Já imaginou alugar a sua casa para uma festa, uma festa tremenda, e não ser convidado? É isso que sentem os jogadores e treinadores ingleses em relação à Premier League.«Os estrangeiros vêm, ocupam as melhoras casas, dão o espectáculo e nós ficamos nas montanhas, a ver de binóculos», lamenta Howard Wilkinson, último treinador inglês a vencer o primeiro escalão.

Em entrevista ao Maisfutebol, o actual presidente-executivo da Associação de Treinadores de Inglaterra traça um cenário preocupante. A Premier League é o melhor espectáculo do Mundo, mas tem cada vez menos a participação dos locais.
«É um produto fantástico. Como adepto do futebol, adoro. Tem os melhores jogadores, os melhores jogos. Mas em todos os arco-íris surge uma nuvem. Os ingleses têm pouco espaço e o cenário ameaça piorar no futuro próximo», avisa Wilkinson.
A Premier League nunca teve um vencedor inglês
Howard Wilkinson venceu a primeira divisão em 1991/92, no banco do Leeds United. Na época seguinte, surgiu a Premier League: «Há muito mais dinheiro, chegam muito mais jogadores estrangeiros, treinadores de topo da Europa e até do Brasil. Só o Barcelona e o Real Madrid conseguem cativar tanto os jogadores, do ponto de vista financeiro.»
A Premier League cresceu como produto, assistindo-se a uma concentração de títulos em quatro grandes clubes (Manchester United, Arsenal, Chelsea e Liverpool). A selecção de Inglaterra ressente-se. «A selecção tem o mesmo núcleo há vários anos. Terry, Ferdinand, Lampard, mesmo Gerrard andam na equipa desde o final dos anos noventa. Mas quando acabarem, teremos cobertura suficiente? Os indícios dizem que não», alerta.
«Tornámo-nos numa universidade para jogadores estrangeiros. Chegam, crescem na Premier League e surgem nas suas selecções. Fornecemos a selecção de França, do Brasil, de Espanha, até de Portugal. E a nossa? Temos de nos restruturar», considera Wilkinson.
O presidente-executivo da Associação de Treinadores teme o futuro, mas reconhece a importância do conceito de aldeia global. Howard Wilkinson espera apenas que as vozes dos técnicos sejam ouvidas. «Não é uma questão xenófoba, o que importa é a qualidade. Quanto a nós, treinadores, pretendemos apenas ser voz activa na Football Association. Os jogadores têm assento nos comités principais, nós não. Não se percebe. Devíamos pensar todos juntos sobre o futuro do jogo, o futuro do futebol inglês», conclui.