15 de Novembro de 1998. 11ª jornada da Liga. Minuto 33 do Benfica-Sp. Braga. O jogo estava empatado a um golo, depois de um primeiro quarto de hora fulgurante, com Kandaurov a abrir o ativo e Odair a empatar. Depois... génio. Classe de um checo supersónico.

«Benfica foi o melhor tempo da minha carreira»

Lembrar Karel Poborsky é, quase sempre, recordar a eliminação de Portugal no Euro 96 e aquele famoso chapéu a Vítor Baía. O golo ao Sp. Braga, naquela tarde de domingo, será, porventura, «o outro golo» do checo. Quem o viu não esquece.

«Foi um momento de inspiração. Tudo saiu bem». Poborsky também se lembra bem daquele golo. Como o do Euro 96. O Maisfutebol falou com o antigo avançado do Benfica, para recordar um dos seus momentos de glória, agora que se aproxima mais um Benfica-Braga.

Escolher entre um golo e outro é, para Poborsky, como escolher entre dois filhos. «É difícil dizer qual foi o melhor. São os golos que toda a gente- e eu incluído- vê como os melhores que fiz na minha carreira. São muito famosos. Ainda hoje vêm falar comigo por causa deles», diz o ex-avançado.

«O golo pelo Benfica fez-me famoso em Portugal. O golo no Euro 96 fez-me famoso no mundo. Foi por causa desse golo que fui para o Manchester United, não tenho dúvidas. Em Portugal já me conheciam por causa desse golo. Talvez até nem gostassem de mim...», brinca.

Zé Nuno: «Tentei empurrá-lo para a lateral»

Centro para a área do Benfica. Paulo Madeira corta de cabeça ao primeiro poste e a bola vai ter a Poborsky que, ainda no seu meio campo, deixa para trás o primeiro homem do Sp. Braga. Aproveita o espaço para correr até à sua área onde engana Zé Nuno Azevedo, Bruno e Mozer, antes de marcar. Na baliza...Quim. A mostrar que ainda há coisas que não mudam.

Zé Nuno fala no «talento enorme» do checo quando confrontado pelo Maisfutebol com este golo. O que pode fazer um defesa? «A solução seria cortar o mal pela raiz, ou seja, parar o jogador antes que embale. Porque depois é difícil e só uma má decisão dele, muitas vezes, nos permite resolver o lance. Primeiro tentei contê-lo, para que perdesse tempo e pudessem chegar mais colegas para me ajudar», explica.

«Depois tentei empurrá-lo para a lateral, mas ele não se deixou enganar foi para o centro e fez golo. É um lance de génio, uma arrancada quase de uma área à outra e o talento dele fez a diferença», resume o ex-jogador do Sp. Braga.

Agora que se conhece a obra de arte, fazer uma falta que acabasse com o momento de inspiração pode ser visto como um atentado ao futebol? «As faltas fazem parte do futebol e há muitas situações é que são a única solução. Mas acabamos por nem conseguir chegar perto dele», lamenta Zé Nuno.

«Maradona? Esse foi o melhor de sempre!»

Poborsky correu, correu, fintou, marcou e prostrou-se de joelhos na Luz. O Benfica viria a ganhar por 4-1. Mas, sem sombra de dúvida, o momento do jogo foi aquela arrancada ao estilo de Maradona, doze anos antes.

Poborsky admite que se compare os momentos. Mas não as pessoas. «Não imagino o sentimento do Maradona depois de marcar aquele golo à Inglaterra. Para mim ele é o melhor de sempre e não posso ser comparado a ele. Mas, claro, é sempre bom que os meus golos sejam lembrados e é verdade que esse golo tem algumas semelhanças. Mas não me comparem ao Maradona...», pede.

Ficha de jogo:

BENFICA: Preudhomme, Calado, Paulo Madeira, Ronaldo e Minto; Hugo Leal; Poborsky, Kandaurov e Pembridge; João Pinto e Nuno Gomes.

SP. BRAGA: Quim, Zé Nuno, Artur Jorge, Odair e Lino; Mozer (Toni, 75), Jordão, Bruno (Gamboa, 83) e Castanheira (L. Miguel, 54); Silva e Karoglan

Golos: Kandaurov, 3; Odair, 13; Poborsky, 33; João Pinto, 57; Nuno Gomes, 89