Há menos de dois anos o diretor de marketing da UEFA, Guy Laurent-Epstein, manifestava-se otimista quanto à saúde financeira da Liga dos Campeões. Pouco depois de a estação BT Sport ter entrado em cena no Reino Unido, fazendo disparar o valor dos contratos televisivos, o dirigente atrevia-se mesmo, em entrevista à «Sportspro Media», a antecipar um crescimento de 20 por cento nas receitas geradas pela competição nos anos seguintes.

Pelos vistos enganou-se: a avaliar pelo acordo anunciado nesta terça-feira, durante a assembleia geral da Liga de Europeia de Clubes (ECA), o organismo que preside ao futebol europeu tem folga nos cofres para, a partir da próxima época, e até 2018, fazer aumentar a retribuição aos clubes participantes na prova em mais de 40 por cento.

O único item que não é valorizado no novo acordo é o do empate na fase de grupos, que continua a valer 500 mil euros, como até aqui. Já a vitória passa de um milhão para 1.5 milhões. E os maiores aumentos, em proporção, dizem respeito à retribuição do vice-campeão (que passa a receber mais 62 por cento) e à passagem aos oitavos de final, que valia 3.5 milhões e passa a valer 5.5 - um aumento de quase 60 por cento.

O prémio para o vencedor passa de 10.5 para 15 milhões, o que faz com que a retribuição máxima para um vencedor possa chegar aos 54.5 milhões. Como a este valor acresce o referente ao market pool televisivo, que no caso dos clubes ingleses pode atingir os 40 milhões, não faltará muito tempo até termos um título europeu a render 100 milhões de receita direta ao vencedor, não contando com a bilheteira.



O aumento reforça o padrão habitual de uma subida de patamar a cada três anos: em 2012, tinha já havido um aumento de 20 por cento em relação ao triénio 2009/12, quando a verba distribuída aos clubes passou de 750 milhões por época para 900 milhões. Se considerarmos que esse valor era de 580 milhões entre 2006 e 2009, percebe-se que, em apenas nove anos, a receita direta dos clubes, por participação na Champions já duplicou.

A título de curiosidade, refira-se que a verba máxima conseguida por um clube numa edição da Liga dos Campeões pertence à Juventus que, em 2012/13, beneficiando de uma situação privilegiada ao receber 44 milhões de market pool, totalizou 65 milhões de euros, mais dez milhões do que o campeão desse ano, Bayern de Munique.

Refira-se também que o recorde de receitas de uma equipa portuguesa foi conseguido pelo FC Porto, já esta época, com mais de 23 milhões arrecadados. Aplicando à atual campanha portista os valores que serão entregues pela UEFA nos próximos três anos, essa verba seria já superior a 30 milhões, ainda antes dos jogos com o Bayern de Munique.

Verba anual distribuída aos clubes pela UEFA
580 milhões entre 2006/09
750 milhões entre 2009/12 (aumento de 29%)

900 milhões entre 2012/15 (aumento de 20%)

O acordo foi elogiado por Gianni Infantino, secretário-geral da UEFA, e por Karl-Heinz Rummenigge, que preside ao organismo que defende os interesses dos clubes: «Estamos felizes com estes acordos, é o sinal de que o futebol europeu de clubes está de boa saúde. Temos 220 filiados, temos clubes grandes, médios e pequenos, não olhamos apenas para os interesses dos grandes», garantiu o dirigente alemão, quando questionado sobre se a distribuição não iria acentuar o fosso entre as equipas que participam com regularidade na Champions e as restantes.

Como prova desta argumentação, quer os responsáveis da UEFA quer os da ECA sublinharam o facto de o novo acordo prever também o reforço dos pagamentos de solidariedade, e uma aproximação ligeira entre as verbas distribuídas aos clubes pela participação na Liga Europa e as provenientes da Liga dos Campeões. Enquanto até aqui, cada euro ganho na Liga Europa valia 4.3 na Champions, essa diferença vai ser atenuada, passando a ser de um para 3.3. Ainda assim, uma equipa com campanha vitoriosa na Liga Europa, desde a fase de grupos à final, continuará a ganhar menos do que uma equipa que se limite a passar a fase de grupos na Champions.

Evolução das verbas entregues pela UEFA ao longo dos anos

2003/04
Maior fatia: Chelsea (30 milhões)
Campeão: FC Porto (19)

2004/05
Maior fatia: Liverpool (30.6)
Portugueses: FC Porto (8)
Menor fatia: Sparta Praga (3.8)

2006/07
Campeão: Milan (39.5)
Portugueses: Benfica (7.8); Sporting (7.8); FC Porto (11.5)
Menor fatia: Levski Sofia (5.5)

2007/08
Campeão: Man. United (42.9)
Portugueses: FC Porto (11.5); Benfica (7.8); Sporting (8.1)
Menor fatia: D. Kiev (5.9)

2008/09
Maior fatia: Man. United (38.2)
Campeão: Barcelona (31.0)
Portugueses: FC Porto (14.5); Sporting (11.6)
Menor fatia: Bate Borisov (6.3)

2009/10
Campeão: Inter (48.8)
Portugueses: FC Porto (18.7)
menor fatia: Maccabi Haifa (8.5)

2010/11
Maior fatia: Man. United (53.2)
Campeão: Barcelona (51)
Portugueses: Benfica (11.8*) Sp. Braga (11.8*)
Menor fatia: Zilina (7.4)

* Nessa época, o Sp. Braga recebeu mais 4.5 milhões como finalista da Liga Europa, e o Benfica mais 1.9 milhões. O FC Porto encaixou 7.8 por toda a campanha vitoriosa na Liga Europa

2011/12
Campeão; Chelsea (59.9)
Portugueses: FC Porto (12.4); Benfica (19.8)
Menor fatia: D. Zagreb (8.2)

2012/13
Maior fatia: Juventus (65.3)
Campeão: Bayern Munique (55)
Portugueses: FC Porto (19.8); Benfica (13.9*); Sp. Braga (11.2)
Menor fatia: D. Zagreb (10.5)

* Nessa época, o Benfica recebeu mais 5.8 milhões como finalista da Liga Europa

2013/14
Campeão: Real Madrid (57.7);
Portugueses: Benfica (15.3); FC Porto (14.2)
Menor fatia: Viktoria Plzen 11.1

* Nessa época, o Benfica recebeu mais 5.3 milhões como finalista da Liga Europa