É um golo ao nível da sua relevância histórica. António Sousa a receber a bola à entrada da área, a mirar ameaçador o portero Arconada e a picar a bola num arco perfeito. Portugal marcava pela primeira vez num Campeonato da Europa. 17 de junho de 1984.

O adversário era o mesmo de agora: Espanha, velho vizinho ibérico. A imagem correu mundo, mas jamais abandonou a memória do autor. «É impossível esquecer-me. Foi um chapéu feliz, cheio de intenção. Estivemos a vencer, mas o Santillana empatou já na fase final», recorda ao Maisfutebol.

Há 28 anos o empate foi suficiente para Portugal passar às meias-finais. Perderia nessa fase mais adiantada aos pés da França, a equipa da casa. «Tínhamos empatado antes contra a RFA e vencemos depois a Roménia, até sermos eliminados nas meias-finais. Fizemos história».

A esta distância, Sousa ainda identifica o principal óbice dessa representação nacional. «Tínhamos demasiados bons jogadores (risos). Repare no meio-campo: eu, Carlos Manuel, Frasco, Jaime Pacheco e Chalana, todos no apoio ao Jordão».

«Chalana era um diabo à solta de bigode»

Do outro lado, a olhar impotente o remate teatral de Sousa, estava Julio Alberto, defesa do Barcelona e da seleção roja. «Claro que me lembro desse jogo e do golo do Sousa. Mas de quem mais me lembro era do Chalana, um diabo à solta de bigode», diz de imediato.

«O jogo foi equilibrado, creio mesmo que o empate foi justo», acrescenta, no que é correspondido por Sousa. «Sim, a Espanha estava a perder e reagiu muito bem. Acabaram por marcar num lance de grande confusão dentro da nossa área».

Sousa fala de uma Espanha «muito, muito forte» em 1984 e Julio Alberto de um Portugal «tremendamente inteligente, matreiro». Nada que se possa decalcar ao contexto atual.

«É difícil fazer essa comparação», considera Sousa. «A Espanha é a seleção mais forte do mundo, mas não tem estado tão forte como se esperava. Há dias negativos e Portugal pode aproveitar».

Julio Alberto teme, essencialmente, «Cristiano Ronaldo e Nani». Uma avaliação que encaixa perfeitamente na de António Sousa. «O ponto menos forte da Espanha são as laterais da defesa. O Arbeloa e o Jordi Alba podem ser explorados».

Veja o resumo do 1-1 no Euro84: