Portugal estará representado na final do Mundial de râguebi. Não, os «Lobos» não estarão em campo, mas há uma referência lusa no relvado do Eden Park de Auckland, domingo de manhã. Morgan Parra, médio de formação pelo «XV de França» e filho de pai português, que vai defrontar a anfitriã Nova Zelândia.

«Portugal é muito importante para mim»

«Vai ser um grande jogo. Começa a haver tensão, stress, muita emoção dentro do grupo», diz Morgan Parra em exclusivo ao Maisfutebol. Os adversário são os «All Blacks», equipa mais temível do mundo, e favorita. «É a mais bela equipa do mundo. Mas não somos nós que temos a pressão. Acreditamos em nós e sabemos que temos hipóteses de vencer», diz Parra.

Com um percurso miraculoso no Mundial (perdeu 19-14 contra Tonga na fase de grupos e acabou por chegar à final), a equipa é criticada por muitos em França. «Estamos habituados. Há um ano que todos nos criticam, diz que somos fracos, que não conseguimos nada. Mas é assim que o grupo se une. Estamos muito coesos», afirma.

Domingo, pelas nove da manhã (hora portuguesa), o polivalente Morgan Parra deverá ser alinhado a abertura. Com o número 10 nas costas, terá a difícil tarefa de chutar as penalidades francesas. Um pé esquerdo dourado, que já colocou a França nesta final, ao marcar os nove pontos da vitória frente ao País de Gales na semana passada (9-8).

Um percurso impressionante, e com apenas 22 anos. A carreira de Morgan Parra faz-se em avanços rápidos. Aos 18 anos e três dias faz o primeiro jogo como profissional. Um ano depois, a primeira internacionalização, frente à Escócia. «Foi monstruoso, um sonho de criança que se realizou», confessa. Aos 21, conduz o Clermont ao primeiro título de campeão após dez (!) finais perdidas, e é consagrado melhor jogador do campeonato.

«Não é mau, este puto... Estar onde ele está aos 22 anos, significa tudo. É grandioso e estou muito orgulhoso dele», diz António Parra, ele próprio ex-jogador de râguebi e treinador do Morgan entre os 12 e 14 anos, quando jogava em Metz, clube do Leste da França. «Ainda hoje o Morgan gosta de saber o que diz o papá», brinca.

Apanha-bolas para o pai

Para António, o gosto pelo râguebi nasceu de forma insólita : «Aos 7 anos, fui castigado na escola. O meu professor deixou-me escolher. Ou era mesmo punido, ou ia descobrir o râguebi. Gostei muito por que nos divertíamos, tínhamos prazer.»

E assim se iniciou uma carreira como médio de formação. «Mas é o Morgan que tem o mesmo posto do que eu, não o contrário», goza o pai António. Com uma mãe que trabalhava à noite e aos fins-de-semana, o pequeno Morgan, então com 6 anos, acompanhava o pai durante os jogos. «Eu gostava muito. Ficava à beira do terreno a vê-lo jogar», recorda Morgan.

E quando o pai jogava fora Morgan também acompanhava o ídolo na camioneta dos jogadores do Rugby Club de Metz. «Sempre cresceu neste ambiente», explica António Parra. «Às vezes, íamos a um parque à beira de casa. Eu treinava a chutar e era o Morgan que fazia de apanha-bolas.»

«Gosta de mandar nos gordos »

«Desde os 8-9 anos» que Morgan Parra quis ser jogador de râguebi. «A força dele é o seu grande carácter. Quando quer uma coisa, faz tudo para consegui-la», afirma António Parra, lembrando o Alquimista de Paulo Coelho. De facto, com Parra em campo, há uma alquimia que se instala entre o pack da frente e os que jogam atrás. Morgan Parra, na formação, «gosta de mandar nos gordos», explica o pai.

A primeira final da história do Mundial foi em 1987. Já era um Nova-Zelândia-França, na terra dos «Kiwis». Morgan ainda não tinha nascido. 24 anos mais tarde, ele «quer escrever a História do râguebi francês». E talvez, um bocadinho, do português também.