A conquista do título europeu de sub-21 representa a maior proeza do futebol sueco de seleções, que nunca conquistou qualquer título no escalão sénior - exceção feita aos Jogos Olímpicos de 1948, uma prova integralmente amadora - e nem antes havia conseguido um troféu masculino a este nível etário. Os suecos são o décimo país europeu a entrar neste quadro de honra, na 20ª edição do Europeu da categoria.

Tal como a equipa portuguesa, o grupo orientado por Hakan Ericson beneficiou, na Rep. Checa, de um acelerado processo de integração dos seus jogadores: beneficiando do ciclo de renovação em vigor na seleção principal da Suécia, 12 dos 23 convocados para este Europeu chegaram à República Checa já tendo alinhado pelos AA, o que representa uma taxa de aproveitamento muito superior ao que é habitual nesta fase. 12 era também o número de jogadores suecos a atuar em clubes estrangeiros, mais uma vez um sintoma de experiência acrescida, embora apenas Quaison (Palermo), Thelin (Bordéus) e Guidetti tivessem jogado em campeonatos de primeiro plano.

A título de comparação, Portugal chegou ao Europeu de sub-21 com sete jogadores expatriados (Daniel Fernandes, Ilori, Bernardo Silva, Ricardo Horta, Raphael Guerreiro, João Cancelo e Ivan Cavaleiro), e também já recorreu a mais jogadores deste grupo do que foi hábito em edições anteriores, mas ficou-se por oito internacionais A à partida para a competição (William Carvalho, Paulo Oliveira, João Mário, Raphael Guerreiro, Bernardo Silva, Rafa Silva, Ivan Cavaleiro e Ricardo Horta).

Por outro lado, embora essa seja a tendência nas 20 edições da prova já realizadas, historicamente nem sempre o sucesso de uma geração de sub-21 traz impacto significativo à seleção principal. Em média, dois terços dos jogadores que chegam a esta fase da competição conseguem abrir as portas da seleção principal, mas só um em três se torna presença habitual nas convocatórias da AA.

E nem sempre um sucesso coletivo nos sub-21 representa melhores resultados para a seleção AA. A Jugoslávia, primeira campeã, em 1978, não conseguiu qualquer lugar de honra nos dez anos seguintes, o mesmo acontecendo com a Inglaterra, depois de as suas equipas sub-21 terem sido campeãs em 1982 e 1984. Mais recentemente, a Rep. Checa, campeã em 2002, não logrou projetar as qualidades de Cech, Baros e companhia em lugares relevantes nas grandes competições da década seguinte. E o aproveitamento que a Holanda fez de duas equipas campeãs em anos consecutivos (2006 e 2007) ficou aquém das expectativas, com poucos desses jogadores a desempenharem papel relevante nas equipas que brilharam nos Mundiais 2010 e 2014.

A URSS, campeã sub-21 em 1980 e 1990, e a França, em 1988, ainda alimentaram a seleção principal com vários jogadores provenientes dessas equipas, com destaque para Blanc e Cantona, nos bleus, e para Demianenko e Mostovoi, na transição da URSS para a Rússia. 

Mas as maiores especialistas no aproveitamento dos seus talentos sub-21 tem sido sem dúvida a Itália, o mais frequente vencedor da competição, com cinco títulos. Os italianos, por exemplo - que em 1994 provocaram um amargo de boca à grande geração portuguesa de Figo, Rui Costa e João Pinto na decisão do título de sub-21 - alimentaram o seu sucesso no Mundial 2006, com três gerações campeãs, de Cannavaro a Pirlo, passando por Totti ou Gattuso.

Já a seleção espanhola teve dois títulos (em 1986 e 1998) que não representaram lugares de honra da seleção principal nos anos seguintes. Em anos recentes, as duas conquistas (2011 e 2013) estão na base da atual equipa, herdeira da geração gloriasa de Xavi, Iniesta, Casillas e companhia, mas ainda sem títulos a seu crédito - exceção feita a Juan Mata, campeão europeu sub-21 em 2011 e de seleções principais um ano mais tarde.

De Portugal, já se sabe: ainda não é desta que há um título europeu para festejar, mas a geração comandada por Rui Jorge mostrou opções de qualidade para chegar à equipa A e manter por lá. Um pouco a exemplo do sucedido com a geração vicecampeã em 1994: 11 dos 15 utilizados nesse Europeu chegaram à seleção principal, e sete (Figo, Rui Costa, João Pinto, Jorge Costa, Sá Pinto, Capucho e Abel Xavier) tiveram carreiras consistentes, com presenças nas fases finais dos Euros de 1996, 2000 e/ou 2004.

Fica em aberto saber quantos destes 23 escolhidos por Rui Jorge podem ambicionar o mesmo. Já quanto à equipa campeã, face ao nível exibido na Rep. Checa, parece duvidoso que o grupo de suecos agora consagrado, de Guidetti a Lewicki, passando por Carlgren ou Quaison, tenha potencial individual suficiente para pôr a Suécia entre as grandes potências europeias na era pós-Zlatan.

Se o triunfo, um pouco à imagem do conseguido pela Grécia no Euro-2004, representa o sucesso de um conceito defensivo bem aplicado e de uma solidez competitiva a toda a prova, torna difícil projetar craques de topo nesta sólida geração campeã, que deu a sensação de ter tirado, em Praga, o 20º premiado. Mas nunca fiando.

Quadro de honra do Europeu de sub-21:
Itália (5); Espanha (4); Inglaterra (2); Holanda (2); URSS (2); Suécia, Rep. Checa, França, Alemanha e Jugoslávia (1).

1978
Campeão: Jugoslávia
Jogador do torneio*: Halilhodzic (Jugoslávia)

1980
Campeão: URSS
Jogador do torneio: Demianenko (URSS)

1982
Campeão: Inglaterra
Jogador do torneio: Rudi Völler (Alemanha)

1984
Campeão: Inglaterra
Jogador do torneio: Mark Hateley (Inglaterra)

1986
Campeão: Espanha
Jogador do torneio: Sanchis (Espanha)

1988
Campeão: França
Jogador do torneio: Blanc (França)

1990
Campeão: URSS
Jogador do torneio: Suker (Jugoslávia)

1992
Campeão: Itália
Jogador do torneio: Buso (Itália)

1994
Campeão: Itália
Jogador do torneio: Figo (Portugal)

1996
Campeão: Itália
Jogador do torneio: Cannavaro (Itália)

1998
Campeão: Espanha
Jogador do torneio: Arnau (Espanha)

2000
Campeão: Itália
Jogador do torneio: Pirlo (Itália)

2002
Campeão: Rep. Checa
Jogador do torneio: Cech (Rep. Checa)

2004
Campeão: Itália
Jogador do torneio: Gilardino (Itália)

2006
Campeão: Holanda
Jogador do torneio: Huntelaar (Holanda)

2007
Campeão: Holanda
Jogador do torneio: Drenthe (Holanda)

2009
Campeão: Alemanha
Jogador do torneio: Marcus Berg (Suécia)

2011
Campeão: Espanha
Jogador do torneio: Juan Mata (Espanha)

2013
Campeão: Espanha
Jogador do torneio: Thiago Alcântara (Espanha)

2015
Campeão: Suécia
Jogador do torneio: William Carvalho (Portugal)

* Escolhas oficiais da UEFA