliciava com as suas travessuras e vive num verdadeiro museu de ostentação arquitectónica.
«Não temos mais pessoas a ver os jogos porque a cidade é muito rica culturalmente. Os habitantes vivem muito para a cultura. Mesmo assim temos o estádio sempre bem composto. Estamos na Série C (terceiro escalão), no quarto lugar e a lutar pela subida.»
Depois de meia temporada de grande nível com a camisola do Modena (4 golos na Série B), o antigo jogador do F.C. Porto e do V. Setúbal não resistiu ao chamamento ambicioso do AC Arezzo.
«É verdade que estou na terceira divisão, mas a realidade é bem diferente daquilo que se possa pensar. Os salários do plantel são impensáveis para a realidade portuguesa, por exemplo. Temos um excelente director-desportivo e um projecto de ascensão à Serie B.»
Em Itália há cerca de um ano, Pedro Oliveira confessa ter aproveitado «a boa imagem dada por José Mourinho». «Sou português e as pessoas fazem essa associação. Estou a viver a minha própria A Vida é Bela. Mas as saudades do Porto e de Portugal são muitas.»
Nesta altura, Pedro Oliveira quer aproveitar a qualidade de vida que usufrui em Arezzo e repetir no final da temporada o grito de Giosué: Abbiamo vinto!
Veja o golo de Oliveira no Arezzo-Pro Patria: