Sabemos que a humanidade não está bem, quando uma das suas formas de exercício físico durante a quarentena é fazer figuras tristes no TikTok e partilhá-las nas redes sociais. É aqui que percebemos que o confinamento está a afetar gravemente a nossa capacidade de decisão, algo que também me atinge. Sim, eu também já fiz TikToks que roçam o patético, mas ao contrário de vocês ainda tive uma réstia de bom-senso que me impediu de publicá-los.

O que, a bem dizer, é uma pena. Lamentavelmente não puderam ver a minha actuação que revolucionou a Macarena, na qual pareço um dançarino com uma lesão na tibiotársica e uivos de uma morsa ferida. Deprimente, sim, mas inovador. De uma só cajadada consegui humilhar várias coisas totalmente distintas, como a dança, a arte de cantar, as morsas e a minha dignidade.

Mas nem só de TikToks se faz o exercício físico durante o isolamento social. Outra forma de exercício também em voga é passearmos os nossos bichinhos na rua, e os cães têm sido grandes aliados para sairmos de casa e exercitarmos o corpo. Já diz o ditado: “Quem tem cão, passeia-o até ele ter as patas em hipertensão”, o que leva os pobres animais - que antes ouviam a palavra «rua» e ficavam histéricos - agora começarem a ganir mal a ouvem.

O Bolinhas aqui do 4º B, atirou-se da janela e há quem diga que foi tentativa de suicídio por abuso de exercício. Por acaso sobreviveu e, sorte dele, ficou manco de duas pernas o que o impossibilita de andar. Deus é grande, o Bolinhas estava exausto.

Já eu, no outro dia, tentei fazer uma sessão de ginástica em videoconferência com umas amigas, mas a bateria do telemóvel acabou passados dez minutos. Felizmente. Não há saúde que valha todo aquele sofrimento, é o que vos digo. Se é para sofrer, prefiro ser espancado por dez mitras a cantarem hip-hop. Magoa muito, mas magoa menos que agachamentos.

Já agora, também não posso deixar de mencionar a ginástica na telescola. Estas aulas de exercício para os miúdos em tempos de confinamento têm, na minha opinião, um enorme mérito educativo: vêm mostrar a todas as crianças que é melhor estudarem, senão um dia ainda acabam a dar aulas de ginástica na telescola.

Estas são algumas das maneiras que os portugueses têm utilizado para se exercitarem, mas no final de contas, o desporto favorito da maioria dos tugas em tempo de quarentena tem sido encher o bandulho.

Todos os dias (e muitas vezes ao dia) é vê-los fazer o percurso sofá-frigorífico-sofá, em grande ritmo, quais maratonistas quenianos, só que gordos. Não serão atletas de alta competição, mas são sem dúvida atletas de alta compleição. Para dar um exemplo, o meu pai começou a quarentena com o peso do Abebe Bikila, 65 quilos, e vai acabá-la com o peso do Ronaldo o Fenómeno, trezentos e qualquer coisa.

Gosto dele na mesma, mas em vez Carlos agora é o Carlão.

E é isto. Agora vou só ali fazer um TikTok. O Despacito vai conhecer todo um novo nível de decadência.

«Pulga maldita» é um espaço de escrita criativa de Pedro Sepúlveda, copywritter da TVI, que escreve aqui às quartas-feiras de quinze em quinze dias. Siga o trabalho dele no Facebook