«Foram muitos anos de sofrimento, mas também de crença». Aos 30 anos, José Fonte sente que tudo valeu a pena. A primeira chamada à Seleção Nacional deixa o central do Southampton emocionado, e ao pesar os altos e baixos da carreira tudo faz sentido.

Os momentos difíceis pelos quais passou parecem agora insignificantes, perante a conquista de um sonho. «Acredito que as contrariedades e as desilusões são normais. Sempre fui ensinado pelos meus pais a levantar a cabeça», começa por dizer o defesa do Southampton, em conversa com o Maisfutebol.

José Fonte tinha doze anos quando foi dispensado pelo Sporting. Mudou-se então para o Sacavenense, e acabou por convencer os responsáveis leoninos a contratá-lo novamente, três anos depois. Já como sénior, e após duas épocas na equipa B leonina, voltaria a deixar Alvalade.

Tinha então 21 anos. Com Norton de Matos a treinador passou depois por Salgueiros, Felgueiras e Vitória de Setúbal. Muitas vezes com ordenados em atraso, mas com uma qualidade exibicional que fez o Benfica contratá-lo no final de 2005. Um ano e meio depois estava de volta a um «grande», mas na Luz também não conseguiu fixar-se na equipa principal. Foi emprestado a Paços de Ferreira, Estrela da Amadora e Crystal Palace, clube que acabou por comprá-lo em 2008.

Ao fim de dois anos e meio no segundo escalão do futebol inglês decidiu descer novamente um degrau. Trocou o Crystal Palace, do Championship, pelo projeto do Southampton, então na League One. A aposta revelou-se acertada: tornou-se um dos capitães do clube que, em 2011/12, subiu à Premier League. Naquela que é, para muitos, o principal campeonato do mundo, José Fonte tem estado em amplo destaque, e aos 30 anos recebe finalmente o prémio da chamada à Seleção.

A importância das desilusões

«A forma de superar os contratempos era trabalhar. Era provar às pessoas que estavam erradas, mas acima de tudo provar a mim mesmo que tinha qualidade. Procurei sempre trabalhar mais do que os outros. Foram muitos anos de sofrimentos mas também de crença. Se tivermos força mental tudo se consegue», diz o jogador ao Maisfutebol.

«Esses contratempos foram importantíssimos na minha carreira. As desilusões fizeram-me crescer. Foi isso que se passou comigo. Tudo faz parte. Foram momentos-chave», reforça.

José Fonte recebeu nesta sexta-feira «uma das melhores notícias que podia receber». Dada por Ronald Koeman, o seu treinador. «No final do treino veio ter comigo e disse-me que estava muito feliz por mim. Os colegas também me deram os parabéns. Foi um treino feliz. É o sonho de qualquer jogador», afirma.

O defesa admite, contudo, que a primeira chamada à Seleção ainda não está bem assimilada: «Ainda não caiu bem. Temos um jogo importante no domingo, e só depois quando entrar no avião, quando chegar a Óbidos, é que vou sentir mais as emoções.»

Estar pela primeira vez com a equipa das quinas já é um sonho cumprido, mas Fonte não quer ficar para aqui. «O objetivo é ajudar o mister naquilo que for preciso. Em primeiro lugar está a equipa, sempre foi assim. Claro que o objetivo passa sempre por ajudar dentro de campo, por trabalhar para merecer a confiança do selecionador. O objetivo é conseguir a primeira internacionalização», admite.

Pepe, Ricardo Carvalho e Bruno Alves são os outros centrais convocados por Fernando Santos. «É um orgulho partilhar o balneário com eles. São jogadores com um grande passado ao nível dos clubes e da Seleção. A competição é saudável, e depois o mister decide», defende o jogador do Southampton.

José Fonte admite que «houve momentos de desânimo», ao ver que não estava nos planos da Seleção (esta foi a primeira vez que foi pré-convocado), mas procurou sempre dar o máximo no clube, pois só assim era possível manter aberta a porta da equipa das quinas.

«Sempre tive que lutar muito pelo que queria. Este foi mais um caso. Continuei a trabalhar e a esperar, pacientemente. É uma honra enorme, um orgulho imenso para mim, para a minha família e para os meus amigos», conclui.