Não há engano. O Maisfutebol analisou o desempenho do meio-campo do F.C. Porto num teste exigente na Liga dos Campeões. Paulo Fonseca alterou a disposição do setor para um 2-1 que transmite segurança mas não chegou para impedir o triunfo do Atlético de Madrid. 1-2, curiosamente.

Defour ao lado de Fernando, Lucho González com liberdade total, quase em linha com Jackson Martínez. O brasileiro deslumbrou com catorze recuperações de bola, o belga fez quarenta e oito passes certeiros, o argentino teve pouca influência no jogo. Não chegou.

Com o dois-mais-um de Paulo Fonseca, o F.C. Porto ganha segurança à frente da defesa, sai para o ataque sem sobressaltos mas depende em demasia da capacidade física e criativa dos flanqueadores. Fernando não arrisca, Defour afasta-se das zonas de decisão, sobra Lucho enquanto há energia.

Uma vez mais, os dragões entusiasmaram na etapa inicial e perderam fulgor na segunda metade. A pressão alta garante um índice de posse de bola significativo, os laterais sentem liberdade para apoiar os extremos, Jackson vai demonstrando frescura para ir a todas, até a perder.

Dois cadeados no setor intermediário

Frente ao Atlético de Madrid, Josué abriu mais uma via para a posse com segurança. Paulo Fonseca queria uma entrada forte e os dois cadeados do meio-campo portista arriscaram. Ao segundo minuto, é Defour a fugir pela esquerda, acabando por fazer falta. Logo depois, Fernando aparece pela direita, tirando um cruzamento. Nem sempre seria assim.

O F.C. Porto pressiona a toda a linha. Sufoca, mesmo. Tal como havia acontecido frente ao V. Guimarães, na primeira meia-hora. Sim, antes da queda abrupta. O adversário não intimidou e a acutilância ofensiva rende frutos: minuto 16, golo de Jackson após livre cobrado por Josué.

Entusiasmo no Estádio do Dragão, um Atlético perturbado, sem capacidade para responder pelo chão e penetrar na área. Com 25 minutos de jogo, o F.C. Porto tem 66 por cento de posse de bola. Segurança, poucos passes errados, bom índice de recuperações. Parece o plano ideal.

Já perto do intervalo, chega o primeiro susto de monta, uma bola na trave em lance de bola parada, por Raul Garcia. Antes, Arda Turan tinha sido o único a colocar os dragões em sentido, aproveitando aquela que será uma falha deste meio-campo azul e branco: distância considerável em relação ao setor defensivo, abrindo espaço à entrada da área.

Responsabilidade para os flancos

O F.C. Porto defende em 4x4x2, com Lucho González a escassos metros de Jackson Martínez. Os extremos sobem e descem de forma ininterrupta, laterais tal e qual, com o natural e consequente desgaste. Algo que se tornaria evidente na etapa complementar.

Defour veste a pele de Moutinho mas tem de ficar em linha com Fernando, sem demonstrar capacidade para aparecer na área contrária, ou lá perto. Torna-se útil na saída de bola, pedindo a mesma a Hélton, libertando os centrais dessa função. Arrisca pouco, logo erra pouco. Como Fernando, um gigante nas recuperações. Precisaria mesmo de ajuda?

Ao intervalo, Diego Simeone troca um David Villa inconsequente por Cristian Rodriguez. Raul Garcia e Gabi soltam-se, dividem funções à frente de Tiago, o F.C. Porto passa a sentir mais dificuldades pelo centro do terreno.

Ainda antes do golo espanhol, Fernando decide subir no terreno. Toca para Jackson, este perde. O problema vem depois. Filipe Luis vem esquerda para o centro e não tem oposição à altura, já que o Polvo estava fora da posição e Defour descaía para o outro lado. Remate muito perigoso, desviado por Otamendi.

Energia não renovável

Ao minuto 56, o Atlético empata. Paulo Fonseca sabe que o apoio a Jackson está limitado, perdeu energia. Sai Josué, entra Licá. Mais tarde, Lucho González regressa aos balneários, dando lugar à imprevisibilidade de Quintero. O jovem colombiano entra, remata de livre a centímetros do poste mas fica-se por aí. Não acrescentou tanto quanto seria de esperar.

A um quarto-de-hora do final, o 2-1 do F.C. Porto apresenta a maior falha no processo defensivo. Os centrais descaem para flanco, acompanhando os avançados do Atlético, Defour fecha os olhos e deixa Raul Garcia fugir. Fernando não estava lá. O espanhol isola-se mas Helton redime-se, negando o golo.

Os dragões não criam grandes lances de perigo. Para além disso, vêm o At. Madrid chegar ao segundo golo em nova bola parada. Desta vez num livre estudado, pelo chão, sem reação da equipa portista. Em fora-de-jogo. 

Corrida contra o tempo. Finalmente, Defour faz algo mais que cumprir e entregar sem risco. Assume, sobe no terreno com a bola, entrega a mesma em zonas mais ofensivas. Fernando fica e chega para as encomendas. Já em desespero, porque o 2-1 não chega, Quintero não aparece e o tempo escasseia, salta Ghilas para o terreno de jogo. Em vão. Os flancos não melhoraram, o chuveirinho não surte efeito. Derrota.

Resumo : o 2-1 no setor intermediário liberta os laterais e Lucho González (esta noite, pouco inspirado), mas afasta Defour da área contrária (zero remates do belga) e aumenta a responsabilidade dos extremos, a atacar e defender, com natural desgaste. Garante segurança e provável domínio na posse de bola, dezenas de passes certos a meio-campo. Nem sempre chega.

Fernando: 41 passes certos, 7 passes errados, 1 remate, 1 cruzamento, 14 recuperações de bola
Defour: 49 passes certos, 6 passes errados, 1 cruzamento, 2 faltas cometidas, 1 falta sofrida, 5 recuperações de bola.
Lucho González: 18 passes certos, 5 passes errados, 2 remates, 1 falta cometida, 1 falta sofrida, 2 recuperações de bola.
Quintero: 5 passes certos, 2 passes errados, 1 remate, 1 cruzamento.