8 de fevereiro de 2019: data trágica para o futebol brasileiro.

Um incêndio no Ninho do Urubu, centro de treinos do Flamengo, provoca dez mortos.

O clube mais popular do Brasil – mais de 32,5 milhões de adeptos segundo uma recente pesquisa do Ibope – chora a perda de jovens futebolistas.

«A maior tragédia da história do Flamengo», como afirmou o presidente do clube, Rodolfo Landim, serve-nos de motivo para dar a conhecer um pouco mais sobre o centenário emblema do Rio de Janeiro – fundado há 123 anos.

Um livro, uma música e um filme é uma forma de exorcizar os dias negros que se abateram sobre o gigante carioca. Uma espécie de homenagem à nação rubro-negra.

Hoje, a Plateia é do Mengão. E há muito Fla para ver, ouvir e ler.

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VER: «Flamengo Hexa – 100 anos de futebol»

Género: documentário

Produção: Diogo Dahl e Raphael Vieira

Realização: Diogo Dahl

País: Brasil

Duração: 78 minutos

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Duas conquistas com um hiato de mais de três décadas.

O documentário de Diogo Dahl conta a história do triunfo na final do Campeonato Carioca de 1978 frente ao rival Vasco da Gama, que abriu caminho à geração de ouro do Fla, liderada por Zico.

Foi precisamente um canto de Zico para o golo de Rondinelli, «aos 41 minutos do segundo tempo», que decidiu esse «clássico das multidões» no Maracanã e marcou para sempre na história rubro-negra o dia 3 de dezembro de 1978.

31 anos e três dias depois, foi o canto de Petkovic para o golo de Ronaldo Angelim que entrou para a história.

De novo no Maracanã, aquele triunfo na derradeira jornada valeu a conquista do Brasileirão de 2009, o último campeonato nacional conquistado pelo Mengão, quebrando então um jejum de 17 anos.

A recordação das duas campanhas, com imagens inéditas e os testemunhos dos protagonistas servem de pano de fundo deste filme.

«Flamengo Hexa – 100 anos de futebol» foi lançado em DVD, mas a boa novidade é que o filme está também disponível na íntegra no youtube.

Filme na íntegra

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OUVIR: Saudades do Galinho

Autores: Moraes Moreira

Género: MPB

País: Brasil

Duração: 3:05 minutos

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E agora como é que eu fico

nas tardes de domingo?

Sem Zico no Maracanã

Agora como é que eu me vingo

de toda derrota da vida?

Se a cada gol do Flamengo

Eu me sentia um vencedor

Como é que ficamos os meninos, essa nova geração?

Arquibaldo, Geraldinos,

como é que fica o povão?

Será que tem outro em Quintino?

Será que tem outro menino?

Vai renascer a paixão ou não?

Falou mais alto o destino

e o Galinho vai cantar

láiá laiá

vai cantar noutro terreiro

no coração brasileiro

uma esperança

quem sabe o fim dessa história

não seja o V da vitória

o V da volta, volta

Volta Galinho

que aqui tem mais

carinho e dengo

vai e volta em paz que o Flamengo

já sabe como esperar

você voltar

A escolha de uma música sobre o Fla poderia naturalmente recair sobre o popular hino cantado pela poderosa voz de Tim Maia – «Uma vez Flamengo, sempre Flamengo…» – ou então em canções de Jorge Ben Jor sobre craques do clube, como «Fio Maravilha» ou «Camisa 10 da Gávea».

Porém, é esta homenagem menos conhecida a Zico que destacamos entre os inúmeros temas sobre o emblema carioca.

A saída de cena do ídolo-maior da história do Fla, que marcou as décadas de 1970 e 1980, foi um dos momentos de maior provação para os adeptos e o baiano Moraes Moreira captou com particular acerto a angústia da «torcida rubro-negra» na hora do adeus do camisa 10.

«E agora como é que eu fico nas tardes de domingo, sem Zico no Maracanã?» Era uma questão latente para os corações rubro-negros e serviu de mote para o tema sobre o «Galinho de Quintino», que tal como «Pelé Branco» era uma das alcunhas do craque.

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LER: «Histórias do Flamengo»

Autor: Mário Filho

Editora: Mauad

Género: Crónicas

País: Brasil

Páginas: 336

Não há como falar de Flamengo sem falar de Mário Filho.

O jornalista que dá o nome ao Estádio do Maracanã cultivava com o seu irmão Nelson Rodrigues o talento pela escrita uma eterna rivalidade Fla-Flu.

Mário era Flamengo e neste livro conta a história do clube do seu coração com a mesma mestria que empregou em obras como «O Negro no Futebol Brasileiro».

Ler esta bíblia rubro-negra é como mergulhar bem fundo na história do clube mais popular do Brasil. Não é exagero. Este livro – que para o público português pode ser adquirido através da Amazon – foi publicado em 1945 e a sua quarta edição foi lançada em 2014 – quase sete décadas depois – pela editora Mauad.

Desde «O Berço», às origens do Fla-Flu, que, como dizia Nelson Rodrigues, «começou 40 minutos antes do nada», até aos episódios incríveis de personagens do imaginário carioca ou a capítulos como «Coisas que só acontecem ao Flamengo».

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«PLATEIA» é um espaço quinzenal de sugestões culturais sobre futebol do jornalista Sérgio Pires. Pode enviar as suas através do e-mail smpires@mediacapital.pt