Sérgio Conceição apostou que este ano não haverá campeão com 88 pontos, recorde da Liga alcançado duas vezes, a última das quais pelo dragão na época passada, e o passado recente reforça essa ideia, quando o líder tem no final da primeira volta menos pontos do que há um ano – embora maior vantagem sobre os perseguidores, também eles em perda na comparação. A meio caminho, esta Liga revela de resto um dragão com uma vantagem que raramente deixa fugir, ideia reforçada por um dado fora do comum, que já não acontecia desde o início do século: os dois rivais mudaram de treinador no decorrer da época, ainda antes de o campeonato chegar a meio.

Começando na luta pelo título, a história está do lado do FC Porto, que não costuma desperdiçar uma liderança isolada. Não acontece desde 1999/00, quando dobrou o campeonato com três pontos de vantagem sobre o Sporting, que acabaria por ser campeão.

Mesmo sendo um FC Porto abaixo do nível da época passada na Liga. O dragão tem 43 pontos, contra 45 há um ano, quando ainda não tinha sofrido qualquer derrota: agora já perdeu dois jogos. Também piora no registo de golos, 34 marcados e 10 sofridos agora contra 45-9 há um ano.

A diferença é que os rivais também estão em perda. O Benfica, que dobra a Liga em segundo, a cinco pontos da frente, tem menos dois pontos que há um ano, quando era terceiro. As águias, que têm o melhor ataque da Liga nesta altura, estão muito semelhantes no saldo de golos: 37-17 agora, contra 38-18.

O Sp. Braga, terceiro, tem exatamente os mesmos pontos que tinha há um ano, os quais nessa altura valiam o quarto lugar. E piora marginalmente no saldo de golos: 32-17 agora, contra 34-15 no fim da primeira volta passada.

A maior queda entre os candidatos é do Sporting, que perdeu oito pontos de um ano para o outro: dos atuais 35 para 43, então segundo a dois pontos da frente, e também com diferença relevante no balanço de golos, 33-18 atualmente contra 38 marcados e 10 sofridos há um ano.

Os leões pioraram a média na segunda volta de uma época com reta final muito complicada para a equipa e para o clube, pelo que acabaram a 10 pontos do líder, em terceiro. O FC Porto também fez menos dois pontos na segunda volta, enquanto Benfica e Sp. Braga fizeram mais um.

Nas últimas cinco épocas, só por uma vez o líder conseguiu mais pontos na segunda volta que na primeira: o Benfica, em 2013/14. Mesmo assim, segurou sempre a liderança, exceção feita ao campeonato atípico de 2015/16, que virou depois de o Sporting, líder a meio caminho, ter feito menos dois pontos na segunda metade e de o Benfica ter conseguido uma recuperação que lhe permitiu terminar na frente com números de recorde. Os «encarnados» conseguiram 48 pontos de 51 possíveis na segunda volta, contra 40 na primeira, chegando ao título com os tais 88 pontos que são máximo no campeonato, igualado no ano passado pelo FC Porto.

Do título para o resto do campeonato, a maior subida na Liga em relação à primeira volta da época passada é do Moreirense, que ganhou nada menos que 14 pontos de uma temporada para a outra. Há um ano era 15º, hoje está num notável sétimo lugar. Também o Belenenses melhorou muito, tendo ganho 10 pontos em relação à primeira volta da época passada.

O Desp. Chaves é quem mais piora na comparação, menos 11 pontos do que na campanha liderada há um ano por Luís Castro e um 17º lugar ameaçador para os transmontanos. Mas o Marítimo também perdeu muito esta época, são menos 10 pontos do que há um ano.

Chicotadas na Luz e em Alvalade, não acontecia há 18 anos

São dois dos clubes que já mudaram de treinador, numa época que já teve cinco «chicotadas». O número está em linha com a temporada anterior, mas traz por outro lado algo que a Liga não via há muito: dois dos chamados grandes a mudarem de treinador no decorrer da mesma época.

A última vez que aconteceu foi em 2001/02. Mas nessa altura Octávio Machado deixou o FC Porto, para dar lugar a José Mourinho, já depois de dobrada a primeira metade do campeonato. Foi pouco depois, em meados de janeiro. Menos de um mês antes tinha sido o Benfica a mudar, saindo Toni para dar lugar a Jesualdo Ferreira. O Sporting, que tinha Laszlo Boloni no banco, dobrou o campeonato na frente e havia de festejar mesmo o título de campeão, o último até hoje em Alvalade.

Mourinho já tinha sido protagonista um ano antes daquela que foi a última dupla mudança no Sporting e no Benfica no decorrer da época, também ainda antes de a Liga chegar a meio caminho. Foi exatamente no mesmo dia: 5 de dezembro de 2000, para a memória do futebol português como o dia que viu José Mourinho deixar a Luz, pouco depois de ganhar o dérbi, e Inácio, o treinador que era campeão, ser despedido do Sporting. O plano de levar Mourinho para Alvalade não chegou a concretizar-se. Na Luz foi substituído por Toni, em Alvalade assumiu primeiro Fernando Mendes e depois Manuel Fernandes.

Nenhum deles foi campeão, no ano em que o título foi do Boavista. A história diz também que uma «chicotada» a meio da época não é um bom caminho para o título: só por cinco vezes uma equipa foi campeã depois de mudar de treinador no decorrer da época. Lógico, uma vez que quando a mudança acontece é normalmente na sequência de sinais e resultados negativos que deixam a equipa a correr atrás.

A última excepção foi precisamente com Augusto Inácio, que em 1999/00 sucedeu a Giuseppe Materazzi no Sporting e foi campeão. Mas nessa altura o treinador português entrou mais cedo, logo à 6ª jornada. Quanto ao Benfica, só por uma vez foi campeão depois de uma «chicotada» e já lá vão mais de 50 anos.

A saída de Rui Vitória, que deixou o Benfica a três de janeiro e foi a última das cinco mudanças de treinador até agora, reduziu também a já frágil estabilidade dos treinadores portugueses na Liga. Com três épocas e meia na Luz, Vitória era o treinador há mais tempo no mesmo clube. Agora, não há ninguém mais «antigo» que Nuno Manta. O treinador assumiu o Feirense em dezembro de 2016 e continua no clube, ao fim de dois anos.

Comparação de pontos com a primeira volta da época passada:

1. FC Porto, 43 (45/1º em 2017/18), -2 pontos

2. Benfica, 38 (40/3º), -2 pontos

3. Sp. Braga, 37 (37/4º), igual

4. Sporting, 35 (43, 2º), -8

6. Belenenses, 28 (18, 11º), +10

7. Moreirense, 28 (14 15º), +14

8. Portimonense, 24 (18/12º), +6

9. Santa Clara, 21 (-)

10. Rio Ave, 20 (27/6º), -7

11. V. Setúbal, 19 (12/18º), +7

12. Nacional, 19  (-)

13. Tondela, 18 (19/10º), -1

14. Marítimo, 17 (27/5º), -10

15. Boavista, 16 (21/9º), -5

16. Feirense, 13 (17/13º), -4

17. Desp. Chaves, 12 (23/8º), -11

18. Desp. Aves, 12 (14/16º), -2