Gianluigi Buffon voltou a escrever o seu nome nos livros de história do futebol. Não bastasse todas as outras vezes em que esta autêntica lenda das balizas ainda em atividade se destacou, ainda encontrou forças para, aos 38 anos, bater o recorde de invencibilidade da Liga italiana.

A ameaça pairava, naturalmente, desde que os números começaram a avolumar-se e a data ficou marcada após o último jogo a zeros, na receção ao Sassuolo. Era no dérbi com o Torino que Buffon teria de aguentar quatro minutos, no mínimo, sem sofrer para bater a anterior marca. Essa datava de 1994, altura em que Sebastian Rossi, do Milan, tinha estado 929 minutos sem sofrer qualquer golo.

Buffon colocou a fasquia mais à frente, nos 973 minutos, sofrendo depois o golo de honra do Torino na goleada de 4-1 da Juventus. Capítulo encerrado, portanto.

Todos os resultados da Juventus esta temporada

Para o italiano, que não perdeu tempo em partilhar o mérito com o resto da equipa, é mais um marco, numa carreira longa e riquíssima, com títulos nacionais e internacionais, não só nos clubes como também na seleção italiana, que ajudou a levar ao título Mundial em 2006. Aliás, nesse torneio Buffon bateu outro recorde: o único guarda-redes campeão do mundo sem sofrer qualquer golo de bola corrida ao longo do torneio. Apenas encaixou dois: um autogolo após livre e uma grande penalidade.

Bem antes disso, já Buffon ostentava um máximo que envolve números diferentes dos que se disputam em campo. Em 2001, quando trocou o Parma pela Juventus, tornou-se o guarda-redes mais caro do mundo, recorde que vigora até hoje. A vechia signora pagou 40 milhões de euros. Quase o dobro do segundo mais caro de sempre, que é Manuel Neuer, que custou 24 milhões ao Bayern Munique, quando deixou o Schalke 04.

Mas voltando aos recordes de imbatibilidade, a marca de Buffon é absoluta em Itália, mas fica aquém em quase todos os principais campeonatos europeus.

Comecemos por Espanha. É de Abel Resino a melhor série de sempre sem sofrer golos em jogos da Liga local. Na época 1990/91, o guardião do Atlético Madrid, treinado pelo malogrado Tomislav Ivic, aguentou a sua baliza em branco ao longo de uns incríveis 1275 minutos. Esteve sem sofrer golos entre a jornada 12 e a jornada 26 dessa época, até que, num jogo com o Sp. Gijón, teve de ir buscar uma bola ao fundo da baliza. Marcou um jovem que prometia muito…Luís Enrique. Esse mesmo.

Na Premier League, o recorde é mais recente. Não tem, sequer, dez anos. Na temporada 2008/09, Edwin Van der Sar aguentou em branco a baliza do Manchester United ao longo de 1311 minutos, num registo que passou por dois anos civis. Começou a 8 de novembro de 2008 e terminou a 4 de março de 2009.

Nessa época, o holandês igualou, também, o recorde maior número de jogos sem sofrer golos numa temporada, que pertencia a Petr Cech (Chelsea, 2004/05). Ambos conseguiram acabar a época sem sofrer golos em 21 partidas.

Se o recorde de Van der Sar passou por dois anos civis, na Alemanha Timo Hildebrand é o recordista de minutos sem sofrer golos, num registo que começou numa temporada desportiva e acabou na outra.

Na 33ª jornada da Liga 2002/03, o antigo guarda-redes do Sporting, então ao serviço do Estugarda, iniciou uma série que só iria terminar na 9ª ronda da temporada seguinte. Feitas as contas esteve 884 minutos sem sofrer golos.

Melhor fez Gaetan Huard, em França. É dele o máximo na Liga gaulesa, com 1176 minutos. Data da época 1992/93, quando Huard defendia a baliza do Bordéus então com talentos promissores como um tal de Zinedine Zidane, entre outros.

E em Portugal? Por cá, na Liga principal, o recorde é de Vítor Baía. O guardião esteve 1191 minutos sem sofrer golos, ao serviço do FC Porto. Aliás, uns anos mais tarde, voltou a passar a barreira dos 1000 minutos, mas sem chegar à marca anterior.

A 15 de setembro de 1991, então, arrancou o registo, num jogo com o Marítimo, em que sofreu logo no primeiro minuto. Aos 89 que se seguiram juntou-lhe mais 12 embates completos e ainda algum tempo no jogo de 5 de janeiro de 1992, frente ao V. Guimarães, altura em que voltou a sofrer. Foi Paulo Bento, futuro colega de seleção, a acabar com o recorde, através de uma grande penalidade.

Ainda assim, este não é o recorde absoluto em Portugal. No ano passado, João Botelho, do Operário, chegou aos 1221 minutos sem sofrer golos, mas no Campeonato de Portugal e não na Liga principal.

Nenhum dos registos que apresentamos é suficiente, contudo, para ser recorde mundial e nem sequer continental!

O máximo europeu vem da Liga da Bélgica. Danny Verlinden esteve 1390 minutos sem sofrer golos ao serviço do Club Brugges, entre 3 de março de 1990 e 26 de setembro do mesmo ano. Não foi à toa que ganhou a alcunha de «De Muur», que quer dizer, «O Muro».

Mas e o que dizer, então, de Mazarópi? Alcunha de Geraldo Pereira de Matos Filho, este guardião brasileiro, que nunca foi internacional, tem o recorde mundial de mais tempo sem sofrer golos. Estabeleceu-o ao serviço do Vasco da Gama de 18 de maio de 1977 a 7 de setembro de 1978. Foram mais de 20 jogos sem sofrer e um total que continua sem rival e até já foi reconhecido pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol: 1816 minutos!