Diamantino Figueiredo é um descobridor de talentos para a baliza. Muito bem-sucedido, acrescente-se. O atual treinador de guarda-redes do Sp. Braga trabalhou quatro jogadores nos últimos anos que estão agora em dois dos chamados grandes.

Começou com Oblak, quando o Benfica o emprestou ao Olhanense em 2010/11, mas, no caso do FC Porto, só Helton não lhe passou pelas mãos. Desde Kadu, que treinou nos seniores do Belenenses quando ainda tinha idade de juvenil, passando por Fabiano, que lançou em Portugal e, claro, Ricardo.

Razões de sobeja para o Maisfutebol o ter escolhido para falar não só do novo reforço portista, mas também do seu principal competidor na próxima época. Adivinha-se um combate de titãs pelas defesa das redes dos azuis e brancos...

«O Porto vai ficar muito bem servido. O treinador decidirá quem joga, mas há essa vantagem de partirem em pé de igualdade por que houve mudança no comando técnico. Quem os treinar, na minha ótica, terá de os mentalizar para não terem essa ideia que há o número um, o dois e o três», começa por analisar o antigo guardião do Belenenses.



«Para mim, ambos têm condições e estão prontos para serem o titular. Até porque, no futebol, tudo muda rapidamente. Pode começar um, lesionar-se, e o outro tem de estar preparado para atuar, no mínimo, ao nível daquele que estava a jogar», prossegue, reforçando a ideia de que, para si, não há favorito:

«É difícil prever quem poderá jogar, mas uma coisa eu sei: a equipa vai ficar tranquila porque vão trabalhar ambos com esse objetivo. O Ricardo está muito forte e, mesmo que seja suplente, vai lutar com todas as forças para ser primeira opção. Sei que vai ser esse o seu pensamento, nem há outra maneira possível de se estar no futebol.»

Só haverá lugar para um, porém, na opinião do técnico que os orientou, isso não os impedirá de se tornarem bons amigos.

«Vai ser uma luta interessante, com muito sangue, uma disputa gira e sã. Acho que eles se vão ajudar um ao outro no sentido de se tornarem melhores, e isso será bom para a equipa. Conhecendo os dois, e também o Kadu, penso que, em termos mentais e de personalidade, vão encaixar bem. São homens respeitosos, com excelente educação, e vão dar-se muito bem.»

Ricardo: maduro, consistente e equilibrado

No caso particular de Ricardo, a aposta portista, sustenta, não poderia ter sido mais acertada. «Acreditou no seu trabalho e capacidades. Sentiu que podia evoluir muito, tirar o máximo de si. Foi o que aconteceu. Está mais consistente, mais maduro, pensa mais o jogo, e a prova está na excelente época que realizou. Foi uma mais-valia para ele e para a equipa», garante, destacando-lhe as principais qualidades:

«Joga muito bem com os pés, algo que é fundamental hoje em dia nesta posição, é bastante ágil, e rápido. Não é tão forte nos cruzamentos, digamos que podia arriscar mais, mas está a melhorar. É muito equilibrado e quer sempre melhorar, procurar a perfeição.»

Depois dos elogios, a pergunta tornou-se inevitável. O guardião natural da Póvoa de Varzim deveria ter sido chamado para o Mundial? «Sou, obviamente, muito suspeito para o dizer, mas, pela época que fez, penso que sim. Ainda para mais numa equipa como a Académica», admite.

A «brincadeira» dos penalties

Falar de Ricardo é também falar de um dos maiores especialistas em defender grandes penalidades, com 12 remates da marca dos 11 metros defendidos nas últimas duas temporadas. A particularidade leva o treinador de guarda-redes a estabelecer um paralelo com Fabiano.

«Tiveram um trajeto semelhante nesse aspeto. No Olhanense, também defendeu vários penalties, sobretudo na Taça de Portugal. Claro que também se faz um trabalho de casa, se o jogador costuma bater para um lado ou para o outro, mas lembro-me, quando jogava, que o melhor era encarar esses momentos como uma brincadeira.»

Uma brincadeira? «A responsabilidade é sempre do marcador. Mas se tivermos mãos de ferro, estivermos concentrados, e brincarmos um pouco com aquilo, podemos lançar dúvidas, destabilizar o adversário ou aumentar-lhe a pressão. O resto é intuição, não existe uma ciência para isto.»


Figueiredo lembra, até, um episódio dos tempos em que jogava, passado em Alvalade. «O Saucedo ia marcar e eu meto-me de joelhos em cima da linha de golo. Aquilo começou logo a fazer-lhe confusão, nunca tinha visto tal coisa. O pior é que quando ele vai bater eu levanto-me num ápice e ele acabou por atirar contra mim», recorda. 

Desde aí, passou a ser este o conselho para os guarda-redes. «Viram o Beto na final da Liga Europa? A brincar com aquilo? A mexer-se, para a frente e para trás? Ou o Ricardo com a Inglaterra quando tirou as luvas?»

Pediu o mesmo a Fabiano, quando o então guardião do Olhanense teve pela frente o portentoso Hulk. «Durante a semana tínhamos falado sobre isso, se ele tiver de marcar algum penálti, mexe-te, fala, brinca com ele. Depois, sabíamos que na semana anterior ele tinha batido um para o lado direito e então pedi-lhe: quando ele olhar para ti, dá um passo para esse lado, mas depois atirar-te para o lado esquerdo.» Resultou.

Fabiano: veloz e ágil

Quando lhe foi pedido que escolhesse um guarda-redes, em 2011, para guardar a baliza dos algarvios a sete chaves, Fabiano chamou-lhe a atenção na lista dos que observou. «Tem caraterísticas invulgares. Para uma altura de 1,97 m tem uma velocidade e agilidade invulgares. Foi o que mais gostei nele. Depois, os aspetos técnicos, são sempre mais fáceis de trabalhar e melhorar», considera.

«Claro que houve situações que teve de aperfeiçoar e foi preciso dar-lhe tempo, até pela idade, porque qualidade ele tem, agora o principal foi o facto de querer trabalhar. E trabalhou muito para chegar a este nível. É um dos melhores em Portugal e acredito que o Porto pode fazer um grande negócio com ele», acrescenta, perspetivando, até, que possa chegar brevemente à seleção do Brasil:

«Não vejo assim muitos guarda-redes brasileiros com mais valor do que ele. Claro que terá de trabalhar ainda mais, para continuar a evoluir, algo que eu sinto que ele quer. Se tiver quem o apoie bem e saiba tirar o máximo das suas capacidades, já que em termos mentais é muito forte, acredito que vai chegar longe.»

Sem ponta de vaidade, Diamantino Figueiredo não esconde, porém, o sentimento que tem quando olha para trás e vê onde estão agora os seus «meninos».

«É um orgulho muito grande para mim ver a boa carreira que estão a fazer. Sinto-me honrado por ter contribuído para isso. É extremamente gratificante quando vemos o nosso trabalho reconhecido. Ainda hoje quando encontro o Oblak ele recorda os treinos que tínhamos e as nossas conversas.»