O treinador do Shakhtar Donetsk, Luís Castro, aproveitou a conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Benfica para fazer uma longa reflexão sobre o racismo, isto a propósito dos insultos racistas dirigidos a Marega no Vitória de Guimarães-FC Porto.

O técnico português começou por condenar «veemente» a situação e deixar críticas à maneira como a sociedade desvaloriza estes casos.

«O mundo habituou-se a assobiar para o lado sempre que não quer ver determinadas coisas, ou porque não tem capacidade de as resolver, ou porque não quer resolver, ou porque quer que as pessoas passem de forma impune por ofenderem os outros e ninguém quer saber de nada», começou por dizer.

«Quero enviar um abraço grande ao Marega e dizer-lhe que todos nós no mundo que temos respeito ficamos magoados como se tivesse acontecido connosco. Depois dizer que coro de vergonha sempre que isto acontece porque percebo que a humanidade está muito aquém daquilo que devia ser. Ainda por cima em recintos desportivos, onde as pessoas deviam ir para ter um pouco de prazer e lazer. Já dei por mim a dizer às minhas filhas para não irem a determinado jogo porque é perigoso», prosseguiu.

Luís Castro apontou depois o dedo às entidades governamentais: «Isto jamais pode acontecer e os recintos desportivos são férteis para que isto aconteça: adeptos contra adeptos, adeptos contra dirigentes, dirigentes contra adeptos, adeptos contra treinadores, adeptos da própria casa a ofenderem os próprios treinadores, jogadores a ofenderem jogadores. A falta de respeito existe todos os dias de forma impune, com autoridades ao lado sem nada fazerem. E muitas das vezes com grandes responsáveis do nosso país nas tribunas a olharem e depois saem dali, vão para as suas casas e deitam-se como se nada estivesse a acontecer.»

«Deve corar de vergonha os governos e todos aqueles que não investem na educação e deveriam fazê-lo. São os governos que têm de garantir um bom futuro da humanidade e neste caso do cidadão. E eles não fazem isso, antes pelo contrário: desresponsabilizam-se, a educação muitas vezes não é olhada de forma atenta e queremos um melhor ser-humano sem investir na educação. Isso não existe. Deve ser um motivo de reflexão de todos, porque não é com uma multa e um jogo de castigo que o assunto vai resolver-se», argumentou.

«Há quem pense que é assim, porque não querem perceber o problema, e o que posso dizer é isto: condeno de forma total e todos nós estamos envergonhados com o que aconteceu em Guimarães. E vamos lembrar-nos daqueles que sofrem de forma silenciosa em cada canto deste mundo. Imaginem o que sofrem pessoas que não tem o mediatismo que estas [jogadores de futebol] têm», atirou.