Portugal caiu do sexto lugar do Ranking UEFA e vai ter apenas duas vagas para a Liga dos Campeões 2024/25, para além de ter apenas cinco equipas nas provas europeias em vez das seis. O treinador do FC Porto, Sérgio Conceição, disse nesta sexta-feira, um dia depois da confirmação da ultrapassagem da Eredivisie à I Liga, que o clube azul e branco tem feito a sua parte.

Não é surpresa nenhuma que o líder portista o diga, nem seria preciso um olhar aprofundado para o saber. O FC Porto é, de facto, um dos principais responsáveis para o Ranking UEFA e tem, consoante as épocas, alternado o papel de principal fornecedor de pontos com o Benfica.

Águias e dragões são, sem dúvida, os dois clubes que mais contribuem para a posição portuguesa na UEFA e, neste momento, são responsáveis por quase 60 por cento dos pontos de Portugal, como se percebe quando se disseca os números. Quanto ao caso dos Países Baixos, sem olhar a questões de qualidade futebolística das equipas ou de competitividade em relação à I Liga, a situação é em tudo…semelhante.

Qual é a contribuição exata de Benfica, FC Porto, Sporting e Sp. Braga?

A I Liga tem quatro representantes crónicos na Europa. Todos os conhecem: Benfica, FC Porto, Sporting e Sp. Braga estão constantemente nas provas da UEFA. No período que o Ranking compreende, ou seja, as últimas cinco épocas (a atual incluída), só estes quatro emblemas estiveram sempre nas competições europeias.

De resto, nestas cinco épocas apenas dois emblemas conseguiram repetir uma presença europeia: o Vitória de Guimarães com participação em 2019/20 e 2022/23; o Rio Ave em 2018/19 e 20201. Paços de Ferreira, Santa Clara e Gil Vicente estiveram uma vez cada.

Assim, aqueles quatro maiores emblemas representam quase a totalidade dos pontos do ranking português: 91,95 por cento, para ser mais exato.

Neste momento, e quando ainda faltam disputar as segundas mãos dos quartos de final da Liga dos Campeões e da Liga Europa, a contribuição é a seguinte, sendo que as duas últimas épocas dividem por seis e as três primeiras por cinco:

Refira-se que no período compreendido, ou seja, desde 2018/19 até 2022/23, só por uma vez não houve uma equipa portuguesa a fazer pelo menos 20 pontos numa temporada. Ironicamente, em 2019/20, quando o Vitória fez 9,5, naquela que é a melhor contribuição de um quinto clube nestes cinco anos.

E na Holanda, perdão, Países Baixos como são as coisas?

O cenário dos Países Baixos não é muito diferente do português. Há também quatro clubes que são os principais contribuintes para o Ranking UEFA da Eredivisie e a percentagem desses quatro na totalidade é ainda maior do que a de Benfica, FC Porto, Sporting e Sp. Braga (91,95).

 Ajax, PSV, AZ Alkmaar e Feyenoord são os quatro grandes da Eredivisie e os únicos que estiveram sempre nas provas europeias nos últimos cinco anos (tal como os quatro de Portugal, lembra-se?). Juntos representam 93,08 do ranking neerlandês.

No período compreendido, ou seja, entre 2018/19 e 2022/23, o melhor contributo que um quinto clube dos Países Baixos fez foi o Vitesse, em 2021/22, com 14. Diga-se que a equipa de Arnhem é a única fora daqueles quatro que repete presença nos cinco anos: 2018/19 e 2021/22.

Portugal vs Países Baixos: quem fez mais pontos, afinal e onde esteve o problema?

Perante um cenário tão idêntico nos números, falta abordar uma questão pertinente. Nestes cinco anos, quem fez mais pontos, Portugal ou Países Baixos? A resposta é clara: a I Liga, veja-se pelo prisma que se quiser.

No total, Portugal fez 304,5 pontos e os Países Baixos 296,5. É justo questionar: mas a I Liga tinha seis equipas e a Eredivisie cinco. Verdade, mas se contarmos as cinco melhores equipas de cada, Portugal continua por cima, ainda que por uma margem mínima: 292 vs 291,5. De resto, o quarteto português Benfica, FC Porto, Sporting e Sp. Braga também pontuou mais do que Ajax, PSV. Feyenoord e AZ Alkmaar: 280 vs 270.

Se Portugal fez mais pontos em cinco anos do que os Países Baixos, onde esteve então o problema? Na fórmula: a I Liga teve de dividi-los por seis, a Eredivisie por cinco.

Caso Portugal fizesse uma divisão por cinco como os holandeses, a I Liga (ainda) estaria à frente da Eredivisie com um coeficiente de 60,9 (os pontos somados divididos por cinco) vs 59,3 que os neerlandeses somam.

Mais, se dividisse por cinco, Portugal estaria muito perto da França, até: a Ligue 1 tem neste momento 61,16 de coeficiente.

O caso francês vs Portugal e Países e Baixos... que ainda podem ser quintos!

É bom trazer a França à conversa, porque há vários anos que está estabelecida no quinto posto europeu. Quando se faz a mesma análise à Ligue 1, um dado salta logo à vista: tal como o Ajax, o PSG contribui como ninguém. A equipa de Paris é responsável por 30 por cento do ranking gaulês. Mais interessante é de ver que, além do milionário clube da capital, apenas outro clube esteve presente em todas as cinco épocas de contribuição para o ranking. Quem? O Rennes, ou Stade Rennais, se preferir.

O ranking atual

Nesse aspeto, os gauleses têm um cenário muito diferente do português e neerlandês, mas não respiram melhor necessariamente. Neste momento, vivem muito do que conseguiram na temporada passada, mas nem assim estão a salvo de perder já esta época o quinto lugar!

Como se disse, se Portugal dividisse os pontos por cinco estaria bem em cima da França, mas isso leva-nos para aquela famosa analogia de Paulo Bento no Sporting: «Se a minha avó tivesse rodas, seria um camião».

Portugal não divide pontos por cinco, mas os Países Baixos sim. Por isso mesmo, ainda têm hipóteses (e são bem reais) de ultrapassar a França e, imagine-se, chegar a 2024/25 com acesso direto de três equipas à fase de grupos da Champions League e uma na qualificação!

Mais! Se AZ Alkmaar ou Feyenoord fizerem igual ao Nice (a única equipa francesa em prova), os Países Baixos vão começar a próxima época à frente da França (isto explica-se porque a temporada 2018/19 desaparece das contas).

Portugal partirá de sétimo com alguma distância, mas se colocar olhos no que os neerlandeses fizeram poderá não só começar a encurtar essa diferença como sonhar mais alto do que o sexto posto, beneficiando também da fórmula de divisão por cinco e, para muitos, de um trabalho conjunto dentro da Liga Portugal.

O ranking no início do próximo ano (à data de hoje)