Mesmo tendo falhado por um o recorde de golos numa edição da Premier League, fixado pelo Chelsea em 2010 (103, contra 102) já ninguém poderá retirar a Manuel Pellegrini o estatuto de grande vencedor da temporada em Inglaterra.

Aproveitando os tropeções do sensacional Liverpool com a meta à vista, o técnico chileno,
ingeniero por alcunha e profissão (tirou o curso na Universidad Católica) fez mais do que tornar-se o primeiro sul-americano a vencer o título inglês, 126 anos após a criação da prova. Juntando-lhe a vitória na Taça da Liga, terá enterrado de vez a reputação de treinador competente mas pouco vocacionado para ganhar troféus, que o acompanhava desde que chegou ao Villarreal, em 2004. E, principalmente, acertou contas com a fama de esbanjador, depois dos 250 milhões investidos, sem retorno em títulos, na única temporada em que liderou o Real Madrid, 2009/10.

Aos 60 anos, o homem que sucedeu a Roberto Mancini no comando dos «sky blues», não se esqueceu de fazer menção ao antecessor, campeão em 2012, na conferência de imprensa da consagração, depois da vitória sobre o West Ham, neste domingo, que selou a conquista do título. Mas não se esqueceu também de relançar o debate que o opôs a José Mourinho durante grande parte da temporada, sublinhando o registo de golos e a vocação ofensiva da sua equipa: «Não é uma crítica, só uma maneira diferente de pensar o futebol. Mas ganhar títulos só em contra-ataque não me faria feliz», frisou.

Tal como o PSG, em França, a vitória do Manchester City consumou-se na semana em que o clube foi multado pela UEFA em 60 milhões de euros, por violação das regras de «fair-play» financeiro – um foco recorrente de críticas por parte de adversários como José Mourinho e Arsène Wenger. A fatura não deverá causar grande mossa ao xeque Mansour, alvo de manifestações de agradecimento por parte dos adeptos, nos festejos que se seguiram ao jogo - mesmo por entre críticas como esta ao regime laboral de semiescravatura nos Emirados Árabes Unidos, que indiretamente está na base do incomparável músculo financeiro do clube:



Compreende-se o sentimento dos adeptos: o investimento em transferências na atual temporada rondou os 120 milhões de euros, contra os 62 milhões gastos no ano anterior, e os 95 milhões em 2011/12, quando o clube conseguiu o primeiro título em 44 anos. Tal como a entrada de Abramovich no Chelsea, no início da década passada, a chegada de Mansour ao Etihad, em 2008, transformou a realidade do clube que, simbolicamente, igualou o Chelsea no total de títulos (quatro), neste particular duelo de novos-ricos com bolsos sem fundo.

Mas, talvez ainda mais simbólico seja o facto de a primeira consagração de um treinador não-europeu coincidir com o primeiro ano pós-Ferguson: a reforma do histórico treinador do Manchester United parece representar um virar de página marcante nas hierarquias tradicionais da Liga. E com o fiasco da experiência Moyes a resultar na primeira ausência do Manchester United das provas europeias, em 25 anos, os adeptos do City começam a acreditar que pode estar para breve o dia em que vai deixar-se de falar dos sucessos da «segunda equipa» de Manchester.