A sabedoria popular diz que as mulheres são capazes de desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo. Fátima Moreira de Melo, uma das maiores figuras do torneio europeu da PokerStars que decorre em Barcelona, personifica quem defende a teoria acima referida.

Filha de pai português e mãe holandesa, Fátima destaca-se inicialmente no hóquei em campo, desporto no qual alcança três medalhas olímpicas (bronze em Sidney, prata em Atenas e ouro em Pequim), é apaixonada por ténis e licenciada em direito, e uma das melhores jogadoras do circuito mundial de póquer.

«Candidatei-me a medicina durante três anos, mas na Holanda é como uma lotaria e nunca consegui o número vencedor. Acabei por estudar direito. Ainda assim, sou uma sortuda por ter encontrado o meu lado criativo. Trabalho em televisão, jogo ténis quando quero e póquer a um nível muito alto. É assim que vejo a vida», confessa a luso-holandesa, em entrevista ao Maisfutebol, após o primeiro dia de competição.

«Sou uma pessoa muito competitiva desde criança, independentemente do jogo. Fosse monopólio, xadrez, hóquei ou ténis era muito competitiva. Até no ballet e no yoga», acrescenta em forma de justificação.

Pese embora se apresente como uma competidora nata, Fátima traça metas com apenas o intuito de se desenvolver. «Gosto de superar-me, de desenvolver-me e de tornar-me melhor. São vitórias pessoais que valem mais do que bater alguém.»
 

Fátima num jogo entre Holanda e Argentina



Finda a carreira de hoquista, Fátima começa a jogar póquer como passatempo. Longe de imaginar que chegaria a participar em torneios profissionais nos quatro cantos do mundo, portanto.

«Comecei a jogar em 2007 por diversão. Na altura houve um grande crescimento na Holanda e comecei a jogar às sextas-feiras à noite com os meus amigos na cozinha. Jogava também com o meu marido no início da nossa relação. Usávamos óculos de sol apenas por diversão. Era tão fácil fazer bluff contra ele», recorda, entre risos.

Volvidos dois anos, Fátima deixa a tal cozinha e muda-se para um lugar completamente diferente: cheio de mesas, na qual só é posível ouvir fichas a bater na mesa ou a saltar de mão em mão. A mudança brutal não foi, naturalmente, simples.

«A PokerStars abordou-me para ser embaixadora na Holanda. Aceitei de imediato. Adoro póquer, jogava todas as sextas-feiras e achava que era verdadeiramente boa. Depois comecei a jogar e percebi que não sabia muito. Percebi que era má, aprendi e agora desfruto», refere com um sorriso nos lábios.




A conversa, em inglês, flui com naturalidade. Fátima esclarece o fascínio pelo póquer e reflete sobre casos práticos.

«Adoro o facto de ser obrigada a tomar a melhor decisão. O póquer é sobre acumular informação, ler as pessoas e decidir consoante tudo isso. Por exemplo, se tenho um par de ases e outro jogador um par de reis faço all in. É a melhor decisão, mas depois se sai outro rei e perco… já fazia esta análise inconscientemente quando jogava outros jogos, mas o póquer tornou-me uma pessoa analítica», observa.

Aos 41 anos, a luso-holandesa tem um percurso peculiar, muito raro de facto. É, como a própria faz questão de sublinhar, a forma de encarar a vida.

«Não temos de nos sentir agarrados. É algo ao qual as gerações anteriores não estavam habituadas. Se os pais têm uma padaria, não significa que tenhas de seguir o mesmo caminho. Porventura, essa pessoa é boa a jogar xadrez, andar de skate ou a fazer amor. Gosto de explorar, acho que é o humano. Se for uma m****, desisto. Mas nada me impede de tentar», atenta.

«Estou a viajar e aproveitar a vida», resume.

Fátima quebra preconceitos, não segue regras. Simplesmente… vive.



Maisfutebol viajou a convite da PokerStars