Ana Raquel Brochado tornou-se este domingo a primeira mulher a arbitrar um jogo de seniores masculinos da III divisão nacional de futebol, o Bombarralense-Monsanto (1-1), em Óbidos. A árbitra revelou ao Maisfutebol que a «estreia foi calma, com grande apelo à concentração, pois apesar de ser um jogo que envolveu algum mediatismo, era apenas mais um».
A árbitra de 25 anos mantém os pés bem assentes no chão e traça objectivos realistas: «Para já, quero apenas conquistar a III categoria, onde ninguém está habituado a mulheres a apitar e onde existem ainda muitos cépticos. Só quando alcançar este objectivo pensarei em voos mais altos». Ainda assim, esta presença já vale pela «força de mostrar que é possível, abrindo portas para outras chegarem até aqui, por que há mais mulheres com valor na arbitragem», considerou.
As mulheres não são presença constante na arbitragem, sendo a discriminação uma realidade. A juíza da Associação de Futebol de Lisboa reitera esta situação: «Sinto discriminação, quer positiva, quer negativa. Sei que há pessoas que me apoiam e acreditam no meu trabalho. No entanto, sobretudo por parte dos adeptos, há uma grande agressividade, com comentários machistas, mas é esta a cultura desportiva que temos. Os jogadores têm uma maior preocupação em não serem grosseiros».
Quanto às sucessivas confusões que afectam a arbitragem em Portugal, Ana Raquel considera que estas têm de ser sanadas, «tendo sempre a verdade desportiva de vir ao de cima».
O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), António Sérgio, vê na ascensão de Ana Raquel Brochado uma «importância histórica» por ser a «primeira vez que temos uma senhora a apitar jogos dos seniores, o que vem reforçar a igualdade entre mulheres e homens». O dirigente acredita ainda no potencial de Ana Raquel, apesar das dificuldades que terá de enfrentar: «Tem todas as condições para chegar ainda mais alto, mas não é fácil, até porque há muita competição. Mas com trabalho e força acredito que pode chegar longe», finalizou.