Comecemos pela conclusão: teste positivo. Depois da cor cinzenta que marcou os jogos com a China e Cabo Verde, Portugal afastou alguns fantasmas. Não fez tudo bem, é certo, mostrou que ainda há caminho a percorrer, mas, acima de tudo, e a 15 dias do início do Mundial, deu a sensação de que os aspectos a corrigir são...corrigíveis. É preciso trabalhar e acreditar. A vitória sobre os Camarões (3-1) teve o condão de devolver isso mesmo: a crença.

Carlos Queiroz tinha prometido um jogo de surpresas. Uma partida de aventuras, para testar outras soluções. O seleccionador português sempre fez questão de lembrar, aliás, que é para isso mesmo que servem estes encontros. Mas a verdade é que Queiroz mostrou que também queria vencer. O onze inicial apresentado, muito perto daquele que se prevê para Portugal no Mundial, é a prova da ambição do seleccionador.

E com isso, um jogo que seria de aventuras, tornou-se num encontro de confirmações. A confirmação de que a luta entre Duda e Fábio Coentrão e entre Simão e Nani vai ser severa. A confirmação que, fora um ou outro calafrio, a defesa lusa parece dar garantias, podendo, assim, fazer jus ao discurso de Queiroz, que lembrou a eficácia defensiva dos últimos campeões do mundo. A confirmação de que quando Deco está bem, o jogo português flui de uma forma completamente diferente. E, porque não, a confirmação de que Portugal ainda não tem o Ronaldo que precisa.

Até o adversário, rotulado de atrevido a atacar mas frágil a defender, confirmou o epíteto. É certo que a traição de Etoo baralhou, e muito, as contas a Paul Le Guen. Mas Portugal até já vencia nessa altura, num bom lance ofensivo, que começou numa combinação entre Paulo Ferreira e Simão e culminou com um pontapé indefensável de Raul Meireles.

Testes chegam no segundo tempo

A equipa lusa é mesmo movida a Deco. Estando bem, o médio é um acréscimo gigante de qualidade, ainda por cima numa noite em que Cristiano Ronaldo esteve muito pouco inspirado. E foi dos pés de Deco que vieram alguns dos melhores lances do primeiro tempo, ainda antes do golo luso.

A segunda parte trouxe uma inovação táctica para Portugal. Afinal Queiroz queria mesmo usar o jogo para fazer testes. Sem um ponta de lança fixo na área, a selecção passou a alinhar num 4-3-3 estranho, rapidamente transformável em 4-4-2. Ronaldo e Nani flectiam das alas para o meio e Danny a jogar como falso ponta de lança. O médio do Zenit apareceu muitas vezes no coração da área, mas a sua missão ia mais longe. Carrilar jogo para a frente, solicitando a rapidez dos extremos.

Ainda não se tinha testado a funcionalidade do novo esquema e Portugal voltou a marcar. De novo por Raul Meireles, num lance estranho em que o médio do F.C. Porto pareceu querer cruzar, mas acabou por marcar. Algo raro, senão inédito, ver Raul Meireles fazer dois golos num jogo.

Webo estraga recorde, Nani encanta no final

Com o golo, Queiroz lançou Rolando e Fábio Coentrão. Mexeu na defesa, portanto. Consequência ou não, pouco depois os Camarões reduziram, num excelente apontamento de Webo, de cabeça, sem qualquer hipótese para Eduardo.

A baliza portuguesa é assim violada ao oitavo jogo, caindo por terra a hipótese de bater um recorde. Seria necessário aguentar este jogo sem golos sofridos. Há que partir para outra.

O golo acabou por não fazer tremer tanto quando se poderia esperar. Portugal tentou serenar o jogo e acabou por conseguir o golo da tranquilidade ao minuto 81, num grande golo de Nani. Uma chapelada a Kameni que levantou o estádio e deu um final feliz a toda a passagem lusa pela Covilhã.