Diabos insulares, incontroláveis, desfizeram o FC Porto em dois jogos incomuns. No Dragão, vejam bem. Primeiro, em março de 2005, o Nacional fez quatro golos e regressou à Madeira sem um único arranhão; três anos depois, maio de 2008, mais três golos sem qualquer reprimenda azul e branca.

As desfeitas ao FC Porto, pela raridade e volume dos triunfos, justificam a recordação do Maisfutebol na ante-câmara de mais um FC Porto-Nacional.

O que se passou nesses dois jogos? Que dados conduziram o FC Porto a tamanha permissividade? Que estratégias madeirenses armadilharam o plano aos portistas?

Antes de dar a voz aos protagonistas, é importante sublinhar que o jogo de sábado será já o 15º entre as duas equipas para a I Liga.

O FC Porto tem 11 triunfos, o Nacional leva três: as duas goleadas que dão sentido a este trabalho e uma outra em outubro de 1990 (1-2, golos de Domigos, Heitor e Paulo Sérgio).

Costinha lesionado e Quaresma a lateral: a chave

A ressaca do ceptro europeu deixou o FC Porto num estado catatónico. Os pontos desperdiçados em casa na época 2004/05 são um recorde difícil de igualar: 24. O registo não retira, porém, qualquer mérito à gloriosa noite do Nacional no Dragão.

João Carlos Pereira era o treinador e Filipe Gouveia um pilar do meio-campo. Ao Maisfutebol, a dupla desvenda segredos e recupera sensações trilhadas num triunfo sem igual.

«Foi perfeito, tudo nos saiu bem», refere o técnico. «Lembro-me do Jorge Costa aos berros para o árbitro, a exigir que o jogo acabasse», acrescenta Gouveia.

«Observámos vários jogos do FC Porto e percebemos que a equipa tinha limitações a defender bolas paradas. Aproveitámos com excelência esses lances de laboratório», confidencia João Carlos Pereira, recordando outro momento fulcral na partida.

«O Costinha lesionou-se e nós fazemos nessa altura o segundo golo. O José Couceiro quis arriscar e colocou o Quaresma a falso lateral direito. É aí que meto o Nuno Viveiros em jogo, a cair na zona do Quaresma».

Nuno Viveiros faria depois o terceiro golo, Quaresma foi incapaz de defender e atacar com pulmão. O Nacional envergonhou os dragões diante de uma plateia revoltada.

Pedro Emanuel nem sequer quis jantar

Mais do que físico, o problema do FC Porto nesse jogo, e muitas vezes nessa época, era emocional.

«A meia-hora do fim trocávamos a bola com qualidade e as bancadas gritavam olé. O FC Porto já estava de braços caídos e cabeça perdida», recorda Gouveia que, nessa mesma noite, ficou sem companhia para jantar.

«Sempre que jogava contra o Pedro Emanuel, meu grande amigo, jantávamos no final. Depois dessa goleada ele nem quis vir. Eu percebi-o completamente».

O Nacional da Madeira tinha em 2004/05 «uma equipa magnífica» e acabou a temporada a marcar mais quatro ao Sporting. No Dragão, a comitiva foi tributada com uma chuva de aplausos.

«O autocarro saiu do estádio e estavam dezenas de adeptos do FC Porto à nossa espera. Aplaudiram-nos e deram-nos os parabéns», completa João Carlos Pereira.

Um dragão perdido como nunca se vira, um Nacional perfeito como jamais se viu. Será que, como diz Paulo Fonseca, ainda são a besta negra do FC Porto?

FC PORTO-NACIONAL: 0-4 (11/03/2005)
(Miguel Fidalgo, 4; Alonso, 60; Nuno Viveiros, 69; Bruno, 84)

FC PORTO: Vítor Baía; Seitaridis (Cláudio Pitbull, 46), Jorge Costa, Ricardo Costa e Nuno Valente; Ibson, Costinha (Leo Lima, 61) e Diego; Quaresma, Luís Fabiano (Hélder Postiga, 46) e Leandro do Bonfim.

Treinador: José Couceiro

NACIONAL: Hilário; João Fidalgo, Emerson, Ávalos e Alonso; Marcelo (Julio Marchant, 57), Cléber, Bruno e Gouveia (Hernâni, 89); Adriano e Miguel Fidalgo (Nuno Viveiros, 66).

Treinador: João Carlos Pereira



FC PORTO-NACIONAL: 0-3 (08/05/08)
(Fábio Coentrão, 21, 45; Juninho, 89)


FC PORTO: Helton; Bosingwa, Pedro Emanuel, Bruno Alves e Lino (Tarik, 57); Lucho, Paulo Assunção e Raul Meireles (Bolatti, 77); Quaresma, Lisandro Lopez e Mariano Gonzalez (Ernesto Farías, 46).

Treinador: Jesualdo Ferreira

NACIONAL: Bracali; Patacas, Cardozo, Felipe Lopes e Alonso; Edson Sitta (João Coimbra, 81), Cléber e Juliano Spadacio; Ricardo Fernandes, Rodrigo Silva (Juninho, 72) e Fábio Coentrão (Pateiro, 68).

Treinador: Predrag Jokanovic

[artigo original 17h57]