Acabou a época em que compramos material de segunda a preços de primeira: acabou o mercado de transferências de inverno.

Mas vamos por partes, começando pelo essencial.

Estamos no Inverno, meus amigos. E o que é o inverno? É uma época em que só devemos comprar blusões ou galochas. Mas os clubes insistem em comprar jogadores e depois admiram-se que deviam era ter comprado blusões ou galochas.

Em vez de jogadores de futebol, por norma contratam refugo com duas pernas e menos talento que o meu vizinho do 2º Esquerdo, que é invisual e só tem uma perna.

Caríssimos dirigentes, ouçam o que vos digo pois já levo muitos anos a ver estes desastres de janeiro:

Salvo raras exceções, um clube que vos vende um jogador a meio da época, é como um tipo que dispensa a namorada a meio da noite: se ela fosse a rainha do canguru perneta, ele não a dispensava. Pensem nisto com a profundidade filosófica que merece.

Curiosamente, nesta janela de transferências há muita intimidade; Durante 30 dias praticam-se preliminares, mas é no último dia que as coisas aquecem e se fazem uma data de parvoíces.

Uns meses depois o plantel está cheio de jogadores indesejados, e inevitavelmente surge a pergunta: «Tens a certeza que ele é mesmo meu?»

É, e não foi por falta de aviso, meus caros. E ao que parece, também não foi por falta de prospeção.

Primeiro, e durante semanas, os clubes «estão atentos». Estão atentos a determinado jogador, e não tiram os olhos daquele avançado moldavo de 29 anos que tem tudo para ser o novo Messi, excepto, claro, ter 29 anos e ser moldavo.

Depois, os clubes vão atrás de jogadores que têm «referenciados», algo que mais parece uma lista de suspeitos do FBI do que jogadores da bola, mas adiante.

De seguida, aqueles jogadores que «já não fogem ao clube», vá-se lá saber como, escapam ao clube.

Para os que não escapam (porque obviamente são pernetas), os clubes «preparam propostas». Ó se preparam. Durante semanas não se fala noutra coisa. Eles preparam tão bem, e demoram tanto tempo, que estas propostas podiam ser candidatas ao Nobel da Santa Paciência Que Já Não Posso Ouvir Falar Nelas.

Então, finalmente, só depois deste longo processo é que se contrata. E normalmente mal. Porque afinal o clube não estava muito atento, os jogadores estavam mal referenciados, o jogador que realmente queriam escapou ao clube, as propostas estavam mal preparadas e a contratação não devia ter acontecido.

É basicamente o mesmo que me dizem as minhas ex-namoradas.

Mas o mercado de transferências de inverno é muito isto: grandes oportunidades a custo zero, mas que saem caríssimas, e jogadores com grandes cláusulas de rescisão, mas com baixo nível de talento.

Se eu não soubesse, diria que é o meu vizinho invisual do 2º Esquerdo quem faz as contratações.

«Pulga maldita» é um espaço de escrita criativa de Pedro Sepúlveda, copywritter da TVI, que escreve aqui às quartas-feiras de quinze em quinze dias. Siga o trabalho dele no Facebook