Uffff, que sofrimento!

Foram minutos, e minutos, e minutos de ansiedade, de um Benfica que foi heroico na capacidade de se reinventar, para aguentar um nulo que sabe a título: um empate que vale a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões e um encaixe de 37 milhões de euros.

O primeiro objetivo da época foi por isso alcançado com distinção.

Sim, leu bem, com distinção. Não aquela distinção que se encontra na elegância ou graciosidade dos salões de chá de Paris, mas a distinção com que se deve olhar para quem com humildade vai ao fundo da alma buscar o último pingo de suor que lhe sobra para ser notável.

O jogo, como se esperava, foi tudo menos fácil. Já se imaginava que ia ser assim. A partir da meia hora, porém, ficou ainda mais difícil. Lucas Veríssimo fez duas faltas em trinta minutos, a segunda das quais completamente imprudente, quase infantil, viu dois amarelos e foi expulso.

O Benfica ficou reduzido a dez jogadores, o que foi gasolina na fogueira de entusiasmo adversária.

O PSV já tinha entrado em campo com a fé toda, a fazer uma pressão enorme, a formação encarnada aos poucos foi contrariando a ameaça adversária, mas Lucas Veríssimo ameaçou deitar tudo a perder numa jogada completamente inofensiva: saltou com o cotovelo à frente, acertou na cara de Gapko e não deixou outra alternativa ao árbitro que não mostrar-lhe o segundo amarelo.

Antes disso, em meia hora, o PSV fartou-se de ter bola mas não fez nada de verdadeiramente importante com ela. Um remate às malhas laterais foi o que de mais relevante conseguiu.

O Benfica, por outro lado, até teve a melhor ocasião de golo, num remate de Rafa em frente ao golo, que desviou num adversário e saiu por cima da barra. O que servia de aviso: os encarnados saíam menos para o ataque, sim, mas quando o faziam podiam criar tanto ou mais perigo.

Depois da expulsão de Lucas Veríssimo, tudo mudou.

Veio então à tona a capacidade de sofrimento deste Benfica que parece moldado por Jesus para jogar ao ataque, mas que também sabe resistir e amargar quando é preciso.

Veja a ficha de jogo e o relato ao minuto

Sobressaíram também duas ou três exibições de gala. Acima de tudo Vlachodimos, absolutamente fundamental. O grego parou sete bolas de golo, entre as quais três que vinham já com selo e tudo: uma aos pés de Madueke e duas a remates de Vertessen na mesma jogada. O melhor em campo.

Depois convém destacar Otamendi, sempre muito certeiro, fundamental em vários momentos, Grimaldo também, que foi dos poucos a conseguir estender o jogo, e Weigl, já agora, enorme. ´

Convém destacar ainda Jorge Jesus, que mexeu bem e foi tornando a equipa mais segura. O melhor sinal disso é que as alterações vieram tirar fôlego ao PSV, sendo que André Almeida, Vertonghen, Meitë, todos eles entraram bem e tornaram a equipa mais forte defensivamente.

Perante isto, falta apenas dizer que não há heróis sem sorte, e o Benfica também a teve quando foi necessário. Sobretudo naquele minuto 63, quando Gakpo serviu Zahavi e o ponta de lança, sem ninguém na baliza, atirou à trave. Naquela que foi a melhor ocasião de todo o jogo.

Pareceu quase um milagre, mas não.

Não foi milagre. Foi apenas sorte, a tal que protege os audazes. O Benfica foi audaz, foi corajoso, foi humilde, foi heroico e está de parabéns. Entra na fase de grupos da Champions com mérito.

Não era fácil sobreviver a um inferno como este de Eindhoven.