Da visão e do esforço do suíço Hans Gamper surgiu aquele que viria a tornar-se «mais que um clube».

No ano em que o FC Barcelona celebra o seu 120.º aniversário, debruçamo-nos sobre a história do colosso desportivo e maior embaixador da identidade catalã, que, de Johan Cruijff em diante, se transformou também no mais fiel símbolo do futebol-arte.

Focamo-nos em «Barça Dreams», um documentário de 2015 recentemente disponível em Portugal na plataforma Netflix, mas também no Youtube, que percorre toda o historial do emblema blaugrana, desde a sua fundação até ao seu crescimento à escala mundial nos dias de hoje.

À boleia deste documentário redescobrimos um tema de Carlos Gardel e as ligações da lenda do tango argentino com o clube da cidade condal.  

Hoje a Plateia tinge-se de blaugrana, com pinceladas de Gardel.

Fique com as sugestões para ver, ouvir e ler futebol.

Veja o documentário «Barça Dreams» na íntegra:

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VER: «Barça dreams»

Género: documentário

Realização: Jordi Llompart

País: Espanha

Duração: 120 minutos

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De Gamper a Cruijff, de Alcántara a Ronaldinho, de Samitier a Guardiola, de Kubala a Messi… As conexões infindáveis neste documentário da autoria de Jordi Lompart, realizador e produtor de filmes como Viagem Mágica a África (2010) ou Mistério do Nilo (2005).

Ao contrário do mais recente «Take the Ball, Pass the Ball», que se foca no estilo de jogo difundido por Johan Cruijff e cultivado por Pep Guardiola, «Barça Dreams» é um documentário que nos conta a história do Barcelona: desde a fundação como clube cosmopolita, ao difícil reerguer depois da Guerra Civil espanhola, à resistência ao franquismo, até à revolução levada a cabo por Cruijff que estabeleceu as bases para um Barça triunfal no panorama internacional.

Às imagens de extraordinário valor histórico juntam-se testemunhos ilustres: Cruijff, Guardiola, Messi, Xavi, Iniesta, Piqué, Lineker, Pau Gasol, entre outros…  

Nas duas horas de documentário, há, porém, um segmento absolutamente dispensável: demasiados minutos dedicados a uma versão maniqueísta de José Mourinho, em que o seu Real Madrid é retratado como uma força do mal perante um Barça incondicionalmente virtuoso.

Uma incursão escusada, sobretudo tendo em conta os minutos que faltaram para falar sobre craques que fizeram história no emblema Blaugrana: Ronaldo ou Rivaldo, por exemplo, nem merecem uma nota de rodapé.

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OUVIR: Patadura

Autores:

Intérprete: Carlos Gardel

Género: tango

País: Argentina

Duração: 2:48 minutos

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Piantáte de la cancha, dejále el puesto a otro; 

de puro patadura estás siempre en orsay; 

jamás cachás pelota, la vas de figurita, 

y no servís siquiera para patear un hand. 

Querés jugar de forward y ser como lo es Piera 

pa'hacer como hace Satre, 

de media cancha un gol, 

querer hacerle goles al colosal Zamora 

y ser, como lo es Sami, el mago del balón. 

Chingás a la pelota, 

chingás en el cariño, 

el corazón de Platko 

te falta, che, chambón. 

Pateando a la ventura, 

no se consiguen goles; 

con juego y picardía 

se altera el marcador. 

Piantáte de la cancha que hacés mala figura 

con fouls y brusquedades te pueden lastimar. 

Te falta tecnicismo, colgá los piparulos. 

De linesman hay puesto, si es que querés jugar. 

El juego no es pa' otarios, tenélo por consejo, 

hay que saber cortarse y ser buen shoteador 

en el arco que cuida la dama de tus sueños, 

mi shot de enamorado acaba de hacer gol... 

Sacate los aspavientos 

vos no tenés más chance, 

ya ni tocás pelota, 

la vas de puro aubol.

 

Te pasa así en el campo 

de amor, donde jugamos: 

mientras corrés la liebre 

te ganó un corazón.

Gardel (na escada) à partida de Barcelona para Buenos Aires, em maio de 1928, com Samitier, Platko e Piera

No meio do documentário «Barça Dreams» encontramos uma relíquia musical: «Patadura» pela voz do inimitável Carlos Gardel, nome maior do tango argentino.

A canção com letra de Enrique Carrera Sotelo e música de José López Ares foi gravado em Paris em dezembro de 1928 por Gardel e mergulha na temática futebolística com um tom ligeiro.

Numa primeira versão, evocam-se as façanhas de craques dos anos 20 do futebol argentino: Miguel Seoane (Independiente), Domingo Tarasconi «Tarasca» (Boca Juniors), Pedro Ochoa «Ochoíta» (Racing) e Luis Monti (San Lorenzo).

Patadura – Carlos Gardel (versão «argentina»)

Porém, Gardel, que passava algumas temporadas em Barcelona e tinha no seu círculo de amigos jogadores do Barcelona como Piera, Platko e Samitier, grande figura e goleador da equipa, gravou uma versão em março de 1929 (há precisamente 90 anos!) também capital francesa e com o selo da editora Odeon. Na adaptação da letra, os jogadores argentinos eram substituídos pela referência aos do Barça: Vicenc Piera, Josep Sastre, Ricardo «El Divino» Zamora, o húngaro Ferenc Platko e, claro, Josep Samitier.

Vale a pena ouvir esta preciosidade musical.

Patadura – Carlos Gardel (versão «barcelonista»)