O caso «Totonero», em 1980, esteve perto de arrumar com a carreira de Paolo Rossi no futebol. Implicado num caso de apostas de resultados combinados, o avançado italiano foi suspenso por três anos, mas não chegou a ser preso, nem a cumprir a pena na totalidade.

Não só isso não aconteceu como foi, talvez, a mais surpreendente das chamadas do selecionador Enzo Bearzot para o Mundial 1982. Aquele que eternizou Paolo Rossi como uma das maiores figuras de sempre do futebol italiano.

Contratado pela Juventus ainda com a pena em curso, Rossi apenas ficou livre da pena em abril desse ano. A escolha na convocatória, essa, foi criticada por várias figuras do país, a escassos meses da fase final e com ‘Pablito’ Rossi bem longe da forma ideal. O avançado era considerado dispensável no seu contributo por muitos para a «squadra azzurra».

A prova, realizada em Espanha, começou com um apuramento pouco prometedor. Na primeira fase de grupos, três empates ante Polónia, Peru e Camarões valeram a qualificação para a segunda fase, no desempate pela diferença de golos. Seguia-se outro grupo, com a Argentina e o todo-poderoso Brasil, com figuras como Zico, Falcão, Sócrates, Éder, Júnior ou Toninho Cerezo e comandada por Telê Santana.

VÍDEO: os seis golos no Mundial 1982 que eternizaram Paolo Rossi

Depois de uma sofrida vitória por 2-1 com a Argentina, chegou então o dia 5 de julho de 1982: o dia de Paolo Rossi. Em Barcelona, vitória por 3-2 sobre o Brasil e hat-trick daquele que ficou conhecido como «Il Bambino D’ Oro». Nesse dia, Paolo Rossi eliminou aquela que é considerada a melhor seleção da história do futebol, a que jogou um futebol que mais ficou na memória dos amantes do futebol.

O Brasil de Júnior, Sócrates, Zico, Falcão, Éder e Toninho Cerezzo caía com estrondo numa fase demasiado prematua e a Itália seguiu com grande surpresa para as meias-finais, depois de vencer o «grupo da morte».

E só daria Rossi a partir daí. Nas meias-finais, bisou e qualificou a Itália para a final, na vitória por 2-0 à Polónia. Na final, o número 20 abriu o marcador que coroou o êxito contra a Alemanha Ocidental. Sete jogos, seis golos, todos eles nas fases mais decisivas. Numa questão de dias, o vilão tornou-se herói.

A Bota de Ouro e os títulos com o FC Porto pelo meio

A prestação no Mundial valeu-lhe a Bota de Ouro, troféu da revista francesa France Football, então ainda só para futebolistas do ‘velho continente’.

Pela seleção, já tinha estado no Mundial de 1978, na Argentina, onde foi o melhor marcador da equipa com três golos, na chegada ao quarto lugar da prova.

Depois do mítico Mundial de 1982, Rossi assinou três dos títulos mais importantes da carreira, ambos pela Juventus: a Taça dos Campeões Europeus de 1984/1985, a Supertaça Europeia de 1984 e a Taça das Taças de 1983/1984, esta às custas do FC Porto, na final de Basileia.

A nível nacional, conquistou dois campeonatos e uma Taça de Itália. Foi o melhor marcador da Serie A em 1977/1978, com 24 golos.

Fez formação no Santa Lúcia, Ambrosiana, Cattolica Virtus e Juventus. Como sénior, além do emblema de Turim, jogou no Milan, Verona, Como, Lanerossi Vicenza e Perugia. Despediu-se no Verona, em 1987, apenas com 30 anos.

Faleceu na quarta-feira, aos 64 anos, vítima de doença incurável, noticiou a Gazzetta dello Sport.