Domingo, 25 de Janeiro de 2009, Estádio do Bessa. Dia histórico para o futebol distrital: mais de quatro mil pessoas assistiram ao frio e à chuva ao derby entre o Ramaldense e o Salgueiros 08, dois dos emblemas mais populares da cidade do Porto.

Bancadas axadrezadas pinceladas de verde e vermelho, cânticos de fé, apoio de corações vibrantes e nostálgicos. Por um dia, duas equipas da 2ª divisão da A.F. Porto saborearam a textura do futebol profissional. Numa procissão de fé sem precedentes numa partida deste nível competitivo, falou mais alto a paixão. E o grande vencedor da tarde foi o desporto-rei.

O resultado final acaba por ser o que menos interessa. De qualquer forma, nunca é de mais sublinhar a qualidade dos pupilos à ordem de Pedro Reis. O velho Salgueiral goleou o Ramaldense por 0-5 e subiu ao terceiro lugar da classificação, atrás do Atl. Rio Tinto e do Vilar Pinheiro.

Os de Ramalde, por outro lado, continuam na cauda da tabela. Mas que importa isso? Durante 90 minutos, todos os seus elementos vivenciaram sensações que nunca antes ousariam sonhar.

O peso da Alma

Se cada alma pesar «21 gramas», como estipula o realizador Alejandro González-Iñárritu no seu filme de 2003, a Alma Salgueirista esmaga qualquer observador atento. Mesmo depois de dois anos de hibernação da equipa de futebol sénior, a fidelidade dos seguidores do Salgueiros espanta.

98 anos de História, 24 presenças na primeira divisão nacional, uma ida à Taça UEFA em 1991/92 sustentam todo o fervor entre o clube e a massa adepta. E nem mesmo os momentos negros dos últimos anos conseguiram atirar para o baú do esquecimento o terceiro maior clube da cidade do Porto.

«Vamos com o Salgueiros para todo o lado», atiraram ao Maisfutebol Júlio Silva e António Costa, dois dos adeptos presentes nas bancadas do Bessa. Já Pedro Reis, antigo jogador do clube e actual técnico, considera haver ainda «um longo caminho a percorrer» até a agremiação de Paranhos retomar o lugar que lhe pertence «por direito próprio» no futebol português.

Um campo que estrangula o futuro

Fundado a 5 de Abril de 1922, o Ramaldense recolhe a simpatia de grande parte dos portuenses que habitam as freguesias de Aldoar e de Ramalde. 12 títulos regionais sugerem uma dimensão interessante do velho clube tricolor, nomeadamente até meados da década de 80.

Mas o Campo Alberto Araujo, casa do Ramaldense, foi engolido pelo boom imobiliário das zonas circundantes e o clube ficou restrito a um espaço que não é minimamente compatível com a sua grandeza.

E enquanto a situação não for desbloqueada, o emblema que mostrou ao futebol português Humberto Coelho, por exemplo, estará condenado a competir e a sobreviver nos mais baixos escalões do futebol regional.

«A autarquia não dá o apoio que merecíamos», lamenta Pedro Mateus, Secretário da Mesa da Assembleia Geral do Ramaldense e adepto apaixonado. «Temos 200 jovens nos escalões de formação e só podemos crescer e ter mais qualidade quando tivermos um relvado», completou.

Pedro Chousal, treinador principal, lamentou a derrota pesada diante do Salgueiros mas salientou «o dia especial» vivido por todos. «Nas últimas duas semanas, desde que soubemos qual o palco para o jogo de hoje, os nossos níveis de motivação aumentaram bastante.»

Ficha de jogo:

Estádio do Bessa, no Porto, com cerca de 4500 espectadores

Árbitro: Ana Sofia (AF Porto)

RAMALDENSE: Carvalhais; Lino, Teixeira, Guimarães, Nandinho, Borges, Tó, João Pinto, Pedro, Derlei e Ricardo.

Suplentes: Meireles, Ivan, Sérgio, Osvaldo e Nuno.

Treinador: Pedro Chousal.

SALGUEIROS 08: Igor, Passos, Renato, Figueiredo, Rocha, Monteiro, Ruben, Rui Lima, Heitor, Fernando Almeida e Carminé.

Suplentes: Miguel, Almeida, Mário, Telmo, Carvalho, Alex e Pedro Teixeira.

Treinador: Pedro Reis.