A goleada sobre a Suíça tem todo o ar de ter marcado um antes e um depois no percurso da Seleção Nacional no Mundial 2022: Fernando Santos tomou uma decisão corajosa, deixou Cristiano Ronaldo no banco e a resposta da equipa foi um festival de futebol.

Há quem olhe para aquele jogo como a melhor exibição de Portugal em muitos anos.

Ora por isso, e porque o que aconteceu na terça-feira foi uma afirmação de talento, o Maisfutebol foi tentar perceber se mudou a perceção que os adversários têm de Porutgal. Países como o Brasil, a França, a Argentina ou a Inglaterra olham agora com mais cuidado?

Para procurar as respostas, falámos com um jornalista de um jornal de referência de cada país.

«Sempre se soube que Portugal reúne em grande número jogadores que estão na elite, mas até agora não tinha mostrado futebol para ser favorito a ganhar o Mundial. Frente à Suíça, sim, esse futebol apareceu», refere por exemplo André Kfouri, comentador da ESPN Brasil.

«Toda a gente consegue perceber o potencial da seleção portuguesa, mas a verdade é que nunca tinha jogado de forma a entusiasmar os adeptos. Até terça-feira à noite. Por isso diria que sim, que a perceção que se tem de Portugal transformou-se completamente. O Brasil ainda continua a ser o maior favorito, tem um trabalho de Tite de vários anos, mas Portugal e França vêm logo no grupo a seguir», atira Peter Rutzler, jornalista do The Athletic.

A verdade é que a Seleção Nacional deixou uma imagem de equipa que até agora não existia: Portugal era a soma de várias individualidades, que não formavam um coletivo forte.

O jogo com a Suíça mudou isso e colocou os olhos adversários sobre a nossa seleção. Mas a verdade é que ainda ninguém coloca Portugal no topo dos favoritos a vencer.

«Nós os argentinos acreditamos que este Mundial é para Messi e para esta seleção argentina, porque está muito bem enquanto grupo, joga bem e tem confiança», garante por exemplo Tato Aguilera, jornalista da TyC Sports.

Leia todas as explicações nos depoimentos que se seguem.

BRASIL

André Kfouri, comentador da ESPN

«Acho que sim, que a goleada sobre a Suíça mudou a perceção de como o mundo olha para Portugal. Talvez a seleção portuguesa seja a que mais melhorou desde a estreia. Claro que a Argentina também progrediu muito, mas a Argentina começou o Mundial com uma derrota histórica. Portugal, em termos de desempenho, em termos de técnica coletiva, deu um salto notável. Sempre se soube que reúne em grande número jogadores que estão na elite do futebol e que são destaques nos seus clubes, mas até agora não tinha mostrado futebol para ser favorito a ganhar o Mundial. Frente à Suíça, sim, esse futebol apareceu. Os favoritos para os adeptos brasileiros continuam a ser os mesmos: o Brasil, por razões óbvias, a Argentina (sobretudo após ganhar a Copa América no Maracanã) e a França, que tem Mbappé, tem vários jogadores de destaque, sobretudo no ataque, e tem um conceito trabalhado há muito tempo. Portugal não era visto assim, mas a minha impressão é que as coisas mudaram após a goleada sobre a Suíça. Não só por causa do resultado, mas também do futebol apresentado: o efeito da ausência do Ronaldo em campo foi muito benéfico para jogadores como Bernardo Silva ou João Félix. Mas Brasil, Argentina e França continuam um degrau acima em termos de favoritismo.»

INGLATERRA

Peter Rutzler, The Athletic

Acho que a vitória de Portugal sobre a Suíça mudou o status de Portugal em Inglaterra. Os ingleses de uma forma geral viam Portugal como um candidato, mas não o viam como um candidato sério. E isso é estranho, porque toda a gente consegue perceber o potencial da seleção portuguesa, o talento que Fernando Santos tem ao seu dispor. Mas a verdade é que Portugal nunca tinha jogado de forma a entusiasmar os adeptos. Até terça-feira à noite. O que me pareceu é que Portugal surgiu livre e solto no ataque. Claro que deixar Cristiano Ronaldo no banco provoca sempre muito barulho, mas por outro lado trouxe fluidez ao jogo de Portugal, Gonçalo Ramos trouxe dinamismo à posição 9 e João Félix jogou a um nível a que já não o víamos jogar desde que deixou o Benfica. A Suíça, não se deixem enganar, é uma equipa impressionante, com muitos jogadores de qualidade, muito organizada defensivamente e rigorosa. Claro que teve problemas, alterou a tática e sentiu a ausência de Silvan Widmer, mas isso não explica tudo. O que Portugal fez foi uma tremenda afirmação de qualidade. Por isso diria que sim, a perceção que se tem de Portugal transformou-se completamente após a goleada à Suíça. Acho que agora são uns candidatos muito sérios neste Mundial. Acho que o Brasil ainda continua a ser o maior favorito, porque tem muita qualidade técnica e o Tite construiu uma equipa solta com um trabalho de vários anos. O Brasil tem uma aura à volta e ainda está acima de todos. Portugal e França vêm logo no grupo a seguir, e acho que a Inglaterra um pouco mais atrás.

FRANÇA

Loic Tanzi, jornalista do L’Équipe

«Em França sempre acreditámos que Portugal era um dos grandes candidatos no Mundial. Talvez não o favorito a ganhar, mas um dos melhores underdogs. É uma equipa muito forte e que tem tudo para chegar à final. Havia a dúvida sobre como o selecionador ia lidar com o problema Cristiano Ronaldo e como isso ia afetar a equipa. A resposta que foi dada deixou poucas dúvidas sobre isso. Se a França passar Inglaterra e Portugal fizer o normal frente a Marrocos, um França-Portugal nas meias-finais vai ser fabuloso. Eu acredito que a França ainda é assim mais forte e pode ganhar o Mundial, mas iria ser um grande jogo de certeza. Aliás, o mundo dirá que é melhor para a França defrontar Marrocos na meia-final, mas acho que os franceses preferiam Portugal. Há uma história muito grande de França com Marrocos, há muitos marroquinos a viver em França. Claro que Portugal tem melhor equipa do que Marrocos, mas uma meia-final com tanta rivalidade histórica não ia ser fácil para a França.»

ARGENTINA

Tato Aguilera, jornalista do TyC Sports

«Portugal é uma grande seleção, que tem individualidades muito fortes e um jogo bem definido. A vitória sobre a Suíça confirmou que é uma das sérias candidatas a vencer o Mundial ou, pelo menos, chegar à final. Tem um emparelhamento mais acessível em comparação com outras equipas, mas não pode confiar porque o Marrocos pode complicar as contas (a Espanha já sofreu com isso). De resto, nós os argentinos acreditamos que este Mundial é para Messi e para esta seleção argentina, porque estão muito bem enquanto grupo, jogam bem e têm confiança. Nesta altura muita gente já pensa que o Brasil deve ser o adversário a vencer nas meias-finais, mas primeiro é preciso vencer os Países Baixos, que são um adversário difícil.»

CROÁCIA

Aleksandar Holiga, jornalista do Telesport

«Definitivamente, sim, a goleada mudou a forma como olho para as possibilidades de Portugal neste Mundial. Até agora tinha visto Portugal como uma equipa chata e pouco convincente, apesar de todos os grandes talentos. A vitória sobre a Suíça - bem, não tanto a vitória, mas a maneira como a conseguiu e o estilo de jogo - mostrou que Portugal pode estar afinal no caminho certo para corresponder a todo o seu verdadeiro potencial. Já tinha ficado impressionado quando goleou a Croácia na Liga das Nações, mas a verdade é que não apareceu muito desse Portugal neste Mundial. Até ontem à noite. A razão para esta mudança, acho que não precisa de ser referida. Toda a gente sabe qual (e quem) é. Disto isto, devo referir que a minha opinião sobre os favoritos não mudou desde o início do Mundial: continuam a ser Argentina, Brasil, Inglaterra e França. Portugal, no entanto, pode ser tão bom quanto qualquer uma destas seleções, se continuar a jogar assim.»

MARROCOS

Mohamed Amine Elamri, jornalista do Le Matin

«A goleada sobre a Suíça foi seguramente impressionante e veio reforçar uma ideia que já existia: as pessoas conseguem ver em Portugal um dos favoritos à vitória no Mundial. Na verdade, a maioria de nós olha para o plantel de Portugal e questiona-se porque é que ainda não ganhou mais troféus internacionais. Com nomes como Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, Raphael Guerreiro... No entanto, e pensando já no jogo de sábado, acho que nos últimos tempos houve uma grande mudança na forma de pensar dos adeptos marroquinos: todos agora olham para as qualidades da nossa seleção, e não para as qualidades dos adversários. Este tem sido o mote ao longo do Mundial no Qatar, durante o qual Marrocos já ultrapassou diferentes escolas e ideias de futebol. As pessoas estão confiantes que esta seleção pode fazer história.»

PAÍSES BAIXOS

David Endt, colunista do Het Parool e da Eurosport

«Na minha opinião a vitória sobre a Suíça coloca Portugal entre os grandes favoritos. A seleção portuguesa mostrou ter uma equipa sólida e talentosa: os ingredientes certos para a vitória.  Há capacidade técnica, velocidade e força física misturadas com o frescor da juventude e... o extra de Ronaldo, que talvez sem saber desperta motivação e união nos restantes jogadores. Por isso os favoritos para mim são a França (formam uma máquina monstruosa), o Brasil (joga quase em casa com o tradicional apoio árabe, para além dos próprios adeptos e de muito talento) e Portugal (tem um treinador experiente e uma boa mistura de vários ingredientes importantes).»