Hoje joga-se o Barcelona-Real Madrid menos entusiasmante dos últimos anos. Claro que toda a gente estará curiosa para perceber como é que vai ser o duelo entre Messi e Ronaldo, mas a realidade é que os constantes altos e baixos das duas equipas e o cinzentismo dos treinadores em estreia retira emoção ao jogo. Para além disso, este é o primeiro «el clásico» dos últimos três anos sem José Mourinho. E isso faz toda a diferença.

E era ali, no Camp Nou, que o português agitava os ânimos, era o seu campo de batalha favorito. Pode dizer-se que este duelos começaram ainda antes de Mourinho chegar a Madrid, naquele 28 de abril de 2010, quando eliminou a equipa da casa nas meias-finais da Liga dos Campeões. José correu no relvado, festejando, enquanto eram ligado o sistema de rega. O ódio germinava desde os tempos do Chelsea, mas passou a estar irremediavelmente semeado, sendo colhido poucos meses depois.


Pode estabelecer-se claramente um período antes e pós-Mourinho, pela permanente tensão instalada dos dois lados da barricada. A polémica foi uma constante nos 17 jogos disputados por Mourinho, tendo vencido cinco, empatado seis e perdido outros seis.

A história começou mal para José, pois logo na estreia em Camp Nou como técnico do Real Madrid, cerca de meio ano depois do tal momento vivido com o Inter de Milão, foi goleado (5-0). Curiosamente, na mesma época, Mourinho viria a disputar uma meia-final da Champions com o Barça, mas no regresso a Nou Camp não foi para o banco de suplentes (devido a castigo) e o desfecho foi bem diferente, dado que foi eliminado. A polémica crescia e em agosto de 2011 atingia o pico, com o momento em que Mourinho coloca o dedo no olho de Tito Vilanova, então adjunto de Guardiola.


Nou Camp era terreno de guerra e a tensão foi permanente. Em janeiro de 2012, José não gostou da atuação do árbitro Fernando Teixeira Vitienes, esperou por ele no parque de estacionamento e desferiu a crítica, conforme contou Eládio Paramés na altura: «Agora vais fumar um charuto e rir, sem vergonha». Tudo o que era dito num momento serviria para qualquer propósito no futuro. As arbitragens deixaram de ser tema e três meses depois o Madrid conquistaria o título, destronando «a melhor equipa de sempre». A vitória por 2-1 na cidade condal, com golo de Ronaldo, seria decisiva.

É sempre assim com Mourinho: torna-se gigante, alcança objetivos e não consegue esconder a arrogância perante o adversário. O último grande momento que viveu em Nou Camp aconteceu a 26 fevereiro deste ano, quando o seu Real Madrid venceu por 3-1, eliminando o Barcelona da Taça do Rei. Não se conteve, celebrou com enorme euforia o golo de Varane e ignorou a imprensa local, enviando Casillas para a conferência de imprensa.


De regresso ao Chelsea, José já avisou que não vai ver o jogo deste sábado. «El clásico não me importa, estarei a jantar com a minha família e depois vou dormir. Não vou perder a tranquilidade de sábado quando tenho um jogo importante no domigo», comentou Mourinho na conferência de imprensa de antecipação do embate com o Manchester City.

O primeiro para Ancelotti e Martino

Já deu para perceber que isto sem o português tem muito menos piada. É a primeira vez sem ele e também a estreia para os dois novos treinadores de Real Madrid e Barcelona. Novas experiências para Carlo Ancelotti e Gerardo Martino em Espanha, depois de terem vivido clássicos no Paraguai, Itália e França.

A polémica não estalou e por estes dias só se fala de quem pode ou não jogar. Do lado do Real Madrid ainda não se sabe se Bale ocupará o lugar de Benzema e se Fábio Coentrão envia Marcelo para o banco de suplentes. No Barcelona subsiste dúvida sobre a utilização de Piqué, no meio-campo entre Xavi, Iniesta e Fabregas um ficará de fora, enquanto Pedro e Alexis disputam um lugar no ataque.

Será, aliás, uma noite de estreias para muita gente. Para além dos treinadores, também as estrelas Neymar e Bale sentirão pela primeira vez o peso do clássico espanhol. Enquanto Neymar vai ser titular, ainda não é seguro que o galês possa entrar no onze, apesar de Ancelotti assegurar que a sua condição física tem melhorado.

O que disseram os treinadores:
Tata Martino: «Somos o Barça, vamos assumir riscos»