* Enviado-Especial a Madrid

Tal como o bacalhau, o pastel de nata ou mesmo o fado, o contra-ataque é uma especialidade portuguesa. E que anda a ser exportada com sucesso, diga-se, como se comprovou nos jogos da primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões.

José Mourinho foi fiel a esta especialidade na visita ao Vicente Calderón, embora sem conseguir que o Chelsea marcasse um golo ao Atlético de Madrid, no que seria o desfecho perfeito para o plano traçado. Já o Real Madrid, nesta quarta-feira, tirou proveito da tal especialidade para colocar-se em vantagem na eliminatória com o Bayern, uma «besta negra» para a equipa «merengue», que em cinco duelos com os alemães nas meias-finais da principal prova europeia de clubes só passou uma vez.

Pepe, Fábio Coentrão e Cristiano Ronaldo, este último de regresso à competição, tiveram participação fundamental no único golo do encontro, apontado por Benzema aos 19 minutos. Pep Guardiola mostrou que continua a ter a capacidade de colocar o Real Madrid a jogar em contra-ataque na sua própria casa, mesmo que agora a sua equipa seja o Bayern e não o Barcelona, mas desta vez saiu derrotado do Bernabéu, algo que nunca tinha acontecido de «blaugrana».

A conquista bem antecipada do título alemão parece estar ainda a pesar na equipa do Bayern, que voltou a mostrar pouca dinâmica para o futebol apoiado que pratica e para a postura contida que os adversários adotam inevitavelmente. Mas ainda com noventa minutos (pelo menos) pela frente, em Munique, a equipa alemã pode ainda recuperar a intensidade competitiva perdida nas comemorações.

Dispensa-se a bola, apela-se ao pragmatismo

Depois de ter passado os primeiros quinze minutos a ver o Bayern trocar a bola, com dois remates à baliza de Casillas pelo meio, o Real chegou ao golo no primeiro lance de ataque. Contra-ataque, reforce-se, comandado por portugueses. O remate promissor de Kroos bateu no corpo de Pepe e mais à frente Ronaldo lançou Coentrão em velocidade pela esquerda, com o lateral português a cruzar rasteiro para a conclusão fácil de Benzema.

O Bayern acusou o golo, mas ainda assim chegou ao intervalo com 74 por cento de posse de bola, um registo dentro do currículo de Guardiola. Mas a verdade é que se o Real fosse para o intervalo a vencer por 3-0 não seria grande surpresa, tendo em conta as oportunidades claras que criou.

Aos 27 minutos a equipa «merengue» voltou a explorar o espaço nas costas de Rafinha, onde apareceu Benzema a cruzar para o remate por cima de Ronaldo, um lance tirado quase a papel químico do golo.

E foi também da esquerda que Isco cruzou a quatro minutos do descanso, com Di María a dominar a bola ao segundo poste mas depois a atirar por cima, só com Neuer pela frente.

Bayern a uma só velocidade

O domínio territorial do Bayern revelou-se infrutífero. No primeiro tempo teve apenas duas ocasiões claras: um remate de Robben que saiu ligeiramente ao lado, depois de um desvio, e u lance em que Lahm aparece pelo lado direito da área e mete a bola por baixo do corpo de Casillas, mas com destino à malha lateral.

E no segundo tempo, quando se julgava que o Bayern ia ser mais intenso ofensivamente, a realidade é que o Real até acabou por conseguir afastar-se um pouco mais da baliza de Casillas.

A equipa da casa parecia sempre mais perigosa, mais pragmática, com Ronaldo a testar duas vezes a atenção de Neuer, antes de ser substituído por Bale. Pelo meio Toni Kroos atirou por cima, na sequência de um livre, mas foi já depois da saída por lesão de Pepe, o melhor em campo, que o Bayern criou as melhores ocasiões. Sobretudo o remate do suplente Götze, a seis minutos do fim, que por fim obrigou Casillas a uma defesa apertada, despertando o Bernabéu para as habituais vênias ao guarda-redes.

E refira-se ainda um lance no período de descontos em que Xabi Alonso corta a bola quando Müller parecia ter tudo para empatar o jogo, mas aqui Casillas nem chegou a ser incomodado.

O Real garantiu assim uma vitória justa, e com fulcral contributo português, uma vez mais, colocou-se mais perto de Lisboa.