PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«A BAREFOOT DREAM» – de Kim Tae-gyun.

Baseado na história, real e incrível, de Kim Won-Kang, a câmara segue o desenrolar da relação entre um treinador de futebol sul-coreano e um grupo de crianças timorenses. Confesso: terminei de ver o filme esmagado pela beleza com que descreve o lado mais puro e ingénuo do futebol.

Reparem: Kim Won-Kang abandona, desiludido com a vida, a Coreia do Sul e ruma a Timor-Leste em busca da felicidade. Abre uma loja de artigos desportivos em Dili, logo depois do problemático referendo de 1999, e estabelece uma ligação fantástica com a população local.

Apaixonado por futebol, Kim começa a observar jogos de rua entre um grupo de crianças. A bola saltita por pés descalços e terra poeirenta. Encantado, aproxima-se do grupo e torna-se uma espécie de tutor desportivo.

Na loja de Kim esperavam dezenas de pares de chuteiras. A bom preço. O problema é que os jovens candidatos a futebolistas mal tinham para sobreviver, quanto mais para investir numas botas de futebol.

Já definitivamente conquistado pelo desafio e a amizade, Kim propõe a cada um deles a entrega de um dólar por dia, em troca do calçado mágico. E tudo se desenvolve em tons poéticos, até a um torneio disputado em Hiroshima, no Japão.

Tudo nesta história é magia, mesmo na forma como chegou a mim.

Mito Alves, leitor do Maisfutebol, é natural de Timor Leste e vive atualmente em Dungannon, na Irlanda do Norte. Foi através de uma mensagem sua que «A Barefoot Dream» entrou na minha vida. Obrigado, caro Mito.



PS: «O Lobo de Wall Street» - de Martin Scorsese.
Nas décadas de 70 e 80 era De Niro; no novo século é Di Caprio. Martin Scorsese nunca se engana. Rodeia-se dos melhores atores, escolhe os melhores guiões, faz os melhores filmes. Simples.

Shutter Island, em 2010, já me tinha deixado profundamente envolvido. Forte, escuro, denso, surpreendente no final. Leo interpreta aí um detetive com graves problemas pessoais/emocionais/mentais. E triunfa.

E agora chega-me esta obra prima, inspirada na vida destrambelhada de Jordan Belfort, um antigo corretor da bolsa de Wall Street, adorador de tudo o que eram substâncias e ações ilegais, de LSD a anões de arremesso.

Já chega de olhar para Di Caprio e condená-lo por Titanic ou Romeu e Julieta. Antes disso já ele tinha sido extraordinário a interpretar Gilbert Grape e a ser inspirador em This Boy’s Life. E quem era o pai de Di Caprio neste filme de 1993? Robert De Niro.

Dois monstros sagrados.



SOUNDCHECK:

«OLE» - The Bouncing Souls.


«Bouncing Souls no one can beat us
We drink beer and wear Adidas
Anywhere we get the itch
We're off to find the proper pitch»


Tantas vezes ouvi esta música. Em festas, em casas de amigos, no carro. Não sabia o nome da banda que a cantava, tomei-a como propriedade do adepto comum. Mas não. Tem dono.

Os The Bouncing Souls são de New Jersey e adeptos do punk rock. Está desfeito o mistério. Vamos lá ouvir mais uma vez este hino que nos persegue. Ole, ole, ole, ole!



PS: «If You Wait» - London Grammar.
O primeiro álbum do trio londrino foi editado em setembro e chegou a número dois no Reino Unido. A voz de Hannah Reid toma conta do ambiente, entorpece-nos os sentidos, encosta-nos num sofá qualquer e fecha-nos os olhos. A guitarra melancólica de Dan Rothman e a parafernália instrumental de Dot Major (bateria, piano, sintetizadores) preenchem as colunas e tudo encaixa.

Uma das minhas grandes descobertas neste início de 2014.



VIRAR A PÁGINA:

«THE BALL IS ROUND» - David Goldblatt.

Mais do que um livro, esta obra é uma enciclopédia universal sobre futebol. São 992 páginas, assustadoras à partida e recompensadoras à chegada. Para pousar na mesinha de cabeceira e folhear com tempo, interesse e paciência.

Uma publicação extraordinária, particularmente nos capítulos sobre o futebol na América do Sul. Curiosidades não faltam, novidades, pelo menos para mim, também não. Querem uma? Fiquei a saber qual o clube que Osama Bin Laden apoiava.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.