«Tenho a dizer que é totalmente falso (...) não tem qualquer fundamento». Pinto da Costa falou durante 33 minutos e negou que alguma vez tivesse aliciado o árbitro Augusto Duarte «ou qualquer outro árbitro para pedir fosse o que fosse» ou que lhe tivesse entregue 2500 euros para favorecer o F.C. do Porto.
Esta manhã, durante o arranque do julgamento do chamado «caso do envelope», o presidente do Futebol Clube do Porto explicou a presença do árbitro Augusto Duarte em sua casa, na Madalena, na antevéspera do jogo Beira-Mar/FCP, da época 2003/04, com «assuntos de ordem pessoal e familiar» do juiz da partida.
«Foi-me dito que era um assunto pessoal e familiar que eu poderia ajudar a resolver. Ficou bem claro que não seria nada de futebol», referiu o líder portista, acrescentando que «se o senhor Augusto Duarte autorizar, não terei problema nenhum em revelar».
Nem Carolina Salgado, antiga companheira do presidente do FCP, nem tão pouco o empresário António Araújo que levou o árbitro a casa de Pinto da Costa, assistiram à conversa. «A Carolina e o senhor António Araújo subiram para o andar de cima», enquanto «em cinco ou dez minutos» o árbitro lhe explicou o problema pessoal que ali o trazia e que «eu poderia ajudar a resolver», sublinhou o arguido.
Questionado sobre o facto de ter sido escutado, no final da partida que se saldou num empate, a referir que o árbitro «não deu cheirinho nenhum, só nos deixou passar uns livres, o gajo», Pinto da Costa esclareceu que «em linguagem futebolística queria dizer que o árbitro não nos beneficiou absolutamente nada».
Mais, assegurou, «se a arbitragem teve influência no resultado, até foi em nosso desfavor», numa alusão a um alegado penálti a favor do FCP que Augusto Duarte não assinalou.
Confrontado com os dois erros da arbitragem a favor do FCP, referidos na acusação [um deles, deveria ter levado à expulsão de um jogador do Porto], o arguido ironizou:
«Se os árbitros só tivessem dois erros por jogo, seria um céu a arbitragem portuguesa»!!
Além disso, lembrou, «o jogo não era importante para nós, estávamos concentrados na Champions League».
Pinto da Costa surpreendeu o tribunal ao referir que «sabia que o telefone estava sob escuta» pelo que nunca teria conversas comprometedoras pelo telefone. A juíza não lhe perguntou como sabia e o presidente portista também não explicou.
O depoimento do líder do F.C. do Porto, prestado na ausência do co-arguido António Araújo, a quem a juíza ordenou que abandonasse a sala durante o depoimento de Pinto da Costa, foi totalmente corroborada, com Araújo a garantir que não assistiu à conversa entre o árbitro e o presidente do F.C. do Porto.
A versão dos co-arguidos só coincide com a de Carolina Salgado num ponto. Todos estiveram na casa da Madelena, na antevéspera do jogo. A partir daqui tudo difere. A antiga companheira de Pinto da Costa assegura que assistiu à conversa entre todos, na qual o líder portista referiu ao árbitro «que os jogadores precisavam de estar moralizados para ganhar a partida». Depois saiu para fazer os cafés para as visitas e quando regressou «o Jorge Nuno ficou encabulado por ver que eu estava a presenciar a entrega de um envelope (branco) com 2500 euros ao senhor Augusto Duarte».
O montante tinha sido retirado de uma cómoda momentos antes. «Perguntei ao Jorge Nuno o montante e ele disse-me que era 2500 euros».
«Nunca tinha presenciado tal acto», refere ainda a testemunha que se recorda apenas de uma outra visita de um árbitro à casa de ambos: «o senhor Martins dos Santos».
Quando questionou o antigo companheiro sobre aquilo a que acabara de assistir, este ter-lhe-á respondido: «Isto é mesmo assim».
O arguido Augusto Duarte faltou, tendo o advogado apresentado atestado médico. Carolina Salgado vai continuar a depor a partir das 14 horas.