Quando um atleta se envolve numa polémica, num escândalo, em algo que é censurável perante a opinião pública, os patrocinadores são umas das personagens indispensáveis do desporto a fazerem questão de se pronunciar quando consideram que a reação a ter deve ser de condenação.

Em grande parte das vezes, essa condenação é corporizada com o termo dos contratos existentes numa significação de que o patrocinador que antes apoiava o atleta agora em falta o censura pelo que sucedeu – e que se afasta a sua marca de uma associação ao que acabou de reprovar.

Foi também isso que sucedeu nesta semana entre a Nike e Manny Pacquiao depois de palavras do pugilista filipino que causaram choque e polémica pela discriminação sexual que significaram.

Esta é uma lista de dez estrelas do desporto que sabem o que é isso:

MANNY PACQUIAO

Manny Pacquiao ficou sem o patrocínio da marca de equipamento desportivo Nike depois das declarações polémicas sobre homossexuais comparando-os a «animais». Virado para a política como candidato ao senado filipino, o pugilista em fim de carreira afirmou numa entrevista que «se aprovamos [o sexo de] homens com homens e mulheres com mulheres, isso significa que o homem é pior do que um animal». «Veem animais a ter relações homossexuais? Os animais são melhores, sabem distinguir o masculino do feminino». As condenações das palavras discriminatórias não se fizeram esperar. Pacquiao retratou-se – «Peço perdão por ter causado danos às pessoas comparando os homossexuais a animais. Ainda sou contra o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo pelo que diz a Bíblia, mas não estou a condenar os LGBT.» –, mas a Nike anunciou a cessão do patrocínio do pugilista filipino na sequência do comentário que considerou «abominável» e opondo-se «ferozmente à discriminação de qualquer tipo». Lembrando «um longo historial de apoio e defesa da comunidade LGBT», a Nike foi inequívoca: «Deixámos de ter uma relação com Manny Pacquiao.»

TIGER WOODS

O golfista norte-americano é um dos mais emblemáticos exemplos das reações dos patrocinadores com as polémicas dos seus patrocinados. O escândalo por vários casos de infidelidade de Tiger Woods foi crescendo no final de 2009. Quando aquele que é considerado um dos dois maiores golfistas de sempre admitiu aquilo que a opinião pública já tinha por certo, pedindo desculpas pelo que fez à sua família e anunciando uma pausa no golfe, aconteceu o inevitável. O desportista habituado a estar anos seguidos no topo dos mais bem pagos do planeta (muito por cauda dos patrocínios) ficou rapidamente sem uma série de patrocinadores: Gillete (produtos de higiene), Accenture (consultoria), AT&T (telecomunicações), Gatorade (bebidas energéticas) ou Tag Heuer (relógios). Woods não perdeu todos os patrocínios, como o da Rolex (relógios) ou da Nike, mas a marca desportiva castigou-o com um corte para metade no pagamento dos anos seguintes.

LANCE ARMSTRONG

Este é o outro exemplo maior de um escândalo e de uma reação por quem pagava para ter a imagem de um ícone desportivo a representá-lo. Lance Armstrong não só tinha o estatuto de maior de sempre na sua modalidade como perdeu os sete títulos de vencedor da Volta a França pelo comportamento (anti-)desportivo: pela batota do recurso ao doping. O escândalo desportivo consumou-se em 2012, num outubro negro para o ciclismo. E se os seus patrocinadores o apoiaram enquanto decorriam as investigações das instâncias dos EUA, quando o caso passou a internacional não perderam tempo em desassociar-se do ciclista norte-americano. A Nike retirou o seu patrocínio justificando-se com «provas aparentemente inequívocas de que Lance Armstrong esteve envolvido em casos de doping, enganando a Nike por mais de uma década». Anheuser-Busch InBev (bebidas), Trek Bicycle Corp (bicicletas), FRS (bebidas energéticas) ou Honey Stinger (nutrientes desportivos) foram outros dos patrocinadores a terminarem os contratos.

OSCAR PISTORIUS

Em fevereiro de 2013, Oscar Pistorius baleou mortalmente a sua namorada, Reeva Steenkamp. O atleta alegou que disparou porque pensou ser um assaltante. O caso de tribunal com um atleta mais mediático desde o de O.J. Simpson começou para decidir entre a negligência e a premeditação. Os seus patrocinadores – no valor de mais de dois milhões e meio de euros – apoiaram-no também inicialmente (na sua maioria), mas, a caminho do final do ano, a Oakley (marca de óculos) cessou o patrocínio e a Nike anunciou «não ter intenção de continuar» a parceria. Pistorius começou a ser julgado em março de 2014. Entre condenações e recursos o sul-africano está em prisão domiciliária.

ADRIAN PETERSON

Em setembro de 2014, Adrian Peterson foi acusado pela Justiça de maus tratos para com o seu filho. Assim que o caso começou a ser julgado, o running back dos Minnesota Vikings perdeu desde logo os patrocínios de duas multinacionais: a Nike e a Castrol (lubrificantes). Mas a reação dos patrocinadores ao caso mostrou-se ainda antes em relação à própria equipa da NFL. Os Vikings manifestaram inicialmente vontade de que a sua maior estrela continuasse a jogar enquanto durasse o julgamento. A cadeia de hotéis Radisson anunciou desde logo a suspensão do patrocínio das conferências de imprensa, com um ano ainda de duração – passado esse tempo a empresa anunciou que não renovava a ligação à equipa. Peterson acabou suspenso pelos Vikings. Dois meses depois, o jogador da NFL não contestou uma acusação menos gravosa do que a inicial. Em dezembro de 2014, Peterson pedia à NFL que tivesse em conta as suas perdas em patrocínios na ordem de 4 milhões de dólares (cerca de 5,1 milhões de euros) como atenuante para o castigo desportivo. Na época que agora terminou o jogador dos vikings voltou ao ativo e já com o patrocínio da marca desportiva Adidas.

AARON HERNADEZ

O caso de Aaron Hernandez foi o mais grave de um jogador da NFL na análise judicial. O antigo tigh end dos New England Patriots foi condenado a prisão perpétua por homicídio. A sentença foi em 2015. A acusação foi formalizada dois anos antes, em junho de 2013, quando foi detido. A Puma anunciou então o fim do contrato estabelecido com Hernandez em abril desse mesmo ano com vista a um programa de treino de atletas masculinos. «A Puma terminou a relação com o atleta Aaron Hernandez à luz da corrente situação», informou a marca desportiva. Mas foi ainda dias antes de Hernandez ser preso que os patrocinadores começaram a separar-se da sua imagem. Não só os Ravens dispensaram o jogador como a empresa CytoSport pôs fim ao patrocínio pelo anúncio do seu produto «Muscle Milk» ainda antes da emissão do mandado de detenção. Foi também «à luz da investigação» que a CytoSport comunicou o fim do contrato de patrocínio com «efeitos imediatos».

KOBE BRYANT

O basquetebolista norte-americano que anunciou em 2015 que termina a carreira no final desta época sofreu um forte abalo na imagem quando foi acusado de agressão sexual por uma rapariga de 19 anos. Estava-se em 2003. A acusação pública acabou por cair dado a vítima não ter testemunhado em tribunal. No processo civil que decorreu paralelamente foi feito um acordo entre as partes que evitou a resolução pelo tribunal. Kobe Bryant manteve a maioria dos patrocinadores e dos milhões de dólares em contratos, que não desistiram da estrela da NBA. Mas houve marcas simbólicas no âmbito da alimentação, como a McDonald’s ou a Ferrero, que desistiram de renovar os contratos de patrocínio.

MIKE TYSON

Os problemas de Mike Tyson com os patrocinadores começaram ainda no final da década de 1980 depois de acusações de violência e abuso feitas pela sua primeira mulher, Robin Givens. As separações começaram pela marca de refrigerantes Pepsi desde logo. Mas não demorou muito a que vários outros patrocinadores de renome o deixassem com perdas na ordem dos 13 milhões de euros. A vida atribulada do antigo pugilista que acabou preso num caso de violação foi também responsável pelo cancelamento de parcerias inicialmente previstas com a Kodak (material fotográfico) ou com a Nintendo (videojogos).

WAYNE ROONEY

O capitão do United também foi punido na conta bancária depois de ter sido envolvido num escândalo de alegada infidelidade quando a sua mulher estava grávida, em 2010. Marcas como a Nike ou a EA Sports (videojogos) mantiveram-se ao lado de Wayne Rooney, mas multinacionais como a gigante dos refrigerantes Coca-Cola, que se mostrou «repugnada», afastaram-se do internacional inglês; e o prejuízo nos patrocínios pelas marcas de bebidas (os maiores) não se ficaram por aí, pois a cerveja asiática Tiger também cancelou os anúncios previstos.

BARRY BONDS

O recordista de home runs do beisebol dos EUA também foi apanhado no doping por alturas de 2007. O batedor que representou os Pittsburgh Pirates e os San Francisco Giants não recuperou das acusações de consumo de esteroides e terminou a carreira nesse mesmo ano. Barry Bonds alegou ter tomado doping em 2004 sem ter tido conhecimento, mas a Justiça condenou-o por obstrução. E os seus grandes patrocinadores também o apartaram. Marcas como as dos cartões bancários MasterCard, ou as de alimentação como a KFC afastaram-se de Bond com perdas, na altura, para o agora treinador de beisebol na ordem das três a quatro dezenas de milhões de dólares.

P.S. 1

Recentemente, houve dois casos no futebol que entram também nesta relação entre atletas e patrocinadores, como foram os de Karim Benzema e de Adam Johnson. O caso de tribunal que decorre envolvendo o jogador francês numa alegada chantagem ao compatriota Mathieu Valbuena não teve reação negativa pela Adidas; apenas o silêncio. Já no caso de Adam Johnson, que se declarou culpado de dois crimes sexuais com uma menor, a Adidas confirmou que «terminou o contrato» com o futebolista inglês «com efeito imediato» depois das «suas declarações como culpado». Johnson perdeu o patrocínio e o emprego, pois o Sunderland também rescindiu o contrato com o avançado.

P.S. 2

Mas nem só os jogadores são renegados pelos patrocinadores depois de se terem envolvido em escândalos. A FIFA e IAAF estão também no centro de um furacão de perda de patrocínios depois dos escândalos no futebol de corrupção e no atletismo de doping e corrupção que têm minado a credibilidade dos dois organismos. A FIFA já perdeu patrocínios de multinacionais como a gigante Sony (eletrónica, produtora de cinema, editora de música) a Emirates (aviação), a Johnson & Johnson (higiene), a Continental (pneus) ou a Castrol. A IAAF já perdeu a parceria com a Nestlé (produtos alimentares).