Poucas horas antes de entrar em campo no Signal-Iduna Park e decidir o Dortmund-Arsenal a favor dos «gunners», Aaron Ramsey recebeu a notícia habitual: a de que tinha acabado de ser designado melhor jogador do mês pelos adeptos do seu clube, pela quarta eleição consecutiva. Uma unanimidade surpreendente, numa altura em que o sensacional início de temporada dos «gunners» se traduz em várias referências elogiosas a Özil, Giroud ou Wilshere.

Mas mesmo sem a cabeçada que bateu Weidenfeller e deixou o Arsenal no comando do grupo F, os números já ajudavam a perceber que o médio galês atingiu, aos 22 anos, um patamar inédito na sua carreira: o golo de Dortmund foi o 13º em três meses e 21 jogos oficiais (11 em 17 pelo clube, 2 em 4 pela seleção galesa), um total idêntico ao de todas as temporadas anteriores ao serviço dos «gunners»... somadas.

A capacidade goleadora de Ramsey, que joga habitualmente atrás do quarteto ofensivo do Arsenal (Wenger costuma optar pelo 4x2x3x1, com o galês a formar dupla com Arteta ou Flamini) tem sido uma surpresa para o próprio treinador: «Não esperava que ele marcasse tantos golos, mas a verdade é que ele também melhorou na qualidade de passe e em pormenores técnicos. Sempre teve boa aproximação à área, mas os golos acontecem por ciclos. Não sei se há médio melhor do que ele em toda a Europa, por agora. Mas, para mim, o mais importante é que continue a jogar a este nível, mesmo que deixe de marcar», afirmou Wenger em setembro, depois de o médio galês ter marcado na vitória dos «gunners» sobre o Swansea.

Ramsey não parece disposto a fazer-lhe a vontade: desde esse jogo, não se limitou a manter o nível altíssimo, mas reforçou o surpreendente estatuto de melhor marcador da equipa com mais três golos, dois deles nos últimos jogos de alta voltagem, com o Liverpool e o Dortmund. E, com essa abundância, parece ter virado a página sobre uma anedota que fez a delícia dos tablóides e pontuou a sua carreira nos últimos anos: entre 2011 e 2012, os raros golos de Ramsey pareciam anteceder a morte de alguma celebridade. Foi assim em maio de 2011, quando marcou um dia antes da morte de Bin Laden, voltou a acontecer por duas vezes em outubro desse ano, quando tentos seus antecederam o desaparecimento de Steve Jobs (a 5), e Muhammar Khaddafi (dia 20). Quando Ramsey marcou ao Sunderland, a 11 de fevereiro de 2012, já havia títulos a perguntar quem se seguia na lista, e Whitney Houston resolveu o mistério algumas horas mais tarde.

Coincidência ou não, Ramsey passou os meses seguintes num jejum goleador (as celebridades, essas, continuaram a morrer de vez em quando) e numa forma irregular, que parecia deixar em aberto o seu futuro como jogador de primeiro plano. Afinal, o verão de 2013 marca uma viragem na carreira do médio de Caerphilly, que aos 18 anos trocou Cardiff pelo Arsenal, e que em 2010 chegou a ter a carreira em risco, devido a uma fratura que o deixou nove meses longe dos relvados. A exemplo do Arsenal mais convicente do últimos 10 anos, Ramsey está aí, na sombra de Özil e companhia, Melhor do que alguma vez foi, a resolver jogos como nunca tinha resolvido, por esta altura parece no mínimo duvidoso que o melhor galês da atualidade se chame Gareth Bale.