O tema ganhou âmbito europeu ultrapassando as fronteiras locais com o anúncio da Premier League sobre a fixação do preço dos bilhetes para os adeptos visitantes. A medida tem aparência de inédita, pois, entre as cinco principais ligas europeias, nada de semelhante acontece, mas deve ser enquadrada no plano dos precursores. Pois, além da liga inglesa, a Liga em Portugal também já o faz.

A decisão da Premier League tomada nos meados deste mês teve a unanimidade dos clubes seus constituintes. Entre as considerações do «estatuto único» dos adeptos dos clubes visitantes no espetáculo e no negócio do futebol e dos custos (a terem de ser) suportados por eles, os apoiantes das equipas que jogam fora de casa passaram a ter um preço máximo para os bilhetes que compram.

Quem acompanhar o seu clube nos jogos fora de casa não pagará mais de 30 libras (cerca de 38 euros) por um bilhete. A fixação deste preço máximo dos ingressos para os adeptos das equipas visitantes tem uma vigência prevista para as épocas 2016/17 2017/18 e 2018/19. Foi uma decisão tomada em março depois de protestos que foram marcando a temporada, desde o ano passado, e que puseram o tema como prioridade da Premier League em fevereiro.

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Os protestos dos adeptos em Inglaterra fizeram-se soar alto e bom som, inclusive para os preços dos jogos em casa. A resposta dos apoiantes do Liverpool à pretensão dos donos do clube em aumentarem os preços dos bilhetes ara os jogos em casa para valores que chegariam às 77 libras (cerca de 97,5 euros).

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E é como já se aflorou. Quando os casos acontecem nas ligas mais mediáticas da Europa têm a sua dimensão própria, respetiva. Foi por essa altura da sonora manifestação dos adeptos do Liverpool que a Alemanha também repercutiu o barulho que se foi ouvindo.

O jogo foi a contar para a Taça da Alemanha – não para a liga – mas a demonstração ilustrou de forma veemente o sentimento atual entre os adeptos germânicos,; nomeadamente, no que respeita a assistir aos jogos da sua equipa fora de portas.

Em Estugarda, ao terem de pagar perto de 70 euros por um bilhete, os adeptos do Borussia Dortmund só entraram no estádio aos 20 minutos de jogo e provocaram a sua interrupção cinco minutos depois cm uma chuva de bolas de ténis para o relvado. A sua mensagem também foi clara: «O futebol tem de ser acessível!»

A partir da nova realidade assumida pela Premier League, o Maisfutebol foi ver como são as normas nas principais liga europeias – lembrando que as chamadas «big-5» são as de Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França. Permanecendo ainda na Alemanha, a Bundesliga informa-nos que, nesta questão de preços em concreto, não há preçários definidos para o campeonato da principal divisão germânica.

Os adeptos das equipas visitantes estão sujeitos às decisões do clube visitado no que respeita aos custos dos ingressos. «São os clubes que decidem os preços dos bilhetes, não a Liga», respondeu-nos a Bundesliga deixando assumir também que, na Alemanha, não há quotas reservadas, por norma(s), para os adeptos visitantes – o que não quer dizer que, informalmente, não existam.

Aquela é uma situação que, na Premier League, está (já na presente temporada) inscrita no Manual de regulação da principal divisão inglesa. Nas «Relações com os Clientes», a Premier League define que os clubes visitados estão obrigados a uma de duas disposições: ou a cederem 3 mil lugares aos visitantes ou a cederem 10 por da lotação do estádio quando esta é inferior a 30 mil lugares.

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Em Espanha, o principal campeonato decorre em termos idênticos aos alemães para a perspetiva dos adeptos. «Em La Liga não existe uma norma concreta sobre o preço dos bilhetes», escreve-nos o organismo que regula a principal divisão espanhola explicitando que «cada clube ou SAD (...) marca o preço dos ingressos no seu próprio estádio». «Tanto para a claque local como a visitante. Sem limite máximo», esclarece ainda La Liga.

A instituição revela-nos, porém, que «aconselha que todos os clubes devem oferecer uma quantidade razoável de ingressos aos clubes visitantes em cada jogo», mesmo frisando que «não se trata de uma normativa fixa».

«Em conclusão, desde La Liga tentamos garantir que cada claque tenha a hipótese de apoiar a sua equipa, seja na sua cidade ou em jogos como visitante. Cada clube é consciente que deve oferecer ingressos ao clube rival, mas tem liberdade para marcar os preços no seu estádio», resume o organismo.

De França revelam-nos a existência de uma situação mista entre preços e quotas. O organismo que regula a principal divisão francesa informa que «não há preços máximos na Ligue 1», e que «o clube visitado define os preços [dos bilhetes] para os adeptos visitantes». Mas, mesmo «sem regulamentação nesta questão» há «geralmente um acordo de cavalheiros entre os clubes para os dois jogos» do campeonato.

A Ligue 1 esclarece também que, no que respeita à cedência de bilhetes para os adeptos das equipas forasteiras, há regras definidas para os clubes visitados. Os anfitriões estão obrigados a ceder ao clube visitante «cinco por cento da lotação do estádio num máximo de dois mil lugares».

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Chegados a Itália informam-nos que na Serie A «não há preços fixos» para os bilhetes dos adeptos visitantes e que «o clube anfitrião é que decide» sobre o custo dos ingressos, mas ressalvam-nos que «os preços são, por regra, mais baixos» para quem vai ver a sua equipa jogar fora – sendo que essa regra é, claro, implícita quando se fala e não uma norma estatuída.

O mesmo sistema de norma implícita é também aplicada quando se fala de quotas na cedência de bilhetes aos visitantes. Por regra, o clube visitado tem como hábito ceder dez por cento da lotação do seu estádio. No entender da Lega Serie A, a Premier League surge como «inovadora», mas se se sair da esfera das «big-5» verifica-se que Portugal é precursor nesta regulação das condições respeitantes aos adeptos visitantes.

A Liga determina que os clubes visitados têm limites para o estabelecimento dos preços dos bilhetes para os adeptos visitantes. Esses limites estão divididos em três patamares. Os estádios de nível 1 têm um limite máximo de 30 euros por bilhete para os visitantes; os de nível 2 têm como máximo os 45 euros por bilhete; os de nível 3 podem custar até 75 euros.

Os níveis dos estádios estão dependentes das suas dimensões, capacidade, conforto ou qualidade estando estas avaliações da Liga equiparadas aos critérios utilizados pela UEFA. No caso português, é sabido que a Liga determina que os clubes visitados cedam cinco por cento da lotação do seu estádio ao visitante.

E aproveitando a referência ao organismo europeu, também a UEFA deixa ao critério de cada clube a definição dos preços de todos os bilhetes num jogo das competições europeias. A UEFA só define o preço dos bilhetes das finais (em campo neutro) das competições que organiza. Já nesta época, os adeptos do Manchester United se queixaram dos preços na visita ao Midtjylland. Quanto às quotas, é sabido que, nas prova europeias, os clubes anfitriões devem reservar cinco por cento do seu estádio para os adeptos visitantes.