Estávamos no ano 2000. Pena chega do outro lado do Atlântico, assenta arraiais nas Antes e desata a marcar golos. No campeonato, então, parecia ligado à ficha: foram nove jogos seguidos sempre a marcar, igualando uma marca que pertencia a Mário Jardel, o homem que veio substituir, desde a época anterior. Missão cumprida, portanto.

Doze anos mais tarde, Jackson Martínez faz uma viagem idêntica e consegue resultados semelhantes. Ficou em branco em Barcelos, mas já vai em sete jornadas seguidas a festejar, ameaçando a marca da dupla brasileira.

Por Pena, não há problema: o colombiano pode mesmo continuar de pontaria afinada. O Maisfutebol conversou com o ex-portista que assumiu estar um pouco «desligado» do futebol português. Mas sobre a marca não tem dúvidas: «Espero que ele bata o meu recorde.»

«Os recordes servem para ser batidos e eu torço para que assim seja, porque o futebol é assim mesmo. Agora estão a lembrar-se de mim e se ele conseguir marcar como eu fiz, daqui a uns anos vão estar a ligar para ele», brincou o brasileiro.

Pena diz que no ano passado ainda acompanhou o F.C. Porto mas agora tem visto pouco. «Sei que o Hulk saiu não é? Era o que conhecia melhor, para além do Helton que jogou contra mim na Copa Paulista em tempos», recorda.

Sobre a nova figura dos dragões, Pena mostra conhecimentos. «Estava no México não é? Vi também um pouquinho na seleção. É bom jogador, rápido e habilidoso. É diferente de mim, eu ficava mais na área», descreve.

«Este F.C. Porto tem muita mais qualidade do que o meu»

O tempo que passou no F.C. Porto foi «um dos melhores da carreira». Não foi o topo porque Pena não se queixa do curriculum. «A minha veia goleadora não se viu só no F.C. Porto. No Ceará, no Palmeiras, por exemplo, também fiz muitos golos. Apesar de ter surgido tarde para o futebol, Deus abençoou-me e deu-me a possibilidade de jogar e fazer golos em muitas equipas», sublinhou.

No Porto, como se disse, tinha uma missão espinhosa: fazer esquecer Jardel. «Era uma altura difícil, só falavam nele. E a equipa tinha falhado o apuramento para a Champions. Havia uma cobrança muito grande, tudo era adverso. Depois comecei a marcar golos e fui ganhando o meu espaço. A paciência que o presidente Pinto da Costa passou para mim foi determinante», confessou.

«Quando estive no F.C. Porto a equipa era boa, mas nada como agora. E havia muito a ideia de que se um jogador não fizesse golos não prestava. Se formos a ver posição a posição, esta equipa tem muito mais qualidade. Naquele tempo havia jogadores que, apesar de bons, estavam muito longe da qualidade de agora. O F.C. Porto cresceu muito», descreve Pena.

«Kléber vai dar a volta por cima»

Na temporada 2000/01, Pena foi o melhor marcador da Liga, com 22 golos. No ano seguinte fez apenas seis. E começou a passar um mau bocado. «Os adeptos e a imprensa começaram a cobrar muito», lamenta.

«A minha quebra esteve relacionada com problemas físicos. Sofri bastante com uma pubalgia e tive de jogar com injeções porque não havia mais ninguém. Se fosse hoje, tinha estados uns quatro ou cinco jogos de fora a descansar, mas ali eu era preciso e tinha de jogar», refere.

Agora é Kléber, um compatriota, que passa por fase idêntica, embora nunca tenha tido o fulgor que Pena mostrou. O ex-portista aconselha calma: «Diria-lhe para trabalhar e aproveitar ao máximo o tempo no F.C. Porto. Dificilmente vai encontrar essas condições noutro lado. Tem de dar a volta por cima.»

Pena guarda, por isso, o clube no coração, agora que deixou os relvados, no final da temporada passada, quando jogava no Serrano.

«Alegro-me por saber que passei por uma equipa como o F.C. Porto que construiu história na Europa, ganhou a Liga dos Campeões. É bom pensar: Poxa, eu passei por ali e faço parte da história daquela equipa», assume.