Se compararmos o quadro de medalhas com o da anterior edição dos Jogos, a principal nota de destaque vai, obviamente, para o enfraquecimento da prestação da Rússia, condicionada pelo afastamento – devido a questões relacionadas com o «doping» - dos seus representantes em várias modalidades, com destaque para o atletismo, onde só teve uma participante - Darya Klishina, no salto em comprimento.

Assim, o seu total de medalhas baixou de 77 para 56, com a perda de três medalhas de ouro (de 22 para 19). Quebra semelhante teve a representação chinesa, que baixou de 88 medalhas, em 2012, para 70 quatro anos depois, caindo de segundo para terceiro lugar na tabela ordenada pelo número de campeões, por troca com a Grã-Bretanha. Mesmo em versão condicionada, a Rússia foi a segunda potência europeia, apenas atrás dos britânicos, que somaram 67 medalhas (mais duas do que há quatro anos, embora perdendo dois títulos de campeão olímpico).

Os grandes beneficiados dos enfraquecimentos de russos e chineses foram os norte-americanos, que reforçaram o seu estatuto de primeira potência (121 medalhas, mais 18 do que há 4 anos). Quanto ao Brasil, aproveitou o estatuto organizador para conseguir um novo máximo de medalhas de ouro (sete), acrescentando duas ao total de Londres (com 19, ficou à porta do top-10). A única entrada nova entre os dez países com mais campeões é a do Japão, que ultrapassou a Hungria (10ª em Londres, 12ª no Rio). Ao todo, houve 87 representações olímpicas com medalha – mais duas do que em Londres.

Se nos restringirmos aos 28 países europeus com campeões olímpicos, a nota de destaque vai para a estreia do Kosovo, graças à judoca Majlind Kelmendi, na categoria de -52 kg. Fora da Europa, Singapura, Vietname, Porto Rico, Jordânia e Fiji foram os outros países que festejaram um campeão olímpico pela primeira vez.

Quadro de medalhas nos Jogos do Rio

Portugal abaixo da média europeia

Se, por comparação com as presenças anteriores em Jogos Olímpicos, o desempenho português no Rio está dentro das previsões, já no taco a taco com países europeus de dimensão semelhante, ou até menor, os resultados olímpicos de Portugal permanecem muito aquém da média. Ao todo, dos 50 comités europeus representados nos Jogos do Rio de Janeiro, só 14 saíram sem qualquer medalha.

Com uma medalha de bronze, Portugal fecha o pelotão dos medalhados, a par de Áustria, Estónia e Finlândia, todos países de menor população. Hungria, Suécia, Bélgica, Grécia e Rep. Checa, com população próxima de de Portugal, tiveram desempenhos claramente superiores – e nem todos eles têm um contexto económico mais favorável do que o português.

O tema é recorrente, e discuti-lo de quatro em quatro anos, apenas em função das expectativas de resultados neste ou naquele atleta, é um vício de forma que não muda os dados da questão: os resultados olímpicos são apenas o telhado de um edifício que demora anos a construir e se chama política desportiva.

Passa obrigatoriamente pelo investimento em instalações de alto e médio rendimento, pelo estímulo ao desporto escolar e universitário, pela formação de técnicos e árbitros, pelo envolvimento das populações na prática desportiva, pela projeção mediática das modalidades e pelas parcerias comerciais que esta lhe permite alcançar. Mas o debate em Portugal fica-se quase sempre pela cor das telhas e por consequência temos o telhado olímpico que merecemos.

Países europeus com medalhas olímpicas em 2016

Grã-Bretanha, 67 (27-23-17)

Rússia, 56 (19-18-19)

Alemanha, 42 (17-10-15)

França, 42 (10-18-14)

Itália, 28 (8-12-8)

Holanda, 19 (8-7-4)

Hungria, 15 (8-3-4)

Espanha, 17 (7-4-6)

Croácia, 10 (5-3-2)

Cazaquistão, 17 (3-5-9)

Suíça, 7 (3-2-2)

Grécia, 6 (3-1-2)

Dinamarca, 15 (2-6-7)

Suécia, 11 (2-6-3)

Ucrânia, 11 (2-5-4)

Sérvia, 8 (2-4-2)

Polónia, 11 (2-3-6)

Bélgica, 6 (2-2-2)

Eslováquia, 4 (2-2-0)

Geórgia, 7 (2-1-4)

Azerbaijão, 18 (1-7-10)

Bielorrússia, 9 (1-4-4)

Turquia, 8 (1-3-4)

Arménia, 4 (1-3-0)

Rep. Checa, 10 (1-2-7)

Eslovénia, 4 (1-2-1)

Roménia, 5 (1-1-3)

Kosovo, 1 (1-0-0)

Rep. Irlanda, 2 (0-2-0)

Lituânia, 4 (0-1-3)

Bulgária, 3 (0-1-2)

Noruega, 4 (0-0-4)

Áustria, 1 (0-0-1)

Estónia, 1 (0-0-1)

Finlândia, 1 (0-0-1)

Portugal, 1 (0-0-1)

Sem medalhas: Albânia, Andorra, Bósnia Herzegovina, Chipre, Islândia, Letónia, Liechtenstein, Luxemburgo, Macedónia, Malta, Moldávia, Mónaco, Montenegro e San Marino.