De 1994 a 1999, o Benfica teve na baliza um dos melhores guarda-redes de todos os tempos. Michel Preud’Homme, o senhor das redes, passou pela Luz e deixou um rasto de categoria ímpar e simpatia contagiante.

As grandes exibições de águia ao peito não tiveram, porém, eco no número de títulos conquistados. Em cinco temporadas, o antigo internacional belga ganhou só uma Taça de Portugal, ao derrotar o Sporting por 3-1, no dia 18 de maio de 1996 [golos de Mauro Airez, João V. Pinto (2) e Carlos Xavier].

Os mais imprudentes julgariam a passagem de Preud´Homme pelo Benfica como mal sucedida. Nem pensar. Só por desconhecimento, pressa ou má vontade se atribuiria uma nota negativa a um dos mais brilhantes keepers da história.

A propósito da homenagem de que será alvo no I Congresso Internacional de Guarda-Redes, a realizar nos dias 6, 7 e 8 de junho, o Maisfutebol fez uma grande entrevista a Michel Preud´Homme.

Num português imaculado e a bonomia de sempre, o atual treinador do Club Brugge atende-nos na véspera do importante jogo contra o Anderlecht [que haveria de perder por 0-1].

A conversa começa pelo presente [o ano de ouro do Benfica], antes de se instalar em definitivo no baú das memórias. Uma grande exibição de Michel Preud´Homme, sem luvas.

«Este ano o Benfica vai ganhar tudo»

A primeira pergunta coloca Preud´Homme em silêncio. Hesitante. O belga não sabia que Jan Oblak e Artur Moraes são os primeiros guarda-redes estrangeiros do Benfica a celebrar o título nacional na Luz.

«Isso é uma surpresa. Vi jogar duas vezes o Oblak, contra o Tottenham e a Juventus, e gostei muito. É um menino com qualidade para vir a ser um grande guarda-redes. Parece-me frio e tranquilo. O Artur já conheço há vários anos, é maduro e sabe estar na baliza», refere Preud´Homme.

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O ano do Benfica, de resto, enche-o de orgulho. «O Benfica e os seus adeptos já mereciam isto há muito tempo. O trabalho do Jorge Jesus já lá estava o ano passado, mas a equipa perdeu as finais e o mundo caiu em cima do treinador. O futebol é assim».

Preud’Homme assume o seu profundo ateísmo no que ao desporto diz respeito. Não acredita «em milagres» nem em conquistas «fruto do acaso». «Uma equipa que repete em anos consecutivos a presença em finais tem de ser extraordinária. Este ano, provavelmente, o Benfica vai ganhar tudo», prevê.

«Vou voltar a Portugal; para trabalhar ou para a reforma»

O trajeto de Michel Preud´Homme como futebolista é invejável. Em 1994 foi eleito o melhor guarda-redes do mundo, representou 58 vezes a seleção da Bélgica, esteve nos Mundiais de 90 e 94 e fez mais de 700 jogos como profissional.

No cargo de treinador, o cenário já é prometedor. «Fui campeão no Standard Liège, levei o Gent à melhor classificação de sempre [segundo lugar], também ganhei o título no Twente [Holanda] e no Al Shabab [Arábia Saudita]. Agora estou a lutar pelo mesmo no Club Brugge», lembra.

«É totalmente diferente de ser guarda-redes. Antes preocupava-me só comigo, agora penso em tudo o que envolve a equipa. Mesmo em casa estou constantemente a fazer relatórios, a analisar e a ver vídeos, é muito mais absorvente ser treinador do que jogador».

Preud´Homme é um ganhador, «sempre fui», e assume o desejo de regressar a Portugal. «De preferência para treinar e conquistar títulos. Se não for possível, já disse à minha mulher que a nossa reforma vai ser aí. O sol, a comida, a simpatia das pessoas, tudo isso me deixa cheio de saudades», atira.

Até agora tem faltado o «interesse sério de algum clube». E se esse convite viesse do Benfica? «Ficaria muito feliz, adorava voltar. Se fosse para o Benfica, fantástico».

Dados de Michel Preud´Homme no Benfica:

. 1994/95: 47 jogos oficiais (31 no campeonato)
. 1995/96: 45 jogos oficiais (33 no campeonato)
. 1996/97: 47 jogos oficiais (34 no campeonato)
. 1997/98: 33 jogos oficiais (28 no campeonato)
. 1998/99: 27 jogos oficiais (21 no campeonato)

Imagens de Preud´Homme na baliza: