A melhor coisa que aconteceu ao Gil Vicente este ano foi não entrar em negação. Percebeu que havia um problema, facilmente detetado por toda a estirpe de sintomas mostrados na aflitiva temporada passada, encarou-o e, aparentemente, resolveu-o. Segue embalado na Liga. A vitória sobre o V. Guimarães (1-0), este domingo, é apenas mais um capítulo de uma história cada vez mais interessante.

Mais do que mudar de timoneiro, o Gil mudou de tendência. Fechou a via aberta para o Brasil, de onde chegavam mais desconfianças do que valores, olhou com critério para os escalões secundários e criou uma equipa. Aí, naturalmente, parte do mérito tem de ser dado a João de Deus.

Mas também aos jogadores. Avto, Vítor Gonçalves, Paulinho ou Gabriel (para não falar do ausente Diogo Viana) são homens que andavam «perdidos» na II Liga. O Gil acolheu-os e agora colhe os frutos.

É verdade que a equipa não pratica sempre um futebol de encantar. Mas, mais uma vez esta noite, mostrou ser um bloco compacto, consciente do que faz bem e mal. Isso costuma ser meio caminho andado para conseguir bons resultados. E esta noite voltou a ser.

Ao intervalo, mesmo que o jogo até estivesse algo repartido, a vantagem gilista explicava-se pelo maior número de ocasiões para marcar.

João Vilela, pouco inspirado na finalização, falhou a mais flagrante, de forma disparatada, logo aos nove minutos. Bem mais soberana, por exemplo, do que o lance que deu a vitória.

O relógio começava a fugir da meia hora, César Peixoto recolheu fora da área, olhou a baliza e encheu o pé. A bola saiu com violência, mas com uma direção que parecia ter destino definido: as mãos de Douglas. Num momento de desconcentração incrível, o brasileiro falhou. Um frango a dar vantagem ao galo.

Peixoto: faltou um bocadinho assim...

A primeira mudança de Rui Vitória no jogo foi forçada. Marco Matias lesionou-se, Nii Plange saltou para jogo. No segundo tempo, já depois do próprio Plange ter falhado na cara de Adriano, foi Maazou a arma encontrada, para o lugar do apagado Tiago Rodrigues.

O problema é que o Vitória mostrava problemas em construir. O bloco formado por Luan, Vítor Gonçalves, João Vilela e César Peixoto era extremamente eficaz. O brasileiro destruía, os portugueses ajudavam e lançavam os raides de Avto.

O georgiano, que João de Deus fez questão de trazer da Oliveirense, dava muito que fazer aos laterais vimaranenses. E o Gil parecia confortável no jogo.

É verdade que Maazou, numa saída mal calculada de Adriano, esteve muito perto de empatar, mas o Gil não se limitava a defender. E até dava espetáculo.

O lance em que César Peixoto tenta uma bicicleta após centro de Avto era um golo de uma vida. Acabou nas malhas laterais. E o mesmo Peixoto ainda esteve perto de voltar a marcar de canto direto, com Douglas a desviar para a trave.

Caso o relato não esteja a ser suficientemente explícito, convém realçar que, por esta altura, assistia-se a um belo jogo em Barcelos. Porque o Vitória atacava mais, mas com pouco critério. O Gil ia pela certa e levava perigo.

Na defesa mostrava o sofrimento que já se viu noutras pelejas, como naquela célebre vitória frente ao Sp. Braga com nove jogadores. E, assim, aguentou a magra vantagem.

Com isso isolou-se no quarto lugar, com 17 pontos. Apenas atrás dos três grandes. Por falar neles: alguém já reparou que este Gil ainda só perdeu com F.C. Porto e Benfica? E todos se lembram como foi na Luz...

Num jogo destes não deveria ser necessário falar-se de arbitragem, mas tem de ser. Gabriel, por entrada duríssima sobre Leonel Olímpio; Barrientos por responder à letra a Gabriel e Douglas, por agredir Paulinho na área (era penálti...) deveriam ter ido tomar banho mais cedo.

À nona jornada não há dúvidas: esta é a melhor equipa do Gil em muitos anos na Liga. Talvez de sempre. Nem na época 1999/00, gravada a letras douradas na história do clube pelo quinto lugar final, a equipa tinha tantos pontos. Somava «apenas» 14.

Falta, agora, ver como acaba. A curiosidade, essa, já a aguçaram.