Já aqui disse e repito: sempre sonhei ser jogador de futebol. Só não o fui, obviamente, porque não tenho tatuagens.
Como todos sabemos, para se ser jogador de futebol, é preciso ter a pele igual à de um recluso da Carregueira, ou de um projeto do Vhils. Às vezes, de ambos.
Até o Cristiano Ronaldo, que dizem não ter nenhuma tatuagem, foi o mais esperto de todos: tatuou um six-pack na zona abdominal, e aos 80 anos ainda vai andar a sacar octogenárias à conta dele.
É um facto e não há volta a dar: todos os futebolistas têm tatuagens.
Chego portanto à conclusão, que hoje não sou futebolista, não por falta de talento, mas por falta de tinta.
Mas vamos a casos práticos de tatuagens futebolísticas.
Ninguém duvida que Jesus nos ama, mas os jogadores de futebol amam que Jesus os ame, pois está escarrapachado no corpo de muitos deles. Jesus ama-os no peito, Jesus ama-os no braço, Jesus ama-os nas costelas, aí a um palmo debaixo do sovaco. Se isto não é um grande amor, meus amigos, não sei o que será. Eu, por exemplo, gosto muito da minha namorada, mas não debaixo do sovaco. Sei muito bem os meus limites.
É também durante um jogo de futebol, que ficamos a perceber que ninguém gosta tanto dos filhos como os jogadores da bola. É enternecedor ver os pequenotes tatuados no corpo dos craques, a sorrir alegremente entre caveiras que deitam fogo pela boca, e raios pelos olhos. Um pai que nunca tenha pensado fazer isto, para mim perdia já a custódia, o desnaturado.
Outro grande clássico são as citações em caracteres japoneses. É sempre lindo imaginar, que na pele daquele jogador está escrita uma grande mensagem como «Não ao racismo no desporto», mas é ainda mais bonito imaginar que o tatuador era um brincalhão e escreveu «Aluga-se T2 na Reboleira». Nunca saberemos se não formos japoneses.
Há tatuagens para todos os gostos nos jogadores de futebol. Muitas têm, também, o propósito de intimidar os adversários. Um jogador com uma cobra tatuada no braço, digamos, intimida porque tem uma cobra tatuada no braço, mas intimida ainda mais porque é o dono do T2 na Reboleira e já espancou três inquilinos que se atrasaram na renda.
É por estas e por outras que eu jamais poderia ter sido jogador de futebol; Não tenho tatuagens nem nunca pensei ter. Aliás, a fazer alguma, teria sido um cavalo no ombro, o que nunca intimidaria ninguém. Excepto, claro, quem tivesse medo de cavalos. Ou de ombros.
«Pulga maldita» é um espaço de humor de Pedro Sepúlveda, copywritter da TVI, que escreve aqui às quintas-feiras. Siga o trabalho criativo dele no Facebook