Adjunto do Liverpool, Pepijn Lijnders recordou a passagem pela formação do FC Porto e a importância que os sete anos passados no clube da Invicta tiveram na carreira. O técnico holandês bebeu da cultura azul e branca e explicou-a.

Para Pepijn Lijnders, mudar do PSV Eindhoven para o Dragão «foi um choque futebolístico», que teve um grande impacto. «O clube, as pessoas, os adeptos, a cidade, falo com grande responsabilidade sobre eles, o FC Porto vai ficar para sempre comigo», disse ao Podcast The Big Interview, de Graham Hunter. 

O treinador explicou como foram esses tempos: «Trabalhei lá sete anos com tantos treinadores apaixonanates e jogadores incríveis. Abordaram-me ainda estava no PSV Eindhoven, não era a mesma língua, mas entendíamo-nos. Tinha aulas de português durante três horas, porque precisava de perceber a cultura para ensinar. Tentei absorver a cultura, as razões pelas quais faziam o que fazem. É um clube com grandes valores, com humildade de Pinto da costa criou um instituo de vencedores, uma cultura vencedora. Se sabem como Benfica e FC Porto cresceram nos últimos 67 anos, é um exemplo. Amamos aqueles que odeiam perder, esse é o mote do FC Porto. lutamos contra tudo e contra todos, essa é a segunda frase que me vem à cabeça. A raça, a força interior dos jogadores é algo que nunca vi antes porque venho da Holanda. Foi algo que vai ficar comigo para sempre. Alguns clubes estão no jogo para o jogar, mas o FC Porto esta nele para vencer. É para isso que jogam e vencem. Os treinos eram incríveis. Comecei de manhã com os sub-19, à tarde com sub-14 e sub-15 e à noite sub-12, sub-10, os mais novos. O único objetivo que tinha, para além desta ideia coletiva da periodização tática, era criar agressividade ofensiva, para que em cada situação eles pudessem lidar com a bola, quando estivessem um para um pudessem ultrapassar um jogador, ou seja, a ideia era criar para marcar. Queríamos criar uma nova geração que representasse a sua cultura e que tivesse esta mentalidade ofensiva com um nível técnico alto.»

Mas afinal, como é que o FC Porto descobriu o técnico que hoje é adjunto de Jürgen Klopp?

«Eles tinham um projeto 611, Antero Henrique e Pinto da Costa queriam restruturar a academia e o scout. Co Adriaanse era o treinador antes de eu chegar e saiu, mas o Wil Coort era o treinador de guarda-redes e ficou. Queriam acrescentar algo ao projeto 611. Senti que estava pronto para deixar a Holanda, sentei-me à mesa com João Martins, Vítor Frade e Luís Castro. Foi um clique instantâneo com eles. Frade e Luís Castro são das pessoas mais importantes na minha vida, mostraram fé num holandês de 24 anos do PSV, não do Real Madrid», disse Pepijn Lijnders, a rir.

«O sistema de scout do FC Porto é dos melhores do mundo. O problema é que a academia não pode ficar para trás», acrescentou, para depois falar mais um pouco dessa cultura azul e branca. 

«A ideia era criar uma nova geração de jogadores. O treinador do FC Porto está debaixo de uma pressão enorme. Se perdes com o Benfica, mesmo que estejas no primeiro lugar, ou se saíres na fase de grupos da Liga dos Campeões... Portanto, o treinador vai sempre escolher o melhor jogador, a melhor equipa. Portanto, a ideia era ter esta cultura de vitória, mas desenvolver jogadores com mentalidade ofensiva, porque há brasileiros que aos 16 anos já jogam num nível de topo e têm 20 iniciativas por jogo para desequilibrar, marcar, rematar. O pensamento foi: "Temos de levar esse tipo de jogo para o FC Porto com tudo aquilo que já fazemos."»

Fábios, Diogos, Félix e André Gomes com a mística do FC Porto

O holandês continuou a abordar os tempos na formação portista e até lembrou dois nomes que se mudaram para o rival Benfica.

«Tentámos criar uma nova geração, dos 13 para baixo é a idade mágica, se estimulares essa ideia criativa e lhes deres liberdade e ao mesmo tempo princípios, os jogadores vão adaptar-se. No fim, criámos isso. Se virem os jogadores que se destacaram é incrível. Fábio Silva, André Silva, Gonçalo Paciência, Ruben Neves, João Félix, André Gomes, Fábio Vieira, Bruno Costa, Diogo Leite, Diogo Queirós, podem fazer uma equipa agora e têm a mística do FC Porto, porque todos eles tiveram essa ambição e, por cima, tinham um grande nível técnico. Sabíamos que tínhamos de acelerar esse processo. Durante sete anos foi um período de muito sucesso, porque fomos campeões várias vezes e pudemos trabalhar com calma porque a equipa principal estava a vencer. Se não estivesse, até o treinador dos sub-19 estava na berlinda», rematou.