Sim, leram bem. O futebol é porco e não mudo a minha opinião. Que, aliás, é extremamente bem fundamentada.

Para mim, nada representa melhor a essência do futebol do que aquela coisa pequenina, feita de borracha, que por mais pontapés que leve jamais se destruirá. O courato.

Quem já foi ao futebol e nunca comeu uma sandes de courato, lamento informá-lo mas não foi ao futebol, foi fazer turismo desportivo. É completamente diferente.

Ir à bola é ir às roulottes e comer couratos, nem que seja só uma vez na vida. É um ritual de passagem, de um estômago saudável para o síndrome do intestino irritável.

Confesso que não compreendo o que leva pessoas adultas a comer o bocado do porco que tem mais semelhanças com o bicho: é gorduroso, tem um cheiro esquisito e pêlos no corpo. Muito parecido comigo quando vou a Paredes de Coura, com a diferença que eu cheiro sensivelmente mais a suíno.

(Paredes de Coura, note-se, é o sítio perfeito para comer couratos – Paredes de Coura, Paredes de Courato. Fica a dica gratuita.)

O carimbo na pele. Porquê? É uma dúvida que tenho até hoje. A bifana não tem. O bife grelhado também não. Porquê no courato? O que significará? Pêlos aprovados para ingestão humana? Porco aprovado para ingestão de humanos? Confidencial, prova de crime, não tocar?

A dúvida dilacera-me.

Segundo a Infopedia, courato é, e passo a citar «Pele espessa e dura do porco, utilizada, por vezes, na alimentação».

Aqui a parte a salientar é o «por vezes». Se um dicionário online, local onde se digere imensa porcaria, sabe que o courato deve ser deglutido com parcimónia, imediatamente constato duas coisas: a Infopedia não vai muito à bola, e o seu sistema gástrico é muito melhor do que o meu.

Como o couro do porco se tornou num alimento futebolístico, não faço a mínima ideia. Nem a mãe porca, nos seus melhores sonhos, alguma vez terá pensado que a pele dos seus meninos viesse a ser um best-seller à porta dos estádios.  

«Bruno Leitão, tu cuida-te que um dia ainda vais ser grande no mundo do futebol. Vai deitar-te naquela caminha de lama que a tua pele precisa de nutrientes e os senhores vão ter fome antes do jogo.»

Por muito que uma mãe queira o melhor para os filhos, duvido ela tivesse visto tão à frente.

Eu, também não tendo dotes de vidente, experimentei cheio de boa-fé.

Era um dia tristonho, nebulado, e logo aí suspeitei que a coisa não ia correr bem. Com um tempo destes só pode vir goleada ou dores intestinais – pensei cá para mim. Mas tudo bem, arrisquei.

Bem dito e bem feito.

A primeira dentada foi um misto de medo e excitação, seguida de pânico e frustração, terminada com choro e gritos pela minha mãe. Não foi bonito de se ver num homem de 25 anos. 

Felizmente, onde há couratos há minis, e não há nada que cinco minis seguidas não resolvam.

Hoje continuo a comer sandes de courato. Porque naquele dia posso ter perdido o orgulho e as papilas gustativas, mas não há motivo nenhum para se desperdiçar boa cerveja.

«Pulga maldita» é um espaço de humor de Pedro Sepúlveda, copywritter da TVI, que escreve aqui às quintas-feiras. Siga o trabalho criativo dele no Facebook