E enfim, Mourinho volta a treinar em Londres.

Surpreendente, não é? Pois, se calhar não. Aliás, não admiraria nada que lá para  2035, enquanto programamos o jantar para as oito através do telemóvel, ainda fôssemos interrompidos com uma notificação do género:

«José Mourinho é o novo treinador do Leyton Orient, da quarta divisão inglesa. Depois de passagens pelo Chelsea, Tottenham, Arsenal, West Ham, Fulham, Brentford, Dulwich e Barnet, o técnico português de 72 anos vai orientar novamente uma equipa londrina.»

Vê-se que ele gosta verdadeiramente da cidade, há ali paixão. E tal como um miúdo que perdeu a namorada que adorava, a Chelsea, ele vai continuar a namorar com todas as miúdas da rua para não perder a magia. Londres é a rua de José Mourinho, o Tottenham a sua nova Chelsea.

O Tottenham é, de resto, um enorme desafio para o treinador português.

O clube inglês tem 137 anos - quase tantos quanto a rainha – mas no plantel não existe nenhum galáctico como Ronaldo ou Pogba, pelo que Mourinho vai ter imensas dificuldades em chatear-se com alguém. Do que se irá alimentar a imprensa? Pior, do que se irá alimentar Mourinho? Não vai ser fácil.

Obviamente e por se tratar de um português, desejo-lhe toda a sorte do mundo. Os ingleses podem ter inventado o futebol, mas o Zé reinventou como se ele joga. No que depender dele, os monárquicos bigodes ingleses irão amochar frente à farfalhuda bigodaça tuga.

O início está a correr bem. Vitória sobre o West Ham e reviravolta na Champions frente ao Olympiakos. No final dos jogos Mourinho disse estar feliz e elogiou as equipas adversárias - o que me deixou bastante desapontado. Onde está o mister que espuma da boca? Não esperava uma desfeita destas. Espero que sejam apenas mind games.

Um desafio interessante para Mourinho é saber se conseguirá ficar muito tempo num clube mitra como o Tottenham: um clube que gasta menos de 500 milhões de euros em reforços não pode ter outro nome.Eu seria incapaz, pois detesto gentalha com vistas pequenas e bolsos fechados. Todos sabem que um jogador que custe menos de 100 milhões não é bem um jogador, é um boneco de matraquilhos, e já gasto. Onde ele se foi meter, coitado.

Mas o maior de todos os desafios será a carreira do Tottenham na Champions. Na época passada o clube chegou à final, com um golo a 10 segundos do término da meia-final.

Mourinho, sendo o Special One e querendo sempre superar os outros, vai tentar vencer a Champions, com um golo a um segundo do fim, marcado pelo guarda-redes, num pontapé de baliza, com o seu pior pé. E no fim vai dizer que foi assim porque ele quis. «As finais não são para jogar, são para ganhar, quando e como eu quiser.» E provavelmente será verdade.

Estamos contigo, Zé!

PS 1: Jesus é Deus no Brasil. Mas para ele isso é peanners.

PS 2: Fernando Santos foi eleito o melhor selecionador do mundo. Por momentos achei que o vi a sorrir, mas não, era só aquele trejeito que ele faz com a boca.

«Pulga maldita» é um espaço de humor de Pedro Sepúlveda, copywritter da TVI, que escreve aqui às quintas-feiras. Siga o trabalho criativo dele no Facebook